Aqueles que me conhecem sabem muito bem que me considero um liberal. Um liberal heterodoxo se é possível assim afirmar. Um liberal aos moldes do liberalismo social apresentado por John Rawls, um dos maiores filósofos políticos do século XX. Seria então incoerente que um liberal pousasse logo em um partido que se afirma social democrata? Por ser um adepto do liberalismo social eu afirmo que não, e explicarei o por que.
A Social Democracia, inegavelmente, tem seu berço na Alemanha do século XIX, onde marxistas como Bernstein e Kautsky iniciaram o que foi chamado – agressivamente pelos marxistas – de revisionismo da teoria de Marx. Esse revisionismo, mesmo abandonando a ideia de revolução por armas, persistiu na defesa da revolução social que, por vias democráticas, aconteceria. Os partidos marxistas da época acreditaram que era melhor tentar uma mudança da sociedade constituindo partidos e lutando nas arenas institucionais cabíveis. O que significa dizer que disputavam eleições e tentavam ser governo para implementar as reformas sociais que julgavam necessárias para acabar com a desigualdade.
Esse modelo de Social Democracia persistiu na Alemanha até meados dos anos de 1950 quando no congresso de Bad Godesberg o partido social democrata alemão (SPD) abandonou de vez o ideário marxista e passou a lutar para “humanizar” o capitalismo ao invés de extingui-lo.
A Guerra Fria teve prosseguimento e com a queda do bloco soviético um sociólogo inglês chamado Anthony Giddens escreveu um livro chamado A Terceira Via, onde apresentou um novo modelo de social democracia que não mais se pautava pelos valores marxistas e nem tanto pelos valores liberistas (economicamente liberal) puramente. O que Giddens chamou de terceira via estava já nos anos 90 sendo implementado nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton, Tony Blair e outros. Essa terceira via é liberal (em aspectos morais e políticos) e é simpática ao regime de mercado (mesmo que com intervenções pontuais). O que Giddens escreveu sucintamente está na obra de John Rawls, que propôs uma sociedade liberal que preza pela igualdade de oportunidades.
O PSDB, principal partido de oposição, não deixou de ser um partido Social Democrata, e sim adotou um novo modelo de social democracia. Um modelo que saiu há muitos anos da política pautada por sindicatos para ser um modelo que preza pela sociedade em globo partindo de um ponto de vista individual. Como John Rawls bem escreve “Cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justiça que nem o bem-estar de toda a sociedade pode desconsiderar (…) a justiça nega que a perda da liberdade de alguns se justifique por um bem maior desfrutado por outros (…) na sociedade justa as liberdades da cidadania igual são consideradas irrevogáveis; os direitos garantidos pela justiça não estão sujeitos a negociações políticas nem ao cálculo de interesse social.”. É nisso que acredito.
Portanto, sou um defensor da social democracia enquanto liberalismo social. Um liberalismo que não permite a violação de direitos individuais, mas que preocupa-se com a justiça social, ou seja, preocupa-se em garantir igual oportunidade para que cada indivíduo possa escolher o que fazer da sua vida. John Stuart Mill escreveu ainda no século XIX que há um princípio do dano. Esse princípio afirma que cada indivíduo deve fazer o que bem entender da sua vida enquanto suas ações não afetam o direito de outro indivíduo. Nesse princípio entram questões econômicas e morais e acredito que o princípio do dano de Mill não perdeu sua contemporaneidade. A social democracia contemporânea não pode perder essas três características: liberal, pró-mercado e promotora da igualdade de oportunidades. Essa social democracia mostrou-se eficiente nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique e é por isso que eu escolhi o PSDB para militar, pois é no PSDB que eu encontro o pensamento moderno que combate o atraso tanto da esquerda jurássica marxista quanto do conservadorismo reacionário.
Matheus Leone
Graduando em Cięncia Política na UnB