O preço dos combustíveis no Brasil está até 44% mais caro do que no exterior, segundo cálculos do banco Bradesco. A diferença aumentou nas últimas semanas diante do forte tombo do preço do barril de petróleo no mercado internacional.
As ações da Petrobras, empresa que está no centro das investigações de corrupção na operação Lava Jato, chegaram a R$ 5 nesta segunda-feira (18) – menor valor desde 2003. De acordo com matéria do jornal Correio Braziliense desta terça-feira (19), a orientação do governo é que a estatal reforce o caixa. No entanto, a Petrobras poderá ser obrigada a reduzir o valor da gasolina e do diesel para evitar que a inflação estoure, pelo segundo ano consecutivo, o teto da meta de 6,5%.
Para o deputado federal Caio Nárcio (PSDB-MG), a Petrobras deveria servir o Brasil, ainda mais num momento de inflação em que o combustível é uma das maiores molas propulsoras. “O valor que está sendo inserido nos combustíveis é de fato para repor o que eles assaltaram na Petrobras. Esse é mais um capítulo lamentável da gestão do PT à frente do Brasil”, afirmou.
O tucano afirma que o Brasil está vivendo uma dicotomia. “No Paraguai, onde a gasolina é fornecida pela Petrobras, o preço é quase duas vezes mais barato do que a daqui. Os brasileiros consomem caro para pagar o problema da Petrobras de dívida e corrupção e, para fora, a estatal exporta barato para as pessoas poderem ter condições de consumir.”
Após a retirada das sanções econômicas ao Irã (quarto maior produtor mundial, com 2,8 milhões de barris diários) pelos Estados Unidos e a União Europeia, o preço do barril do tipo Brent chegou a ser negociado, nesta segunda, US$ 27,67 – menor valor desde 2003.
Segundo o diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octavio de Barros, ouvido pelo Correio, a diferença entre o preço que a Petrobras cobra pelos combustíveis no mercado doméstico e o valor que paga ao importar o produto é de 44%. Caso a defasagem fosse zerada, a inflação poderia cair 1,23 ponto percentual, o que faria com que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrasse 2016 em 5,25%.
Já para o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a gasolina está 26,4% mais cara no Brasil e o óleo diesel, 54%. É possível que essa diferença aumente nos próximos dias diante da perspectiva de que o barril de petróleo caia para US$ 25. Segundo especialistas, existe hoje uma sobra de 1,5 milhão de barris por dia no mundo, volume que pode subir para 2,5 milhões de barris com a entrada do Irã no mercado.
Política de preços
Segundo Adilson de Oliveira, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também ouvido pelo Correio, a queda dos preços dos combustíveis praticados no Brasil depende do governo Dilma. “No passado, o Planalto errou ao evitar reajustes quando o barril foi além de US$ 100, para conter a inflação. Agora, seria o momento de preservar a Petrobras, dar um fôlego à estatal. Além disso, os preços praticados pela empresa não podem ficar tão submetidos às oscilações do mercado internacional. O mais sensato seria ter uma estratégia clara e transparente”, disse ao jornal.
Já a economista Celina Ramalho, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), afirmou ao Correio que a Petrobras foi drenada por mais de 10 anos por meio de políticas populistas. “Nos últimos dois anos, houve restrições para promover a reposição de preços dos combustíveis porque resultaria em mais inflação. Isso também explica o fato de ao menos 80 usinas produtoras de etanol terem entrado em situação falimentar. Os preços do álcool ficaram retidos”, lembrou. Para a economista, a tendência de consumo de combustíveis no Brasil é de queda por conta da crise econômica e de o litro da gasolina estar acima de R$ 4.
Em nota, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) informou que o Brasil é hoje o maior risco para a demanda de óleo bruto entre todos os países da América Latina diante da economia brasileira estar mergulhada na recessão e, como consequência, a queda no consumo de combustíveis. Segundo a entidade, apenas em novembro do ano passado, a retração foi de 5,1%. O país demandou 2,356 milhões de barris de petróleo por dia. No caso da gasolina, o consumo encolheu 8,2% no mesmo período, o de diesel tombou 7,2% e o de querosene de aviação, 5,9%. Para a Opep, não há previsão de recuperação.