A tragédia em Mariana (MG) entrou para história como o maior volume de material despejado por barragens de rejeitos de mineração. É o que apontam especialistas ouvidos pelo jornal O Globo em matéria publicada nesta terça-feira (17).
Ao todo, 62 milhões de metros cúbicos de lama vazaram dos depósitos da mineradora Samarco – fruto da sociedade entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton – no último dia 5, matando pelo menos 12 pessoas, além de deixar milhares sem água e a sobrevida do Rio Doce ameaçada. É maior desastre ambiental provocado pela indústria da mineração brasileira e duas vezes e meia maior que o segundo pior acidente do gênero, que aconteceu em uma mina canadense, no ano passado.
Segundo o pesquisador Marcos Freitas, coordenador executivo do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), ligado à Coppe/UFRJ, a recuperação da bacia do Rio Doce, onde vivem cerca de 3 milhões de pessoas, levará décadas e custará bilhões de reais para a recuperação de estruturas urbanas e ecossistemas destruídos. “A recuperação será tão cara que pode se mostrar inviável financeiramente. Quando a lama secar, vai se tornar terra endurecida, um chão de ferro, uma terra de ninguém”, alerta o pesquisador em entrevista ao jornal, afirmando ainda que a recuperação da extensa área afetada, de Minas ao Espírito Santo, leve pelo menos 10 anos.E acrescentou:”Até porque alguns dos efeitos da destruição e da poluição colossal de uma região de mais de 700 quilômetros de comprimento só poderão ser percebidos após anos. Desastres ambientais têm vida longa. É o caso do que aconteceu no Exxon Valdez. O navio vazou óleo para uma das regiões mais intocadas do Alasca há 26 anos. Mas até hoje pescados nobres, como arenque e caranguejo gigante, não voltaram às redes dos pescadores”.
De acordo com o biólogo e geógrafo Rodrigo Medeiros, vice-presidente da Conservação Internacional – ONG que desenvolve projetos sobre preservação da biodiversidade e seu impacto social – ouvido pelo O Globo, as florestas centenárias às margens do Rio Doce, já dizimadas pelo desmate, sofrerão perdas, pois o secamente e a compactação da lama asfixia a vegetação.
Já Moacyr Duarte, pesquisador sênior do Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental (Garta) da Coppe/UFRJ, chama atenção para o “risco invisível” – aquele causado pelo acúmulo do silt (mistura de ferro, terra e água). Ele afirma que o volume arrastado da mineradora para o leito e suas margens pode cobrir áreas imensas, desorganizar o fundo do rio, mexer com variáveis ambientais, desequilibrar ecossistemas, além que a mudança de curso do Rio Doce e do acúmulo de sedimentos também modificará o padrão de inundação e poderá provocar enxurradas em outras áreas na bacia no período chuvoso.