PSDB – ES

Tiago Oliveira

“Itamar Santos, um brasileiro no meio das chamas”, por Marcus Pestana

Marcus-Pestana-Foto-George-Gianni-PSDB-31-300x199Itamar Santos é um brasileiro simples e trabalhador como a maioria do povo brasileiro. Serralheiro, evangélico, mora em São Paulo. Itamar não frequenta estádios nem liga muito para futebol. Itamar tinha um fusca velho. Era para ir à igreja, passear e carregar seus ferros velhos. Itamar não é dirigente da Fifa, não é ministro nem está muito interessado na Copa do Mundo no Brasil.

Sábado, dia 25 de janeiro, como sempre faz, Itamar foi ao culto em sua igreja. Na volta, com o espírito solidário típico dos brasileiros, deu carona a amigos, um senhor e duas senhoras. Uma delas levava a filhinha de cinco anos.

Itamar já estava acostumado com o trajeto e com o drama paulistano da mobilidade urbana. Nesse dia, no entanto, algo diferente estava acontecendo. A polícia desviava o trânsito. E, ao fundo, Itamar viu uns meninos com rostos cobertos, vestidos de preto, que colocavam fogo em colchões fazendo a avenida arder em chamas. Os meninos decidiram que não querem a Copa no Brasil. E resolveram se manifestar de um jeito que o serralheiro evangélico achou estranho. Ele não queria saber da Copa nem dos meninos encapuzados. Só queria voltar para casa, levar os amigos e descansar da semana de trabalho. No domingo, iria passear no seu velho fusquinha.

Assustado, foi para o canto da avenida para evitar confusão. Só queria passar e voltar para casa. Os valentes meninos mascarados vestidos de preto não gostaram da ousadia de Itamar. Sem mais nem menos, tocaram fogo no carro.

Os momentos seguintes foram de verdadeiro terror. A criança chorava nos braços da mãe desesperada. Acharam que não daria tempo de sair, já que o fusca só tem porta na frente. Uma desgraça quase aconteceu. Felizmente, todos se salvaram. Itamar e seu amigo tiveram queimaduras leves. O fusca virou uma carcaça imprestável. Itamar não tinha seguro, claro. Não tem dinheiro para comprar um novo carro. Ainda teve que pagar o guincho para remover o fusca da avenida. Vai ter que trabalhar duro para comprar de novo um carrinho para passear, ir à igreja e carregar seus ferros velhos. Seis agências bancárias, duas concessionárias e uma loja do McDonald’s foram destruídas nessa noite.

Lembro que, nas jornadas pela anistia, pelas Diretas e pelo afastamento de Collor, íamos para as ruas cheios de energia, sonhos e disposição de luta. Não quebrávamos lojas e muito menos incendiávamos carros de trabalhadores pobres. Conquistamos nossos objetivos e a democracia se instalou no Brasil.

Quem tem convicções e ideais não esconde o rosto. Atos covardes, autoritários e reacionários como esse não vão fazer o país melhor. Tirem as máscaras, meninos, disputem democraticamente suas posições, conquistem as pessoas.

A melhor causa perde a razão na face obtusa da violência. Deixem seu Itamar, seu fusquinha e seus amigos viverem em paz. A democracia é um patrimônio de todos, não a agridam.

*Marcus Pestana é deputado federal e presidente regional do PSDB de Minas Gerais

“Mais um campeão de ineficiência”, análise do ITV

ITVNunca antes na história, tivemos um governo tão pródigo em anunciar, com pompa e circunstância, obras que jamais se tornam realidade. A estratégia está desgastada pelo uso intensivo que dela faz o PT. Mas eles insistem. Parafraseando um velho bordão da TV, vem aí mais um campeão de ineficiência: o PAC 3.

 A notícia saiu na edição de O Globo deste domingo. De tão inverossímil, parece até escárnio. Mas lá está escrito que a presidente-candidata preparada para abril o lançamento de uma terceira etapa do Programa de Aceleração do Crescimento. Mas como, se a maior parte do que vem sendo prometido pelos governos petistas desde 2007 até hoje não saiu do papel?

 A gestão do PT administra uma ficção. Onde estão as obras estruturantes que há sete anos são anunciadas pela propaganda oficial como o passaporte definitivo do país para uma nova era de prosperidade? Alguém viu, alguém encontrou? Aqui não é necessário gastar muita saliva e tinta: é só olhar em torno e constatar que as principais obras prometidas não aconteceram.

 Transposição das águas do rio São Francisco? Até hoje nenhuma gota beneficiou os brasileiros que convivem com a terrível seca do semiárido nordestino. A obra deveria ter ficado pronta em 2010, mas até agora nem metade foi feita. O custo já praticamente dobrou, pulando de R$ 4,5 bilhões para R$ 8,2 bilhões. Nem no atual mandato a transposição – que já tem muitos trechos em ruínas – será concluída.

Ferrovia Norte-Sul? Prometida para 2010, tem apenas 700 km dos 4,1 mil km previstos concluídos. Dois anos atrás, Dilma prometeu entregar todo o trecho entre Açailândia (MA) e Estrela d’Oeste (SP) até 2014. Nada disso vai acontecer: a nova previsão de término é setembro de 2016 – e olhe lá. Assim como a transposição, trechos da Norte-Sul nem foram inaugurados e já se transformaram em ruína, mato e erosão. Não transportam nada.

Refinaria Abreu e Lima? O compromisso era inaugurá-la em 2010, mas a previsão atual é terminá-la, quiçá, em fins deste ano. Será? O custo da refinaria pernambucana partiu de R$ 4 bilhões iniciais e já chegou a R$ 35,8 bilhões – incluindo um beiço da estatal venezuelana PDVSA, que seria responsável por 40% do projeto, mas pulou fora devido à debacle da economia chavista. Com tudo isso, a Abreu e Lima se transformará na mais cara refinaria já feita até hoje em todo o mundo.

Os exemplos pontuais são eloquentes, mas o balanço agregado ajuda a dar contornos definitivos ao fiasco. Em 2013, o PAC teve o melhor desempenho da era Dilma: dos R$ 53 bilhões previstos no Orçamento Geral da União para o ano, R$ 16,6 bilhões foram efetivamente investidos até 31 de dezembro último. Ou seja, a melhor marca não passa de 31,2% da dotação prevista para o ano, de acordo com o Siafi.

Alguns dos ministérios que concentram as maiores verbas tiveram execução ainda mais vexatória. A poderosa pasta dos Transportes investiu R$ 4,6 bilhões dos R$ 14,8 bilhões reservados, acompanhando a média geral do programa no ano. No entanto, descontada a inflação, no ano passado o ministério investiu menos do que o gasto em 2012 e bem menos até que o valor nominal aplicado em 2011.

A contabilidade oficial exibe números diferentes, bem mais vistosos. O governo afirma que já fez 67% do que prometeu no PAC 2. Entretanto, a maior parte do valor (exato um terço do total) vem de financiamentos concedidos para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. É dinheiro que foi emprestado e terá que ser pago pelos mutuários, mas o governo petista computa como investimento. O setor privado responde por outros 20% do total. Assim fica fácil…

Além destas espertezas, a estratégia petista em torno do PAC envolve outras mandracarias. Obras anunciadas nas etapas anteriores que não ficam prontas são reempacotadas, ganham nova roupagem e um prazo elástico para acabar. É a mágica da reciclagem das promessas. O PAC lançado em 2007, por exemplo, sumiu do mapa sem apresentar um balanço final de suas “realizações”. Ninguém soube, ninguém viu. Na estratégia petista, o que vale é o espetáculo. Qualquer verdadeiro compromisso com o interesse da população é conto da carochinha.

“Resposta ao Professor”, por Luiz Paulo Vellozo Lucas

lpA reunião da comissão executiva estadual do PSDB, na quarta – feira (29/1) , foi o momento de destaque. O livro de pré- candidaturas para as eleições deste ano foi aberto com Guerino Balestrassi confirmando sua disposição de disputar o governo do estado, e com o Coronel Aurich também assinando como pré – candidato ao senado.

Na discussão de conjuntura, todas as intervenções reafirmaram a linha de atuação nacional do PSDB, centrada na candidatura presidencial de Aécio Neves, que vai condicionar a política de alianças em todos os estados. No Espirito Santo, ainda não se sabe se o projeto de reeleição do governador Casagrande terá a face oposicionista do seu partido, o PSB, que também enfrenta o PT nacional com Eduardo Campos, ou se segue apresentando-se como um projeto pretensamente “neutro” nas eleições presidenciais, disposto a abrigar também os “dilmistas” estaduais.

Conhecido pelo apurado pragmatismo, o PMDB capixaba ainda não sabe se quer acompanhar Casagrande, se deseja liderar junto com o PT o palanque regional da Dilma ou, ainda, se pretende tentar um caminho alternativo, em composição com o PSDB, como aconteceu nas eleições municipais de 2012. Nós sabemos que a aliança nacional do PMDB com o PT é desconfortável regionalmente para ambos, mas, aparentemente, não parece haver disposição para uma ruptura e um comprometimento de Hartung, Ferraço e cia. com o palanque “aecista”.

Enquanto o cenário politico estadual não estabiliza sua articulação com a disputa presidencial, não se pode saber ao certo como as alianças locais poderão acontecer. Por isso estamos preparados, com chapa completa, para disputar as eleições de 2014 sem alianças majoritárias nem com Casagrande nem com o PMDB de Ferraço e Hartung. O palanque da oposição vai existir no Espirito Santo com visibilidade e não ficará diluído por acomodações de natureza exclusivamente local.

Na reunião do PSDB de quarta – feira, a intervenção do professor Majeski foi especialmente importante. Ele vocalizou com sensibilidade e inteligência o sentimento de descrença da população na política, nos políticos, nos partidos e no próprio processo eleitoral. Como mostrar `a população desacreditada que somos diferentes e melhores que os outros? Como mostrar que somos a mudança de verdade que o Brasil reclama?

Não deu pra responder ao professor na reunião, até por que penso não haver uma resposta única à altura do seu questionamento duro e verdadeiro. Lembrei-me de um episódio que aconteceu comigo quando visitava um primo esquizofrênico num hospital psiquiátrico. Na saída, o ascensorista, que deveria impedir a entrada de internos no elevador, não me reconheceu e os doentes excitados se aglomeravam na porta e forçavam a entrada dizendo que também eram visitantes. O funcionário, apavorado, olhava para mim misturado no meio dos internos querendo entrar no elevador e tentava distinguir quem era visitante e quem era paciente sem, no entanto, conseguir. Ele fechou a porta sem deixar entrar ninguém para voltar só depois com dois enfermeiros experientes que me reconheceram e me deixaram sair.

É assim que me sinto como político disputando eleições no Brasil de hoje. Embolado entre os loucos dizendo ser apenas um visitante do hospital e tentando desesperadamente mostrar para o porteiro um comportamento normal.

Talvez, uma resposta ao professor Mageski seja simples. Vamos agir e falar de acordo com nossas convicções mostrando o que achamos de errado no governo do PT e sua forma de fazer política. Vamos dizer o que vamos fazer se ganharmos as eleições e o que já fizemos quando estivemos no poder, mesmo sabendo que muitos eleitores não vão acreditar. Vamos insistir, mostrar depoimentos de outras pessoas e de testemunhas. Vamos mostrar fatos e evidências dos erros e mentiras dos nossos adversários, mesmo que muitos achem semelhança com as calúnias inventadas contra nós. Vamos nos preparar para ofensas e acusados de ser iguais a eles e não vamos desistir. Vamos fazer política enquanto 90% das pessoas não se interessam e não prestam atenção. Vamos nos preparar trabalhando desde já para os poucos dias que antecedem ao dia das eleições, quando todos vão, enfim, decidir como votar.

Não é fácil. Nunca foi nem nunca será. Ter um cidadão e um ser humano da qualidade do Professor Majeski conosco é fundamental e nos ajuda muito.

Aécio Neves: “Brasileiros querem voltar a respeitar seus governantes”

O senador Aécio Neves esteve em São Carlos (SP), no último sábado, dia 8
O senador Aécio Neves esteve em São Carlos (SP), no último sábado, dia 8

Dando continuidade aos encontros com lideranças de todo o país, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, esteve neste sábado (8), em São Carlos (SP), reunido com prefeitos, vereadores e militantes. Aécio salientou a importância da discussão de uma nova agenda para o país acompanhado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), presidente do PSDB de São Paulo, deputado federal Duarte Nogueira, secretário-geral do partido, deputado federal Mendes Thame (SP), prefeito de São Carlos, Paulo Altomani, e líderes regionais.

“Quero falar de coisas boas, de esperança, de confiança. O Brasil e os brasileiros não precisam acostumar-se e acomodar-se à mediocridade. Não existe propaganda oficial, por mais bilionária que seja, que mascare a realidade. E a grande realidade é que esse ciclo de governo do PT vai ser encerrado. Não em benefício do PSDB, mas em benefício dos brasileiros que querem crescer, se desenvolver e voltar a respeitar os seus governantes”, declarou.

Aécio destacou que suas andanças pelo interior do Brasil têm o objetivo de fortalecer na militância tucana o sentimento de que algo diferente pode ser feito no rumo político do país.

“Esse é um evento muito especial, como tem sido alguns outros, porque vejo as pessoas se aproximando de nós não apenas para dar um tapinha nas costas, um cumprimento, um aperto de mão, mas para perceber e sentir se estaremos realmente em condição de enfrentar os enormes desafios que temos pela frente”, disse o senador.

“É exatamente a partir de encontros que fazemos aqui hoje, em São Carlos, que eu cada vez mais consolido a ideia, o sentimento e a convicção de que depende apenas de nós, da nossa coragem, para que possamos dar, dentro de muito pouco tempo, uma resposta definitiva a todos os brasileiros que estão indignados com o despudor, com a irresponsabilidade e incompetência daqueles que vem comandando o Brasil nos últimos anos”, afirmou Aécio.

 Reformas interrompidas

Em seu discurso, o senador apontou ainda a necessidade de retomar reformas interrompidas durante os dez anos de gestão petista na presidência da República. Segundo ele, o sentimento de mudança que o país vive não é meramente partidário, mas fruto de elevada consciência cidadã.

“Em um momento de tamanha desmoralização da classe política, de tamanho divórcio da sociedade com seus representantes, nós temos que nos reunir, porque não se trata do desafio de levar um partido à presidência da República. Trata-se de nós termos a convicção clara de que nos levantamos, com coragem, para dizer basta”, considerou o tucano.

“Basta dessa centralização irresponsável de recursos nas mãos da União, que tão mal vem fazendo aos municípios e aos estados brasileiros na saúde, segurança e educação. Basta dessa visão atrasada e preconceituosa em relação ao mundo, que nos fez alinhar com ditaduras mundo afora e retirou o Brasil das grandes cadeias globais de produção”, ressaltou Aécio.

O presidente nacional do PSDB finalizou dizendo que, em um país continental com desigualdades latentes, é preciso dar mais atenção à importância de estados como o de São Paulo.

“Tenho andado pelo Brasil pregando a mudança, pregando aquilo em que acredito. Diferente dos nossos adversários, vamos fazer campanha falando a verdade, com clareza e simplicidade. Nossa grande diferença são os nossos valores”, destacou Aécio.

“Vulnerável”, por Aécio Neves

aecio-nevesDiscussões em torno da importância do planejamento e da capacidade de gestão dos governos tendem a ser consideradas áridas e distantes dos interesses da população.

No entanto, são cruciais e a atual crise do sistema de energia é um exemplo concreto da falta que fazem ao país.

A semana começa sem resposta para mais um apagão que deixou às escuras 6 milhões de pessoas em 13 Estados brasileiros.

Para efeito de análise de conjuntura, mais importante que o fator pontual, específico, que justifique a interrupção, é constatar a evidente vulnerabilidade do sistema, exposto à pressão das altas temperaturas registradas, ao declínio dos níveis dos reservatórios e à alta do consumo.

A demanda média do período está 8% acima das previsões feitas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico. Para se ter uma ideia mais clara do quadro, 75% da nossa produção energética vêm de fonte hidráulica e os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste terminarão fevereiro com menos de 40% da capacidade.

Não pode ser simplesmente negligenciado ou reduzido a uma mera coincidência o fato de que, na terça-feira, o Sul atingiu seu recorde de carga apenas três minutos antes da falha no sistema de transmissão que causou o apagão.

Sintoma que expõe, em princípio, a hipótese de estar começando a haver desequilíbrio estrutural entre a capacidade de oferta e a demanda de energia no país, que o governo, a todo custo, tenta descartar, fazendo piadas diversionistas com descargas elétricas, ou sugerindo mais terceirização de responsabilidades.

Como parece ser menos provável que haja problema de geração, tudo converge para uma eventual precariedade das linhas de transmissão. Mais de dois terços das que estão em construção sofrem atrasos (média de 13,5 meses) e pode estar havendo investimento muito menor que o previsto na manutenção, em face da atabalhoada mudança de regulação, que provocou incertezas, desconfianças e –quem sabe– até um investimento menor que o necessário.

Poderíamos estar contando com os parques eólicos para compensar os problemas no segmento hidroelétrico. Infelizmente isso também não é possível, porque simplesmente não foram concluídas até hoje as respectivas linhas de transmissão.

Para o governo, o espaço para manobras vai se reduzindo e restam poucas alternativas: se reajustar tarifas, alimenta a inflação; se subsidiar ainda mais o custo, amplia o deficit nas contas públicas.

No geral, são erros imperdoáveis, para quem passou praticamente uma década inteira à frente do sistema energético nacional, advogando a excelência da gestão.

A realidade sempre cobra o seu preço. Pena que, mais uma vez, a conta pelo improviso seja paga pelos brasileiros.

“Palanque energético”, por Miriam Leitão

apagao-foto-divulgacao-300x200Ventos de 1.200 megawatts de energia são desperdiçados desde o ano passado porque ainda não foram construídas as linhas de transmissão; meia Itaipu é jogada fora por falta de um programa de poupança de energia; o consumo foi incentivado em época de reservatórios cada vez mais magros. O governo comete erros porque misturou eleição com política energética.

O erro original é a mistura de interesses eleitorais de curto prazo com a necessidade de uma política racional na área energética. Por ter misturado, o governo não admite falhas, nem faz campanha de racionalização do uso de um bem cada vez mais escasso e cada vez mais caro no país. Também por interesse unicamente eleitoreiro, a presidente Dilma, com seu marqueteiro a tiracolo, convocou rede nacional, no ano passado, para anunciar a queda do preço da energia, exatamente quando o custo estava subindo.

Um bom programa de aumento da eficiência energética, de combate aos desperdícios do sistema, de convocação para o uso racional na energia, teria efeitos positivos. Além disso, seria preciso investir na recuperação dos reservatórios. A dimensão das perdas é enorme. A população brasileira já provou que consegue, famílias e firmas, reduzir o consumo em época de crise.

Em fevereiro, a chuva estimada é de 55% da média histórica de 88 anos. Ou seja, não haverá água suficiente para elevar o nível dos reservatórios que, hoje, estão no Sudeste e no Nordeste em torno de 40%. Em março, a previsão é que chegará à média histórica, mas já será o fim da estação de chuvas. Isso fará com que as térmicas sejam usadas por mais tempo, o que elevará o custo para o Tesouro de manter a fantasia da energia barata. No mercado livre, o preço está no máximo, R$ 822 o MWh, quando a média do ano passado ficou em R$ 263.

A crise atual não é do tamanho da que ocorreu no governo Fernando Henrique. Naquela época, a falta de planejamento fez com que, após um ano de crescimento forte em 2000, e a queda forte do nível de chuvas em 2001, fosse necessário o racionamento de energia.

Com o então ministro Pedro Parente na gerência da crise, o governo admitiu o erro e criou a fórmula de usar as termelétricas a combustível fóssil para socorrer o sistema em época de falta de água nos reservatórios. Mas era uma emergência. Daí para diante houve tempo e chuva em abundância por anos a fio para que o governo pudesse construir uma solução mais duradoura.

Quando Dilma Rousseff assumiu o Ministério das Minas e Energia, ela não demonstrava ter interesse nas novas renováveis — fontes como eólica e solar. E até hoje é assim. As eólicas cresceram porque lutaram para entrar nos leilões competindo com energia hidrelétrica com alto subsídio. Aumentou-se a capacidade nessa fonte — e o governo se jacta disso. Mas o desmazelo é tamanho que parques eólicos equivalentes a uma hidrelétrica de Serra da Mesa, ou três Três Marias, produzem em vão. A Chesf, que ganhou o leilão para construir a linha, não a construiu. Essa energia poderia reduzir a necessidade de térmicas sujas e caras. A energia solar que merecia ser subsidiada nesse início — pela sua qualidade em termos de emissão e sua abundância neste país ensolarado — não recebe qualquer atenção.

O governo se comporta de forma irresponsável por razões eleitoreiras. Tem medo de admitir qualquer falha ou fazer campanha de racionalização de uso porque teme reduzir a força do discurso de que a gestão Fernando Henrique errou. Ora, o governo FH errou na energia. Alguém duvida? O problema são os erros de agora que se acumulam, fazendo o sistema operar no limite. É preciso descer do palanque nessa questão e evitar que a crise se agrave.

Médica diz que houve curso em Cuba para preparar profissionais, antes de o Brasil tornar público o programa

medicoscubanos-300x199A médica cubana Ramona Rodriguez contou que foi preparada em seu país para trabalhar no Brasil, no final de 2012, aproximadamente seis meses antes do anúncio do programa pela presidente Dilma Rousseff (PT). Ela deixou o programa e pediu asilo político no Brasil por não aceitar receber US$ 400 (R$ 965,00) do total dos R$ 10 mil pagos pelo governo federal para cada profissional.

As informações estão publicadas na Folha de S. Paulo desta sexta-feira (7). Segundo a médica, sua preparação para vir para o Brasil durou dois anos. Na primeira etapa, foi em português, em novembro de 2012. A segunda fase, em fevereiro de 2013, cujo tema central eram as doenças típicas do país.

Médico e integrante da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE) afirmou que a denúncia de Ramona mostra a “fragilidade” do Programa Mais Médicos. Segundo ele, a médica não é a única cubana disposta a permanecer no Brasil.

“No Ceará, já sabemos de vários profissionais cubanos que estão em busca de estratégias para ficar no Brasil. Uns pensam em casar, outros em ter filhos por aqui. Isso demonstra a insatisfação deles com o fato de não receberem o que merecem”, afirmou Mato.

Incoerência

A Folha de S. Paulo relata que no lançamento do Mais Médicos, a gestão Dilma insistia que a prioridade do programa eram os profissionais brasileiros, e não os cubanos. Porém, Ramona tem comprovantes do que denuncia. A médica tem o certificado da segunda etapa do curso. Segundo ela, um brasileiro foi enviado a Cuba para ministrar um curso.

No entanto, o Ministério da Saúde afirmou à Folha que não houve, em Cuba, nenhuma iniciativa de treinamento pelo governo brasileiro em 2012. A medida provisória que criou o Programa Mais Médicos foi editada em julho e só aprovada pelo Congresso em setembro.

Para Gomes de Matos, é essencial fazer uma análise profunda sobre o programa e tudo que o envolve. “Para agravar a situação os profissionais cubanos estão sendo tratados abaixo do nível dos direitos humanos. Isso é inaceitável”, disse ele. “Também descobri que só com carros de som o ministério gastou mais de R$ 500 mil para divulgar o Mais Médicos, como pode isso?”, reagiu.

Os gastos com publicidade no Ministério da Saúde aumentaram, desde o início da gestão de Alexandre Padilha – pré-candidato pelo PT ao governo de São Paulo. Em 2013, R$ 232 milhões foram pagos em propaganda, crescimento de 19,7% acima da inflação sobre os valores de 2012, que já haviam crescido 18,6% sobre 2011.

“Mais médicos na berlinda”, por Merval Pereira

mervalO caso da médica cubana Ramona Rodríguez (foto), que abandonou o programa Mais Médicos e está abrigada provisoriamente no gabinete do deputado do DEM Ronaldo Caiado em Brasília, traz de volta ao debate público questões básicas da democracia relacionadas com a contratação dos médicos cubanos para o programa.

Não está em jogo a capacitação desses médicos — criticada por setores médicos brasileiros — ou se o programa governista significa a solução para os problemas da Saúde Pública brasileira, como a propaganda oficial quer fazer crer. Essas questões merecem ser discutidas, mas, diante dos problemas éticos e de direitos humanos que surgiram com o sistema de contratação dos cubanos, devem ficar em segundo plano, enquanto o Ministério Público do Trabalho intervém para garantir os mínimos direitos a esses estrangeiros — que aqui estão ainda sob a vigilância da ditadura cubana, o que é inadmissível numa democracia.

Assim é que os médicos cubanos não podem sair de férias, a não ser que vão para Cuba, não podem manter contato com estrangeiros sem comunicar ao governo cubano, não podem desistir do programa e continuar por aqui. E, se depender do parecer do advogado-geral da União, Luís Adams, não podem nem mesmo pedir asilo ao Brasil.

Essa atitude brasileira já produziu fatos vergonhosos, não condizentes com o Estado democrático, como a entrega ao governo cubano dos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que haviam fugido da concentração durante os Jogos Pan-Americanos no Rio, em 2007, e queriam ficar no Brasil asilados.

Meses depois, desmentindo o governo brasileiro, que dissera que os cubanos pediram para voltar ao seu país, Erislandy Lara, bicampeão mundial amador da categoria até 69 quilos, chegou a Hamburgo, na Alemanha, depois de ter fugido em uma lancha de Cuba para o México.
Em 2009, Rigondeaux acabou fugindo para Miami, nos Estados Unidos.

Como já escrevi aqui, o caso dos médicos cubanos tem a mesma raiz ideológica. Cuba ganha mais com a exportação de médicos do que com o turismo, isso porque o dinheiro do pagamento individual é feito diretamente ao governo cubano, que repassa uma quantia ínfima aos médicos.

O governo brasileiro não apenas aceita essa mercantilização de pessoas como dá apoios suplementares: enquanto as famílias de médicos de outras nacionalidades podem vir para o Brasil, o governo brasileiro aceita que o governo cubano mantenha os parentes dos médicos enviados ao Brasil como reféns na ilha dos Castro.

O contrato dos médicos cubanos, sabe-se agora, é intermediado por uma tal de “Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Cubanos”, o que deveria ser investigado, pois não se sabe para onde vai o dinheiro arrecadado. Há desconfiança na oposição de que parte desse dinheiro volta para os cofres petistas, o que seria uma maneira de financiar um caixa dois para as eleições.

O Ministério Público do Trabalho, que não tivera até o momento acesso aos contratos firmados pelo governo brasileiro e a tal “Sociedade Mercantil”, o que é espantoso, a partir do depoimento da médica cubana decidiu cobrar do governo que mude a relação de trabalho com os médicos cubanos, obrigando a que seja igual à de outros médicos estrangeiros, que ficam integralmente com os R$ 10 mil pagos pelo governo brasileiro.

Não é de espantar que a deserção de médicos cubanos não seja maior, pois há uma série de constrangimentos legais e pessoais que tornam difícil uma atitude mais radical. O que importa é que o governo brasileiro está usando mão de obra explorada por uma ditadura para fingir que está resolvendo o problema de falta de médicos, enquanto nada está sendo feito para resolver o problema de maneira definitiva.

*Merval Pereira é jornalista, colunista de O Globo e da GloboNews, membro da Academia brasileira de Letras (ABL)