Brasil às escuras, mais uma vez. Um curto-circuito em linhas de transmissão no Tocantins teria sido a causa do novo apagão que deixou cerca de seis milhões de pessoas sem luz em 11 estados brasileiros na terça-feira (4). A quatro meses do início da Copa do Mundo no Brasil, o país enfrentou as consequências do 10º apagão de grande magnitude do governo Dilma.
Na região Sul, o apagão teve início três minutos após ser registrado um recorde de carga de energia demandada, conforme reportagem do G1. A informação consta no relatório preliminar diário divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Desde janeiro de 2011 até o dia 4 de fevereiro deste ano, foram registrados 181 apagões no país, considerando todas as falhas de energia, independentemente do tamanho da área afetada, do período ou da carga interrompida, segundo um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
Classificado pelo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, como um episódio de “médio porte”, o blecaute da última terça-feira (04/02) comprometeu cerca de 8% da carga elétrica no Sul e Sudeste, regiões mais afetadas. Ironicamente, o apagão se deu um dia após o ministro Edison Lobão ter afirmado que o governo não previa “nenhum risco de desabastecimento de energia”.
Para o físico José Goldemberg, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) durante o governo Franco Montoro (1983-1986), a gestão petista adiou as reformas necessárias no setor.
“A partir de 2001, no fim do governo FHC, ficou evidente que seria preciso expandir o sistema de geração hidroelétrica e ampliar nossos reservatórios. O governo Lula então, ao invés de resolver os problemas de hidrelétricas e reservatórios, não fez nada. Optou por ampliar a geração térmica usando o gás natural para complementar”, disse.
E acrescentou:“O que acontece é que o gás é muito caro, de modo que custa três ou quatro vezes mais. E é isso que tem salvado o Brasil, desde 2002, de novos apagões. Mas nosso sistema está no limite, sobrecarregado. Estamos usando toda a água e termoelétricas que existem. É como guiar um automóvel a 120 quilômetros por hora em uma estrada. Os problemas aparecem, já que manutenção e investimentos não foram feitos”.
Infraestrutura
O especialista salientou que o país vive atualmente uma situação que se equipara, sobretudo nos inconvenientes, ao que ocorria em 2001, com a diferença de que hoje o Brasil não tem mais capacidade de mobilizar novas formas de geração de energia.
“O governo federal fez um enorme esforço para aumentar o consumo energético, por meio da redução do IPI sobre produtos da linha branca. Só que esse processo tinha que ser acompanhado de obras de infraestrutura, que são um problema fundamental. A ênfase foi dada no lugar errado”, destacou.
Segundo Goldemberg, a salvação para os constantes apagões elétricos do país está nas fontes de energia renovável:
“Em primeiro lugar, ampliar as hidrelétricas e reservatórios, incentivar a produção de energia eólica no Norte e Nordeste, resolver as interligações em usinas que já estão funcionando e, no Sudeste, utilizar bagaço de cana em usinas de álcool e açúcar, muito mais barato que a utilização de gás natural. Todas essas são fontes de energia renováveis, que não contribuiriam para a poluição”, completou.