O prolongamento da crise econômica e política do Brasil prejudicará principalmente os mais pobres, afirma o professor do Insper e especialista em desigualdade, pobreza, mercado de trabalho e educação Ricardo Paes de Barros. Para ele é necessário que o governo faça um corte de gastos rápido e criterioso para que os danos não se alastrem ainda mais.
Barros defende que a presidente Dilma Rousseff se dirija à nação, diga claramente o quanto o país pode gastar e defina cortes que sigam dois critérios principais: proteger os mais pobres e resguardar os programas eficientes, conforme matéria publicada hoje (14) no jornal Folha de São Paulo.
O professor sugere que, no momento, se adote uma decisão técnica e não política para tentar evitar maiores injustiças. No que se refere ao ajuste fiscal ele entende que é preciso uma reinterpretação da Constituição Federal. “Se continuarmos achando que os direitos econômicos, sociais e culturais estão acima da possibilidade orçamentária, será desastre econômico na certa”, diz.
Quando o assunto é educação, Ricardo assegura que o ensino brasileiro precisa de uma revolução radical. Para o pesquisador, o Plano Nacional da Educação é dramaticamente tímido e carece de metas muito mais ousadas, que vão ser alcançadas pelo esforço e não pelo dinheiro. Ele é contra o ensino superior gratuito para quem pode pagar e defende que os governos desestatizem a educação, desde que com uma boa regulação, para se concentrar na política e na estratégia.
Em entrevista à Folha, ele afirma que se o Brasil se organizasse seriamente uma crise prolongada poderia ser evitada. Ele atribui o caos econômico à falta de organização à irresponsabilidade fiscal.
Sobre as vinculações estipuladas pela Constituição, Barros diz que é preciso interpretar nossa Constituição como uma declaração de intenções, aspiracional, de implantação progressiva. “Pode ser simplesmente uma interpretação da Constituição como uma meta, como é com os direitos humanos. Gerar uma crise fiscal porque é obrigatório cumprir uma regra não garante aquele direito”, explica.
O professor destaca que se não houver possibilidade de um pacto político o país vai ficar estagnado por décadas e não por quatro ou cinco anos. “Alguém vai ter que organizar financeiramente o país, isso é prioritário e envolve fazer escolhas” alerta.