Meus amigos, o assunto é recorrente e muito grave, então precisamos mesmo falar sobre algo que se dissemina tão naturalmente: cultura do estupro.
Você sabia que a cada 2 dias uma mulher é atendida vítima de violência sexual no Estado do Espírito Santo. Sendo que, de todos os casos atendidos, 32% são meninas de até 10 anos e 55% meninas de até 14 anos. São 87% de casos que envolvem crianças e adolescentes.
Como eu disse, o assunto é grave! E merece mesmo nossa atenção.
Os dados alarmantes não param por aqui. Menos da metade dos casos de estupro são denunciados à polícia, e você sabe por quê? Porque as vítimas se sentem constrangidas de denunciar a violência e serem julgadas, e sumariamente condenadas por voltarem para casa tarde, por usarem roupas decotadas, por se arrumarem demais, por serem bonitas demais, por existirem.
Várias são as justificativas e motivos para uma mulher ser assediada e estuprada, mas poucos são os critérios usados para enfrentar uma cultura tão enraizada numa sociedade hipócrita como a nossa.
Uma única assertiva é correta e não podemos nos afastar dela: a vítima nunca será a culpada!
Antigamente, em minha época de infância, éramos criadas para entender nosso lugar um passo atrás de nossos maridos, tendo como principio básico e existencial a satisfação de suas vontades, logo crescemos para acreditar que a mulher existe para servir, em todos os aspectos, inclusive o sexual.
Essa cultura sempre foi disseminada de forma muito natural, nunca foi dificil ouvir numa roda de amigos homens, após a informação de que a esposa de algum deles terá uma menina a infeliz afirmação de que aquele pai “passou de consumidor à fornecedor”, ou “iiihh você se ferrou”.
Sim, já é um reconhecimento ao futuro assombroso que espera aquela menininha. Muitos assovios de “fiu-fiu” pelas ruas, muitos “gostoooosa” pelas calçadas, muitos “vagabunda” por suas escolhas, muitos “piranha” por não namorar e casar com o primeiro que aparecer (sim, ela tem esse direito!). É só um presságio do que ela vai enfrentar, do que nós todas enfrentamos.
Porém, já dizia o poeta “nunca é tarde para mudar”, também nunca será tarde para reagir, e hoje propomos uma mudança de paradigma, e sugerimos e apoiamos uma revolução de mulheres com informação e cultura, sabedoras de seu poder. Mulheres que interagem e lutam por igualdade, por melhores condições, por condenações exemplares e acima de tudo por respeito.
Não se opor a essa cultura é o mesmo que apoia-la, é permitir que milhares de mulheres e meninas sofram abusos caladas, que milhares de vidas sejam destruídas, pela simples idéia que homem tem algum poder sobre a mulher. Não tem! Os casos de violência sexual estão no 3º lugar no ranking nacional, com um total de 23.630 casos registrados no ano de 2015.
Então, não seja conivente com piadinhas machistas, nunca permita nem concorde em transferir qualquer parcela de culpa à vitíma, nem justifique um estupro porque:
- Ela era “bandida” e postava fotos com armas;
- Ela escolheu levar essa vida, portanto, devia saber que coisa boa não viria;
- Se estivesse na igreja, isso não teria acontecido;
- Ela estava em um baile funk;
- Ela não estava em casa, se estivesse isso não teria ocorrido;
- Ela vive com um e outro, nunca para com um homem só.
Nada justifica um estupro, e não existe argumento plausível a isso.
A título de informação, a maioria dos abusos é cometido contra crianças, e dentro do ambiente familiar, sim, dentro de casa! Então, eu te pergunto: e aí, alguém pode dizer que a criança se insinuou ou teve culpa? Não, obvio que não! Homens que creem na farsa de que possuem poder sobre qualquer mulher, irão se aproveitar de sua vulnerabilidade em qualquer lugar ou situação. Portanto, jamais culpe a vítima. Esta com certeza já sofreu violência demais para ainda ser culpabilizada.
Por isso, não contribua para a legitimação e para a propagação da cultura do estupro. A mulher tem o direito de escolher levar a vida que quiser, onde quiser, da forma que quiser, pelo simples fato de que ninguém merece sofrer essa violência.
Neuza de Oliveira, vereadora e Presidente Estadual do PSDB Mulher ES