PSDB – DF

Entrevista com a Deputada Venezuelana Maria Corina Machado

CRE - Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional

A Juventude do PSDB do Distrito Federal participou da elaboração da entrevista realizada pela União Democrática Acadêmica (U.D.A.) com a  Deputada venezuelana Maria Corina, em visita ao Brasil. Corina é a principal voz de oposição ao regime socialista implantado na Venezuela pelo ditador Hugo Chávez e continuada pelo ditador Nicolás Maduro.

Aos 47 anos, Maria Corina Machado lidera uma verdadeira batalha contra o regime autoritário que está sendo implantada em seu país, a Venezuela, sob as diretrizes do Foro de São Paulo.

Em passagem por Brasília, a Deputada mais votada da história da Venezuela, Maria Corina, concedeu uma entrevista exclusiva, realizada no dia 3 de abril.

O que motivou a senhora a entrar na carreira política?

Estive envolvida em política estudantil, mas nunca pensei em entrar na política, era a última coisa que pensava na vida. Entrar na política era fazer concessões aos valores. A minha geração via a política como corrupta. Hoje me arrependo de não ter entrado antes, pois a política é a possibilidade de servir e transformar um país.

Em seu canal do YouTube a senhora postou um vídeo mostrando várias cenas atuais de repressão na Venezuela e perguntando aos brasileiros que regime era aquele. Eu devolvo a pergunta. A senhora considera que a Venezuela é hoje um pais livre ou uma ditadura?

Os jornalistas não se atrevem a dizer a verdade e a imprensa não a divulga. Não há respeito à propriedade privada. Não há independência dos poderes públicos. Não há respeito à Constituição. Nas últimas semanas temos visto como ocorreu a repressão mais brutal aos direitos humanos, dos estudantes e jovens que protestam. Utilizam milícias paramilitares e a guarda nacional para atirar em jovens que estão nas ruas exigindo seu futuro. Esse movimento começou por um chamado dos jovens (um chamado à consciência), que se veem sem futuro. Seu futuro foi roubado.Então eu te pergunto: um regime que persegue, que tortura, que assassina, que cesura, como se chama? É uma ditadura!

Como surgiram os grupos paramilitares, as milícias? Qual o seu papel no regime Chavista?

Há muitos grupos que estão armados na Venezuela, vinculados ao crime, ao narcotráfico. Mas a figura dos coletivos é muito perigosa, porque seguem instruções políticas do regime, e se articulam em muitas cidades, em zonas populares, e tomam controle dessas zonas. E acabam tendo um controle social da população que vive lá. Têm armas muito perigosas, grandes armas de guerra. E ameaçam a todos que se descontentam com o regime. Por isso em muitas zonas populares, quando as pessoas estão descontentes, não protestam em suas comunidades, vão a outros lugares.Quando a população estava protestando, com panelaço, no dia 23 de janeiro, em Petare e em Macarao (bairros de Caracas), disparavam nas casas em que se ouvia panelaços, para intimidar a população, como um sinal para que ninguém protestasse.

A população tem armas? Houve desarmamento?

As cifras dizem que existem 10 milhões de armas ilegais nas ruas, sem contar as milícias. As milícias são um quinto componente das Forças Armadas, montadas pelo governo, contra a Constituição. Foram armadas e estão subordinadas às Forças Armadas, são componentes oficiais das Forças Armadas. Os outros são os coletivos e os grupos paramilitares. Estima-se que existam 12 mil grupos criminosos dedicados ao micro-tráfico de drogas, e têm armas. Mas são diferentes dos coletivos, dedicam-se a crimes. À parte estão os coletivos que seguem a linha política do governo, e que são o braço paramilitar do governo para atacar e atuar contra os protestos políticos.

 

O Brasil tem um programa de importação de médicos cubanos similar ao venezuelano. Como a Venezuela começou esse programa? Há indícios de que esses médicos sejam usados como meio de propaganda comunista na Venezuela?

Há muito pouca informação. As cifras são contraditórias. Alguns números dizem 30 mil médicos, outras até mais. Mas o programa que existe na Venezuela é um programa de exportação de médicos venezuelanos. Os médicos venezuelanos têm um salário de fome. O que se passa, é que todos os jovens que estão se graduando estão deixando o país. E essa é a tragédia. Os cursos de pós-graduação em medicina praticamente estão desertos. Antes eram cursos que tinham uma demanda enorme, e uma grande competência. Agora estão vazios. Porque o salário dos médicos é uma miséria. Então os jovens se vão. Esse é um programa muito, muito perigoso porque não se pode negar ajuda estrangeira, e se uma pessoa quer vir (para a Venezuela atuar como médico) tem que cumprir alguns requisitos. A Lei de exercício da medicina na Venezuela exige que haja a validação de exames de médicos que venham de qualquer país. Mas os médicos cubanos não fizeram isso.

O Brasil tem a Petrobrás, que é um orgulho nacional, como a Venezuela tem a PDVSA. Como foi o processo de uso da PDVSA pelo regime Chavista, e como isso impactou a economia venezuelana?

A PDVSA era um orgulho nacional. Não mais. Há uma coisa terrível: sabe quanto está o preço do petróleo no orçamento nacional, que aprovamos na Assembléia Nacional? Sabe quanto está no mercado? Quase cem dólares. No orçamento está 55 dólares. A metade. Onde está a outra metade? O governo usa como lhe dá vontade. Uso discricionário. Parte para transferência direta a programas sociais da PDVSA, outra para benefícios próprios, e para um roubo descarado dos recursos petrolíferos.Não nego que em um país como a Venezuela tem que haver programas sociais que permitam que a população mais vulnerável possa emergir e ter oportunidades. Mas isso não é papel da PDVSA. Isso é papel dos ministérios, dos governos (estaduais), das prefeituras. Eu creio na descentralização, e creio que esses recursos devem estar próximos ao cidadão para que os prefeitos e governadores levem os programas adiante em conjunto com a sociedade.

As eleições de Chávez e Maduro foram consideradas, em geral, pela comunidade internacional, como democráticas. É possível, em sua opinião, haver uma ditadura democrática? A democracia é suficiente para garantir a liberdade?

Nós venezuelanos sabemos que as eleições de 2013 não foram eleições limpas, livres, e justas. Há uma diferença de 200 mil votos que reconheceu o regime Chavista. Mas há 1 milhão e meio de votos que foram questionados, com provas. A UNASUL se comprometeu a levar adiante uma auditoria completa dos votos, e não a cumpriu. Por isso a UNASUL está em dívida com os venezuelanosA democracia não é somente a forma como se tem acesso ao poder. Democracia também é como se exerce o poder. Você pode chegar (ao poder) pelos votos e depois converter-se em um ditador. E por isso não é menos ditador! Em um país onde não há independência dos poderes públicos, onde não há liberdade de expressão, onde não há respeito à propriedade privada, onde não há respeito ao Estado de direito, onde se aniquila o pluralismo, onde se detêm os dirigentes da oposição porque dá vontade em quem tem poder, onde se violam os direitos humanos. Isso não é democracia!

 

O que se passou com a senhora? A senhora é a principal voz da oposição no Congresso.

Eu sou a deputada que obteve mais votos na história da Venezuela, individualmente. O senhor Cabello (Diosdado Cabello Rondon Presidente da Assembléia Nacional), capitão Cabello, decidiu unilateralmente, porque lhe ‘na telha’, que iria me tirar do Assembléia Nacional, sem eu ter cometido nenhum delito. De que me acusam? Estão me acusando de traição à pátria por ter falado na OEA. Por ter denunciado na OEA os abusos aos direitos humanos. E esse não é somente meu direito, mas meu dever como deputada. Mas estão me acusando de traição à pátria, e, unilateralmente, pela força, não me permitiram entrar no parlamento. Veja o que ocorre: Não me deixaram entrar no parlamento na terça (1° de abril), mas ontem (2 de abril) entro no Congresso do Brasil, e sou recebida de pé pelos deputados brasileiros.Por isso quero falar ao mundo, e em particular aos brasileiros e aos jovens deste país: porque neste momento os jovens venezuelanos precisam de vocês, levantando suas vozes pelos ideais democráticos, pela de luta pelos valores, pela dignidade humana, pela soberania nacional e pela Liberdade!

 

 

Fonte: Juventude PSDB-DF e http://www.uniaodemocraticaacademica.com

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