O Brasil pode encerrar 2018 com uma dívida bruta superior 80% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representaria um aumento de quase 30% em relação a 2011, ano do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Os cálculos, feitos por economistas do setor privado, preveem, ainda, déficits primários até 2018, de acordo com matéria publicada pelo jornal Valor Econômico nesta quinta-feira (10/12).
Pelo fato de a dívida bruta ser o principal indicador fiscal para as agências de risco, a Moody’s anunciou, nesta quarta-feira, a possibilidade de a nota de dívida soberana do Brasil sofrer um novo rebaixamento. A agência atrela um saldo primário e um crescimento em torno de 2% à manutenção do grau de investimento, panorama muito distante do vivido pelo país com o governo petista.
Com a confirmação da perda do selo de bom pagador pela Moody’s, que pode ocorrer nos próximos 90 dias, será a segunda agência que retira do Brasil o grau de investimento, já que a Standard & Poor’s rebaixou país em setembro. Para economistas ouvidos pela reportagem, a dívida pode se estabilizar somente após 2020, e mesmo assim em um nível extremamente elevado, próximo dos 90% do PIB.
“Estabilizar o endividamento requer um superávit primário de 2% do PIB, considerando um cenário de crescimento de longo prazo de 2% e juros nominais de 10% ao ano, o que só vemos acontecer em 2024”, ponderou o economista do Banco Brasil Plural Rafael Ihara. De acordo com as projeções do banco, ele acredita que a dívida vai aumentar quase 10% somente em 2015, saltando de 58,9% para 68,7% do PIB. O viés de crescimento deve seguir, atingindo 76,2% em 2016 e 81,7% do PIB em 2018.
A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) Vilma Pinto indica um cenário ainda mais sombrio, com a dívida bruta podendo atingir 82,7% do PIB já em 2017. Fabio Klein, economista da Tendências, é outro a apontar a dívida acima dos 80% do PIB em 2018. “Nada contribui para estabilizar o endividamento. O custo médio da dívida mobiliária, por exemplo, está em 16% ao ano, acima da Selic [em 14,25% ao ano], o que faz com que as despesas com juros aumentem”, ressaltou à reportagem do Valor.
Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria, sustenta a ideia de que o aporte aos bancos públicos, em especial os feitos ao BNDES, principal destinatário destes recursos, são importantes para se entender o crescimento da dívida bruta brasileira.
Para Fabio Klein, da Tendências, o fato de o governo petista não mostrar um plano claro para tirar a economia desta situação deixa o futuro do Brasil ainda mais nebuloso. “Estamos restritos à agenda de curto prazo, sem olhar para os problemas estruturais, como vinculação de despesas, regra de reajuste do salário mínimo, déficit crescente na Previdência”, criticou o economista. “Não tem ambiente para implementar essas mudanças, que não são fáceis, porque mexem com grupos de interesse. No curto prazo, o governo não consegue fazer muito mais do que cortar investimentos e elevar receitas extraordinárias”, completou. Klein ressalta, ainda, que uma eventual queda de Dilma poderia melhorar a capacidade de articulação política do governo, essencial para os ajustes econômicos que devem ser feitos.