Em minhas viagens, sejam a trabalho ou de férias tem uma coisa que nunca muda. O brilho que vejo nos olhos das pessoas quando falo que sou do Amazonas.
Você saberia me responder rapidamente onde posso encontrar um CD do carrapicho? Eu te digo. Em qualquer loja de música de Paris. Ahh, mas estamos em Manaus. Bom, com muito garimpo talvez você encontre no centro. É um tapa na nossa cara. Precisamos que franceses dissessem ao mundo o quão talentosa era a banda, pra que nos déssemos ao trabalho de ouvi-la. A nossa banda. Gente que como eu você come tapioca na Eduardo Ribeiro.
Peço-lhes a licença de comparar, não as obras e estilos, pois são em tudo distintos, mas a popularidade. Tenho certeza que a maioria dos manauaras sabe quem é Paulo Coelho. Autor brasileiro de grande sucesso. Mas infelizmente poucos de nós sabem quem é Milton Hatoum. Amazonense vencedor de dois prêmios jabutis, o maior prêmio da literatura brasileira. Milton encantou o mundo com Cinzas do norte, uma obra que começava na bacia do São Raimundo e ia desembocar em vila Amazônia, no interior de Parintins.
Quem viveu o tempo áureo do futebol amazonense, conhece Berg. Ninimberg Guerra, atacante inspirado, da época do futebol arte. Recebeu a justa homenagem de ter um ginásio com seu nome no bairro de São Jorge, mas infelizmente, lá, ao invés de vermos Berg com a camisa do seu time, da sua terra, do time para o qual ele torcia e sua família torce, do clube que tanto freqüentaram… Encontramos Berg com uma camisa de um time do Rio de Janeiro.
Longe de mim depreciar os grandes artistas mundiais que aqui vou citar, e frontalmente comparar com os nossos, lhes dou o valor devido sim. Agora, me pergunto se Pavarotti manteria sua técnica e afinação por 3 horas pulando no meio de uma arena com uma sensação térmica beirando os 35º. David Assayag faz isso brincando.
Feliz daquele que ouviu Elis Regina cantando… Mais feliz ainda aquele que ouviu Márcia Siqueira. “Caboquinha” da pele de urucu e do cabelo cor de rio à meia noite.
Me afeta o raciocínio ouvir um amazonense dizer que não gosta do festival de Parintins. Aqui no Amazonas, há até quem concorde. Dizer isso fora do Amazonas é pedir pra ser ridicularizado. Podemos chamar de nosso, o ÚNICO festival folclórico do planeta comparado ao festival da China. Mas com a diferença que os chineses levaram alguns milênios pra chegar onde chegaram, e nosso festival, da inspiração de Lindolfo e Roque Cid a hoje, tem apenas um século.
Em qualquer lugar do planeta, na comparação entre o local e o alienígena, o local sai com 1 x 0, justamente por ser local. Aqui no Amazonas, quando muito sai no 0 x 0. E na maioria dos casos, partimos perdendo de 2 x 0, simplesmente por sermos locais. Vamos acordar meu povo. O mundo nos cobiça. A marca mais famosa do planeta é a coca cola, a segunda é a Amazônia. E curiosamente, a primeira marca, a coca cola, paga, e paga alto, pra aparecer com exclusividade, na maior festa da segunda marca, o Boi de Parintins.
O mundo reverencia com toda justiça Pablo Neruda, e o mundo, salvo Manaus, reverencia Thiago de Melo, o “estatuinte do homem”.
Entendo que deveria ser ensinada nas escolas, a canção que mais lindamente falou de nossa terra, Amazonas, de Chico da Silva. O poeta que o mundo já ouviu. Outro caboquinho das barrancas do Amazonas, que merece tapete vermelho.
Pra onde eu olho nesta terra eu vejo talento. Pra onde o mundo olha nesta terra, ele vê encantamento. Eu tento, tento, tento e não consigo encontrar qualquer motivo plausível pra um Léo Magalhães lotar um sambódromo, e Berg Guerra só lotar o municipal. Eu tento encontrar um motivo pra alguém chamar um time amazonense de amador por ele ter uma dívida de alguns milhares de reais, e “se rasgar” por um time do outro lado do país que deve centenas de milhões. Nos dois pesos e duas medidas, pro amazonense o Amazonas vale menos. Isso vai mudar. Chico Buarque já cantou o Amazonas. Niemeyer lamentava não ter uma obra no Amazonas. Meu deus que lugar é esse em que vivemos, onde buscam os poetas inspiração? O Amazonas somos nós, amigos. Preferir a nossa terra, é preferir a nós mesmo. Amar o Amazonas é amar isso aqui. Amar o Amazonas é amar o que é daqui.