Foto: Manu Dias/GOVBA
O Ibama e o Instituto Chico Mendes (ICMBio), órgãos do Ministério do Meio Ambiente, investigam se a lama que mancha o mar no Sul da Bahia e ameaça o santuário marinho do Parque Nacional de Abrolhos é de rejeitos da barragem da mineradora Samarco que rompeu em Mariana (MG) no dia 5 de novembro do ano passado. Um sobrevoo feito nesta última quinta-feira (7) na região detectou uma mancha no mar e amostras foram coletadas para analisar se a lama é oriunda do desastre, cujos sedimentos já alcançam uma área de 6.197 km². O resultado da análise deverá sair em dez dias.
De acordo com matéria do jornal O Globo desta sexta-feira (8), o presidente do Instituto Chico Mendes, Cláudio Maretti, afirmou que a presença da lama em Abrolhos deverá atingir a região dos corais, uma das atrações do local. “Essa semana entrou uma corrente do Leste que trouxe de novo toda a lama para a beira da praia [em Regência (ES)]. Um prejuízo enorme à economia e ao ecossistema e hoje, chegando ao Sul da Bahia, corre o risco de alcançar um outro santuário natural que é o arquipélago de Abrolhos, uma consequência irremediável e ainda não se consegue mensurar o tamanho desse dano”, criticou o deputado federal Max Filho (PSDB-ES).
O tucano acredita que todo o desastre ambiental – iniciado em Minas atingindo o Espírito Santo e agora podendo chegar à Bahia – se deve pela falta de fiscalização ao trabalho da mineradora. “Se o governo quer nomear o presidente da companhia, com que autoridade esse governo vai monitorar e fiscalizar as atividades dessa empresa? O [então] presidente Lula demitiu o Roger Agnelli para nomear o atual presidente da Vale, que é controladora da Samarco. Há um relacionamento promíscuo entre quem comanda o país e muitos dirigentes de algumas grandes empresas, como a Samarco”.
Para o parlamentar, o Palácio do Planalto foi transformado na sede de uma grande holding – “onde fica controlando os interesses dessas empresas para fazer o velho patrimonialismo e nós, o povo brasileiro, estamos pagando essa conta e a natureza também está gemendo por esse desgoverno que não fiscaliza e nem controla mais”.
A presidente do Ibama, Marilene Ramos, ouvida pelo jornal O Globo, afirmou que a Samarco, que pertence às empresas Vale e BHP Billiton, foi notificada sobre a possibilidade de a mancha ter alcançado o litoral de mais um Estado. Segundo ela, técnicos que conhecem bem a área acreditam que a lama veio do rompimento da barragem, apesar da parte mais concentrada da mancha estar na foz do Rio Doce, em Regência (ES), e o volume que pode ter atingido o Sul da Bahia estar ainda muito diluído. “Não estamos afirmando ainda, mas tudo leva a crer que essa mancha na região de Porto Seguro (no Sul da Bahia) tem como origem a lama da Samarco”, explicou Marilene.
Além do Ibama, o secretário de Meio Ambiente da Bahia, Eugênio Spengler, também sobrevoou, na manhã desta sexta-feira (8), a costa do Extremo-sul do Estado, incluindo Abrolhos, e “não identificou nenhum tipo de sedimento visível característivo do acidente ambiental em Mariana”. “A água será coletada em alguns pontos para análise”, disse em nota oficial enviada à imprensa.
Praias
Segundo O Globo, o Ibama informou que não há motivos ainda para interditar as praias na Bahia, apenas se for constatada a presença de metais que apresentam toxicidade ou se a lama for de coloração muito forte – o que dificulta a balneabilidade e coloca os banhistas em risco. Em novembro, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que não havia “expectativa” de que a lama chegasse ao arquipélago de Abrolhos.
Já no Espírito Santo, os danos ambientais persistem. O secretário de Meio Ambiente de Linhares, Rodrigo Paneto, informou ao Globo que todas as praias da cidade (total de 100 quilômetros de área litorânea) estão interditadas devido à lama. “É verdade que a empresa tem dado um ‘cala-boca’ nos pescadores, alugado os barcos a pretexto de fazer uma limpeza na região, mas o prejuízo é enorme. Regência é famosa por ter uma onda para surf que é uma das melhores do planeta, muito visitada pelos surfistas e agora as pousadas estão ‘às moscas’. As pessoas não querem mais se banhar na água do mar”, completou o deputado Max Filho