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“Bondade também tem limite”, análise do ITV

dinheiro_0-1O governo está às voltas com a definição do orçamento a ser executado em 2017. Nos últimos anos, esta foi uma discussão quase esotérica, dada a distância entre o cenário róseo que o Executivo petista previa e o que a turva realidade impunha. Desta vez, é diferente: o desenho fiscal que sairá da proposta orçamentária a ser enviada ao Congresso nas próximas horas dará contornos mais nítidos à administração Michel Temer.

Até agora, a equipe econômica que assumiu há quase dois meses apenas demonstrou convicção de que é preciso colocar um freio nos gastos públicos. Mas fez pouco, por ora, para passar do diagnóstico à prática. Na outra ponta, o novo governo concedeu uma série de bondades que custarão mais de R$ 125 bilhões ao país. Assim a conta não fecha.

A disputa da vez envolve a definição da meta fiscal para 2017. Já se dá de barato que ela ficará no campo negativo, dada a penúria geral reinante no país. O problema é que há quem fale, no governo, em repetir o resultado deste ano, um rombo de R$ 170 bilhões. Para uma economia que estará há quatro anos no vermelho, é inaceitável.

Mostra do infortúnio que assola o país, estamos discutindo qual será o tamanho do rombo no próximo ano, e não quanto poderia sobrar de dinheiro para reduzir a assombrosa dívida pública brasileira, próxima de 80% do PIB. Esta herança maldita perdurará por muito tempo: apenas daqui a oito anos o déficit fiscal deve ser zerado, segundo projeção do Ibre-FGV.

O governo já começou a falar em aumentar tributos para obter mais receitas e produzir um resultado fiscal menos horroroso. Na lista estão a Cide sobre combustíveis, que é ruim para a inflação, e uma mudança na cobrança do PIS-Cofins, que vai esfolar os prestadores de serviços e gerar mais 2 milhões de desempregados, conforme o IBPT.

Antes de depenar ainda mais os contribuintes, o governo deveria buscar alternativas para ampliar os recursos à sua disposição, a começar pelo corte de gastos. Melhor ainda seria enveredar pelas privatizações, concessões e vendas de ativos. Têm duplo ganho: rendem dinheiro aos cofres públicos e livram o país de sorvedouros de dinheiro e fonte de corrupção.

Aumentar impostos deveria ser a derradeira opção considerada pela equipe do presidente Michel Temer para equilibrar as contas que recebeu em frangalhos da gestão Dilma. Se é para cobrar mais imposto, que seja de quem foi beneficiado por isenções tributárias tão irresponsáveis quanto improdutivas promovidas pelo petismo nos anos recentes.

É claro que, até a aprovação definitiva do impeachment, o governo atual ainda é de transição e as alternativas à mesa acabam sendo mais limitadas. É evidente também que Michel Temer é, no momento, a melhor opção para o país, senão a única. O importante é aproveitar o apoio de que dispõe para tomar as decisões corretas, e não insistir em caminhos que levam aos piores destinos, como a gastança e o impostaço.

Ricardo Ferraço anuncia voto contra reajuste do teto do funcionalismo em audiência com ministro do Planejamento

FERRAÇOO senador Ricardo Ferraço anunciou voto em separado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) contra o reajuste do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), teto do funcionalismo. Ele reiterou o caráter “inconveniente e intempestivo” do aumento, com efeito cascata sobre orçamentos de estados e municípios, ao impulsionar salários de parlamentares, desembargadores e juízes.

Durante audiência pública conjunta na CAE e Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, Ferraço lembrou que em ao menos sete estados (TO, PB, ES, RJ, CE, PI e MA) os gastos com folha de pagamento de tribunais locais já superaram limites prudenciais fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Por outro lado, o senador ressaltou que a economia do país expressa números iguais ao de um pós-guerra, exigindo compartilhamento de sacrifícios. “A profunda deterioração fiscal mostrou ser totalmente despropositado um esforço para ampliar vencimentos do topo do funcionalismo, ignorando a realidade de 11 milhões de desempregados”, sublinhou.

 

Herança Dilma: 5 milhões devem deixar a classe C nos próximos anos, caindo na pirâmide social

pobrezaebc-300x225Mais de 5 milhões de famílias brasileiras deverão deixar a classe C rumo à base da pirâmide social, entre os anos de 2014 e 2018. A situação é consequência da crise econômica instalada no país após 13 anos de governos do PT, aliada ao alto índice de desemprego, principalmente entre os trabalhadores com menor qualificação, como revela reportagem desta segunda-feira (4) do jornal Valor Econômico.

A renda per capita no Brasil terá a sua segunda maior queda em 116 anos. Com base no recuo de 3,5%  no Produto Interno Bruto (PIB) previsto para esse ano, o PIB per capita deve ter retração estimada em 9,5%.

Levantamento do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco em janeiro também apontou que a tendência do encolhimento da classe C deve continuar nos próximos anos. Segundo o Valor, apesar dos sinais de que a economia brasileira pode já ter superado seu pior momento, a tendência para 2017 é de que a renda continue a encolher.

O economista e deputado federal Giuseppe Vecci (PSDB-GO) aponta os fatos como consequência de uma sucessão de erros do governo petista.

“Cometeram um conjunto de questões erradas, de gastar mais do que podia, de toda essa política desastrosa, caótica, que a presidente Dilma implementou no país. Ela acabou, ela surfou um pouco nas bases que o governo Fernando Henrique Cardoso fez. A estatística não perdoa. Agora, você imagina 5 milhões de que haviam ascendido, que entraram para um consumo maior, com perspectiva de cada vez mais melhorar de vida, ter que retroceder”, criticou.

O deputado Giuseppe Vecci vê com preocupação o declínio da economia brasileira. “Não tem como renda per capita permanecer. E isso é ruim, isso é ruim. Quando um país não cresce, certamente há um conjunto de disfunções que atrapalham a vida das pessoas, do crescimento, de desenvolvimento.”

Clique aqui para ler a íntegra da reportagem do Valor Econômico.

Dilma tem a “oportunidade” de se defender em comissão, afirma Ricardo Ferraço

ferraco_interna29Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã da rádio Jovem Pan, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) afirmou que, caso a presidente afastada Dilma Rousseff, não se apresente pessoalmente para sua defesa na comissão do impeachment no Senado, ela “perderá a oportunidade”.

“Eu penso que ela deveria estar presente para que pudéssemos fazer debate face a face e pudéssemos enfrentar todas as questões investigadas não apenas na comissão, mas o conjunto da obra, ou da desconstrução que representou o Governo Dilma”, disse.

Ferraço alegou que o Código de Processo Penal fala que o advogado da defesa apenas se pronuncia nas alegações finais e que este não abre espaço para delegação. “Essa oportunidade [de defesa] é para a pessoa (…) Essa oportunidade terá que ser dada a ela. Se ela não quiser fazer, ela deve refletir, porque ela tem essa oportunidade. Se ela não for… o Código de Processo penal não permite que você terceirize isso para seus advogados”, explicou.

José Eduardo Cardozo, advogado da presidente afastada, adiantou que está avaliando aspectos políticos e jurídicos para determinar a ida ou não de Dilma à comissão.

“O que se tem que fazer é uma análise política e jurídica. Juridicamente, há algo que a presença da presidente possa trazer para um esclarecimento que não foi feito? Essa é a primeira questão que só pode ser analisada depois do depoimento das testemunhas e da perícia. Do ponto de vista político é recomendável que ela venha? Essa é uma outra questão”, disse.

Depoimentos da defesa

Questionado se o tempo de depoimentos de defesa não está se alongando muito, Ferraço afirmou que está sendo respeitada a decisão do Supremo Tribunal Federal.

“O Código de Processo Penal pede que se tenha cinco testemunhas por fato. Deveríamos ter 10 testemunhas, mas estamos com 40 por conta da decisão do Supremo. Estamos seguindo todo esse processo para não gerar aquilo que poderia se valer a presidente e seu advogado como cerceamento de defesa”, disse.

Segundo o senador tucano, Dilma teria chance de 10 testemunhas por conta de dois crimes pelos quais é acusada: edição de decretos e operações de créditos irregulares.

Ouça AQUI a entrevista

*Da Rádio Jovem Pan

Tucanos encerram Congresso da Juventude com debate sobre renovação de lideranças partidárias

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Wesley Goggi, presidente do PSDB Vitória, em sua palestra no Congresso Nacional da JPSDB, em Brasília

Um debate sobre a renovação de lideranças partidárias abriu o último dia do 2º Congresso Nacional da Juventude do PSDB, que lotou o auditório do Centro Internacional de Convenções do Brasil. O painel foi coordenado pelas deputadas federais Mariana Carvalho (PSDB-RO) e Shéridan (PSDB-RR) e ainda contou com a participação de dois ex-presidentes da juventude tucana: Wesley Goggi, atual presidente do PSDB em Vitória, e Marcello Richa, hoje presidente do ITV-PR. Os quatro destacaram os desafios da juventude na política, lembraram de suas experiências como jovens líderes tucanos e ressaltaram o papel que o PSDB tem na renovação da política nacional.

“Eu acredito muito naquela máxima de Martin Luther King que diz que pior que os erros dos maus é a omissão dos bons. Ela é uma máxima que condiz muito com a realidade atual, nesse momento de tanto desgaste que a gente vive na política nacional. A gente tem visto uma intolerância em todo lugar, mas acho que a maior expectativa, a maior esperança – e não é uma máxima demagoga ou porque estou em meio a muitos jovens – é de que a juventude constrói um novo momento e sim, que ela é a nossa esperança”, observou Shéridan.

Wesley Goggi destacou a renovação das lideranças realizada pelo PSDB nos últimos anos. Na sua visão, os jovens dão fundamentais no caminho de mudanças que o país deve trilhar.

“Eu falo muito que, antes de tudo, é preciso a gente assumir um lado. A gente não pode perder nossas convicções por questões meramente eleitorais. E somos nós, os jovens, armados de ideias e paixões, os mais capazes de liderarmos as mudanças necessárias para o nosso país”, afirmou o presidente do PSDB-Vitória. “Eu nunca deixei de falar e defende o que eu acredito: que a gente tem a democracia no nome do nosso partido e a gente não pode se esquecer disso”, completou Goggi.

Marcello Richa lembrou sua experiência como presidente da juventude tucana entre 2011 e 2015, ressaltando a força do PSDB em seu estado e as políticas públicas desenvolvidas pelas gestões tucanas ajudaram no desenvolvimento paranaense. “Nós temos que pensar hoje não apenas na renovação, na oxigenação dos nomes, como a Shéridan muito bem colocou, mas nas práticas, na forma como nos comunicamos com as pessoas hoje”, afirmou.

Para Mariana Carvalho, o Congresso da Juventude pode ser uma oportunidade para que os jovens tucanos se capacitem e aceitem o desafio de participar da vida política brasileira. Segundo a deputada, o país ainda sofre com uma baixa representatividade de jovens e de mulheres no Parlamento: “Hoje ainda, o nosso Parlamento tem um número reduzido de jovens e também de mulheres. Então estamos tentando, aqui, quem sabe, ser a referência e a motivação para muitos dos nossos jovens e das nossas mulheres para ocupar esses espaços. Esse é um ano muito importante, ano de eleição. E eu tenho certeza que muitos de vocês, aqui, serão candidatos. Ou tem alguns que estão com o coração ainda em dúvida se devem enfrentar esse desafio. Eu quero dizer a vocês que estão aqui hoje: aceitem esse desafio. O Brasil precisa da gente. As pessoas precisam de gente que gosta de gente. E aqui, dentro do PSDB, é onde temos essa juventude. Essa juventude que faz a diferença, essa juventude que acredita no país e num futuro melhor”.

 

22 anos de Plano Real: conquistas ameaçadas após 13 anos de governo do PT

fhc-cedulas-real-1Brasília (DF) – Neste último 1º de julho, o Plano Real completou 22 anos. Implementado em 1994 pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o PSDB mostrou, pela primeira vez, como se faz para tirar um país da crise. Oitava tentativa de estabilização da moeda desde o fim do regime militar, o Plano Real conseguiu pôr fim a uma hiperinflação que corroía em poucos dias qualquer salário e permitiu que os brasileiros voltassem a poder planejar seu futuro.

O Real resistiu bem até que os governos petistas chegaram ao poder e a economia brasileira passou a ser conduzida de acordo com os interesses de um partido e não mais de um país. Os brasileiros que desconheciam o que era inflação, agora sentem no bolso o seu peso, e ainda amargam os efeitos do crescimento do desemprego.

A taxa de desemprego bateu o patamar dos 11,4% no trimestre encerrado em maio deste ano, evidenciando uma das maiores crises do mercado de trabalho já registrada no país. São 11,4 milhões de brasileiros desempregados. O número equivale, surpreendentemente, à quantidade de habitantes da cidade de São Paulo. É como se todos os trabalhadores da capital estivesse desempregada.

No comando do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente afastada Dilma Rousseff tomaram uma série de decisões equivocadas e mentiram aos brasileiros ao esconder a crise em que haviam metido o Brasil.

“O PSDB ajudou, com trabalho e coragem, a trazer segurança para as famílias brasileiras. Mas tanta esperança e equilíbrio não resistiram à falta de responsabilidade e de seriedade do governo do PT”, destacou o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves, em seu perfil do Facebook.

E acrescentou: “Hoje, todos conhecemos a situação de desgoverno na qual o PT nos colocou. Ainda assim, é preciso que cada um de nós se fortaleça com a certeza de que é possível, novamente, com convergência e ética, transformarmos nosso Brasil. A estabilidade é nossa meta e a credibilidade do país é nosso compromisso”.

O desolador cenário econômico que antecedeu o lançamento do Plano Real foi lembrado pelo ministro das Relações Exteriores, o tucano José Serra. No primeiro semestre de 1994, a inflação totalizava 757%, uma média de 43% ao mês, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A remarcação de preços nos supermercados e estabelecimentos comerciais era praticamente diária, e os brasileiros sofriam com a perda gradativa do seu poder de compra.

“O então ministro Fernando Henrique Cardoso liderou a elaboração e o planejamento do Plano Real, cuja execução foi em seguida tocada pelo ministro da Fazenda que o sucedeu, Rubens Ricupero. A inflação, que em junho de 1994 (isso mesmo, mensal!), foi de 47,4%, caiu para 1,7% já em dezembro do mesmo ano”, escreveu Serra, em sua página no Facebook.

O ministro das Relações Exteriores salientou que o plano teve sucesso mesmo enfrentando a oposição do PT que, na figura de seu então candidato à Presidência, Lula, classificava o plano como “estelionato eleitoral”.

“Nunca mais o Brasil voltou a conviver com nada sequer parecido com a hiperinflação, que foi de fato exterminada pelo Real. Nem mesmo o lulopetismo, que namorou com a estagflação, conseguiu retroceder nesse aspecto. Vida longa ao Real”, completou Serra.

“Um pouco de bom senso”, por Fernando Henrique Cardoso

fhc-foto-alessandro-carvalho-agencia-de-noticias-psdb-mgDescartes, em frase famosa, escreveu que o bom senso é a faculdade melhor distribuída no mundo. Na época, bon sens se referia à razão. Traduzindo para hoje: a inteligência das pessoas se distribui entre elas seguindo uma curva normal. Pode ser. Mas o common sense dos americanos é outra coisa: a sabedoria. Seja no sentido francês, seja no inglês, parece que o mundo de hoje perdeu o senso.

De hoje? Muito comumente os que tomam decisões pouco se preocupam com os dias futuros. O tempo passa, e quem paga a conta são as gerações futuras. A falta de senso vem de longe. Basta olhar para o que vimos ainda esta semana. Seja o Isis, seja quem for o responsável pelos ataques terroristas na Turquia, eles são respostas irracionais a atos também irracionais do passado. Não foi o colonialismo inglês que partiu o Oriente Médio em Estados-nação que controlam etnias, religiões e culturas distintas? E, na África, os ingleses não contaram com a ativa cooperação dos franceses e demais potências ocidentais para criar países artificiais? Mais recentemente, não foram os americanos no Iraque, os europeus na Líbia, e todos juntos na Síria, que fizeram intervenções para restabelecer o “bom governo” e deixaram os países divididos e ingovernáveis? E não foram outras pessoas que pagaram com a vida, décadas depois, o ardor missionário dos terroristas de vários tipos?

Mais recentemente, a maioria dos britânicos votou por separar o Reino Unido da Comunidade Europeia. Só depois se assustaram. Amanhã, acaso os americanos não podem pregar uma peça neles próprios (e em todo o mundo) e eleger o Trump? Espero que não. Mas, em qualquer dos casos (e ainda que os ingleses tenham lá seus argumentos contra a “burocracia de Bruxelas”), as consequências, como a sabedoria de Eça fazia o conselheiro Acácio dizer, vêm sempre depois.

Escrevo isso não para justificar, mas para tentar explicar algo do que ocorre entre nós. Assim como no passado outras visões do mundo puderam levar alguns povos, momentaneamente, à insensatez, e esta cobrou seu preço no transcorrer do tempo, no mundo atual há um sentimento antiordem estabelecida, que poderá cobrar preço alto no futuro. Está na moda, por motivos compreensíveis, colocar no pelourinho a política e os políticos. Não é só aqui e vem de longe.

O mesmo movimento que levou à ampliação da interação social, saltando grupos, Estados e nações, baseado no acesso à informação e às novas tecnologias, pôs em xeque as instituições tradicionais, tanto das ditaduras como das democracias representativas. Foi assim na “primavera árabe”, do mesmo modo que nos movimentos dos “indignados” da Espanha, agora no anti-Bruxelas da Grã-Bretanha. E não é de outra índole o tipo estranho de protesto que permitiu Trump derrotar os “donos” do Partido Republicano, ou o susto que o senador Bernie pregou em Hillary. Por todos os lados há um mal-estar, um inconformismo: todos vêm e sabem que a vida pode ser melhor, sentem que o progresso material cria oportunidades, mas delas se apoderam alguns, não todos.

Deriva daí, como do desemprego, que é outra faceta da desigualdade básica de apropriação de oportunidades, uma insatisfação generalizada que se volta contra “los de arriba”. O horizonte parece toldado, mas não ao ponto de impedir que “los de abajo” vislumbrem bom tempo para alguns, o que irrita. Irrita mais ainda quando há um sentimento de impotência, porque os que sabem e possuem têm vantagens desproporcionais diante da maioria que vê o bonde da História passar.

Essa constatação só aumenta a angústia e a responsabilidade dos que dela têm noção. Tivemos no Brasil, à nossa moda, algo disso. Há responsáveis, mas não vem ao caso acusar. Provavelmente alguns deles, se forem intelectualmente honestos, estão se perguntando: por que não vi antes que endividar irresponsavelmente o país, mesmo que a pretexto de aumentar momentaneamente o bem-estar do povo e criar ilusões de crescimento econômico, é algo ruinoso, que as gerações futuras pagarão? Exemplo simples: quando foi derrotada a emenda na Previdência Social de meu governo, que definia uma idade mínima para as aposentadorias, não faltou quem gritasse vitória. Alguns dos mesmos que década depois se deram conta de que não se tratava de “neoliberalismo”, mas de projetar no futuro próximo as consequências financeiras de tendências demográficas inelutáveis. Diante do estrago, não adianta chorar: é darmo-nos as mãos e ver se encontramos caminhos.

Digo há tempos que o sistema político atual (eleitoral e partidário) está “bichado”. Sou defensor das ações da Lava-Jato e sei que sem elas seria mais difícil melhorar as coisas. Mas não nos iludamos: sem alguma forma de instituição política e sem políticos que a manejem, não será suficiente botar corruptos na cadeia para purgar erros de condução da economia e da política. Que se ponha na cadeia quem for responsável, mas que não se confunda tudo: nem todos os políticos basearam sua trajetória na transgressão, e nem todos que financiaram a política, bem como os que receberam ajuda financeira, foram doadores ou receptores de “propinas”. Se não se distinguir o que foi doação eleitoral dentro da lei do que foi “caixa dois”, e esta do que foi arranjo criminoso entre governo, partidos, funcionários e empresários, faremos o jogo de que “todos são iguais”.

Se fossem, que saída haveria? Está na hora de juntar as forças descomprometidas com o crime, e elas existem nos vários setores do espectro político, para que o bom senso volte a imperar e para que possamos recriar as instituições, entendendo que no mundo contemporâneo a transparência não é uma virtude, mas um imperativo, e, por outro lado, que se não houver meios institucionais para decidir e legitimar o que queremos não sairemos da desilusão e da perplexidade. Não é hora só para acusações, é hora também para a busca de convergências.

* Publicado neste domingo (3) pelo jornal O Globo.

“Gastos levam a nova marcha da insensatez”, diz Ricardo Ferraço

ferraco_interno*Entrevista concedida ao Valor Econômico. Clique AQUI para acessar.

Por Maria Cristina Fernandes

Ao votar pela admissibilidade do processo de impeachment, o senador Ricardo Ferraço disse que a eleição não havia conferido à presidente afastada Dilma Rousseff um salvo conduto ou um cheque em branco para se colocar acima da lei. Menos de dois meses depois, o senador voltou a se valer das mesmas expressões, mas dirige-as, desta vez, ao governo do presidente interino Michel Temer.

No dia seguinte à aprovação do projeto de reajuste salarial do funcionalismo que terá um impacto de R$ 25 bilhões para o Tesouro Nacional, Ferraço revelou seu desencanto: “Parece que a ficha não caiu. A situação é de colapso, mas estamos brincado de pique à beira do vulcão. Estamos numa marcha da insensatez”.

Titular da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Ferraço é um dos mais fiscalistas do Senado o que lhe torna um interlocutores mais frequentes do mercado financeiro na Casa. Depois de assistir com otimismo a posse de Temer, Ferraço viu o governo renegociar a dívida dos Estados que, na sua opinião, premiou os Estados que não fizeram a lição de casa, encaminhar a renegociação dos débitos do BNDES e, por último, aprovar o pacote de reajustes salariais: “Parece que a ficha não caiu. A situação é de colapso, mas estamos brincado de pique à beira do vulcão”.

Diz não acreditar que o impeachment corra riscos no Senado e não aceita a tese de que é a interinidade que leva a tantas concessões. Critica o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com quem jantou esta semana na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pela ambiguidade do discurso, e o presidente interino de ser perdulário com o capital de confiança que recebeu. “Afastamos uma presidente por crime de responsabilidade e estamos indo pelo mesmo caminho”. A seguir, a entrevista concedida, por telefone, ao Valor, na manhã de ontem, a partir de seu escritório, em Vitória:

Valor: O governo diz que todo o aumento de gastos que o Congresso vem chancelando cabe na meta fiscal. Não cabe?

Ricardo Ferraço: Parece que a ficha não caiu. A situação é de colapso, mas estamos brincado de pique à beira do vulcão. As estimativas de receita enviadas pelo Supremo [Tribunal Federal] para embasar seu pedido de aumento não condizem com a realidade. A receita teve o pior resultado da história em maio. Não digo que os funcionários não mereçam aumento, mas há tempo para tudo. E o sentimento da sociedade e do contribuinte é que não há mais como elevar a carga tributária.

Valor: Os senadores não estão sendo mais realistas que o rei?

Ferraço: Na prática é isso. Estamos sendo mais fiscalistas do que quem deveria ser. No jantar com o ministro [Henrique] Meirelles o questionamos sobre esses sinais ambíguos que o governo tem emitido, mas ele lavou as mãos. Disse que a decisão é do Congresso. Esperávamos que ele pintasse o quadro como é. Do jeito que vamos não será surpresa se tivermos que aprovar nova meta no fim do ano para abrigar tantos gastos.

Valor: O governo argumenta que o reajuste já estava contratado. Não estava?

Ferraço: Na reunião que fizemos com o ministro Dyogo Oliveira [Planejamento] ele disse que há espaço fiscal e que esse impacto está quantificado, mas não há contratação sem aprovação do Congresso e o Congresso não poderia ter aprovado esse aumento com a realidade que se impõe ao país.

Valor: O que tem levado a equipe econômica a ser tão leniente com esse aumento de gastos?

Ferraço: Francamente não sei. A receita cai e a despesa cresce numa velocidade muito maior. Não sei o que vem pela frente. Se continuarmos admitindo esse volume de pressão vai ser muito ruim. A PEC [proposta de emenda constitucional] dos gastos, que é fundamental, corre o risco de ficar desmoralizada antes mesmo de ter sido aprovada. Se chegarmos a 2019 nessa toada, o freio de arrumação vai ser intolerável. Temos que ir fazendo gradualmente. E não há nada mais inconveniente para isso do que aumentar o teto salarial. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece um limite de 6% para os tribunais de justiça nos Estados. O Espírito Santo, por exemplo, já estourou esse limite. Como é que vai abrigar esse aumento?

Valor: O senhor acha que o ministro da Fazenda está sendo político demais?

Ferraço: Sim. Os números falam por si. Os dados indicam que a crise é mais complexa que o discurso. Vivíamos num período de guerra e agora estamos no pós-guerra. Depois dessa pressão toda do Judiciário quem garante que não virão outras pressões? Se dou mais para um, outros vão querer. A pílula está sendo dourada para além da realidade. Ora recebemos a informação de que o quadro é dramático. Ora de que cabe tudo no déficit. Está faltando uma conversa clara.

Valor: O governo esperava que essa PEC dos gastos estabelecesse a percepção de mudança no regime fiscal do país, ainda que no longo prazo. Não conseguirá?

Ferraço: Não é isso que estou vendo. O mercado não via luz no fim do túnel. Com o novo governo, todos passaram a enxergá-lo. O selo de validade existe, mas corremos o risco de rasgá-lo. O presidente do Banco Central disse que a solução dos juros está condicionada à política fiscal. Sem desatar o nó fiscal não resolvemos a inflação. Vamos novamente recorrer à ancora cambial. É peso demais para o câmbio sustentar a inflação. O Brasil não é competitivo com o câmbio inferior a R$ 3,20. A classe política não quer entender que a marcha da insensatez precisa ser interrompida. Estamos indo a mercado pagar juros caríssimos para manter o custeio de uma máquina que não para de inchar. O dinheiro que estamos canalizando para esses gastos estamos tirando de necessidades básicas da população. Não estamos sabendo priorizar. O governo que passou achava que o dinheiro nasce em árvore e levou o país a um nível de endividamento que nunca se viu. Não podemos imitá-lo.

Valor: Em escala de gravidade qual foi pior gasto deste governo?

Ferraço: Expandimos os gastos em R$ 125 bilhões. Esse impacto não é só em 2016. Somem-se Bolsa Família, a renegociação das dívidas estaduais, dos débitos com o BNDES. A negociação com os Estados contrariou aqueles que fizeram o dever de casa, como o Espírito Santo, que se apertou para se enquadrar. Todos esses esqueletos vão sendo tirados do armário. A PEC dos gastos não impõe dever de casa aos Estados. A equipe econômica resgatou a confiança mas não tem salvo conduto, não recebeu um cheque em branco. Estamos a caminho de uma marcha da insensatez.

Valor: A gastança não se deve a um temor do governo em relação ao impeachment?

Ferraço: Não acredito. Os debates na CAE iam bem. O senador Romero Jucá atropelou-o com a negociação da proposta de reajuste. Os anexos da proposta indicavam que se aprovássemos aquilo estaríamos incorrendo em crime de responsabilidade. Afastamos uma presidente da República por isso e fazemos o mesmo? Não sou a primeira pessoa a falar isso. É claro que o mercado vai ficar muito feliz quando a gente aprovar essa PEC dos gastos porque vai sinalizar que estamos longe do default mas o projeto adia o problema. A Justiça brasileira é uma das mais caras do mundo. Custa 1,2% do PIB. Nos Estados Unidos custa 0,3%. Quando se projeta a aprovação da PEC dos gastos para 2019 o que aparece é que vamos ter que cortar 25% no custeio do Judiciário para enquadrá-lo nos limites. Como vai ser? Conquistamos um capital, a confiança é importante, mas a confiança tem limites.

Valor: Não é a interinidade que leva o presidente a ter que fazer concessões além da conta?

Ferraço: Não acredito que o impeachment corra risco. O impeachment está nas mãos do Senado. Estamos decidindo sobre o futuro do Brasil. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? Não tem necessidade de fazer esse jogo para confirmar o impeachment. O governo Temer é de transição. Deve buscar a unidade nacional para arrumar a casa. O legado é terrível. Ele entrou com um enorme capital, mas não tem salvo conduto. Estamos sendo observados não pelo que falamos, mas pelo que fazemos.

“Real, 22 anos”, por Aécio Neves

aecio-neves-foto-george-gianni-4-1*Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo – 04/07/16

Não é a primeira vez que me refiro, neste espaço, ao advento do Real, que está completando 22 anos.

Faço isso como reconhecimento a um esforço que reuniu coragem, responsabilidade e compromisso com o país e acabou por se transformar em um ponto fora da curva na história da administração pública brasileira, refém, tantas vezes, da passividade e de interesses que não os coletivos.

Desse ponto de vista, a estabilidade monetária foi uma das maiores conquistas da sociedade brasileira nos anos recentes, após inúmeras tentativas de derrotar a doença crônica da inflação, que roubava os salários dos trabalhadores muito antes de cada mês terminar.

A atuação decidida dos governos dos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso venceu resistências e superou expectativas. Naquele percurso, foram sempre fundamentais a confiança e a adesão da população, bases sobre a quais se estabeleceram no país, legitimamente, as novas regras para o funcionamento da economia.

*Clique aqui para ler o artigo na íntegra.

“Inflação na mira”, análise do ITV

supermercado_02072012_credj_freitas_abr_-300x225Durante os últimos anos, inflação foi tratada pelos governos do PT como assunto de menor importância. Deu no que deu: a carestia rouba pedaços crescentes dos salários dos brasileiros, também aviltados pela recessão e pelo desemprego. Mas parece que agora a alta de preços voltará a ser combatida com a seriedade necessária.

Nesta semana, o novo presidente do Banco Central deixou qualquer sutileza ou tibieza de lado para afirmar que, com ele, a regra é clara: a inflação tem que baixar para a meta. Perto da leniência típica de seus antecessores imediatos, Ilan Goldfajn é quase uma quimera.

Desde 2005, o regime de metas preconiza que a inflação no país deve ser de 4,5% ao ano, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo. Desde 2009, a variação de preços não passa nem perto do objetivo – dizer que o limite superior é “meta” é uma distorção.

No ano passado, o IPCA atingiu 10,6%, maior patamar desde 2002. Atualmente, a inflação está em 9,3% nos 12 meses até maio e a projeção é de que feche o ano em 7,3%, ou seja, novamente ao arrepio do que determina o objetivo da política monetária.

Um passo importante rumo ao maior controle da inflação pode ser dado hoje pelo Conselho Monetário Nacional. O órgão colegiado reúne-se para chancelar a meta de 4,5% para 2017, que já prevê o encurtamento do intervalo de tolerância para 1,5 ponto, e definir o patamar a ser perseguido em 2018. Em sua edição de hoje, o Valor Econômico afiança que a decisão será por baixar a meta de daqui a dois anos para 4,25% ou até 4%.

A derrocada da hiperinflação foi uma das principais conquistas da sociedade brasileira na história recente. Há toda uma geração de jovens que nem faz ideia de que, pouco mais de 20 anos atrás, o salário chegava ao fim do mês valendo apenas uma fração do que valia quando era pago. Houve mês com inflação de mais de 80%.

Este tempo, felizmente, passou. Mas houve momentos na nossa história recente em que namoramos a volta do descontrole – está cheio de petista diplomado que acha que mais inflação gera mais crescimento… É este processo de tolerância que começa agora a ser revertido com a nova política monetária posta em marcha pelo BC.

Mas a desintoxicação não estará completa enquanto também não restabelecermos as duas outras pernas do tripé que sustentou a economia brasileira a partir do final do século passado e permitiu que o país experimentasse a maior bonança dos últimos anos: a responsabilidade com os gastos públicos e a livre flutuação do câmbio.

Na realidade, o que o país precisa executar é uma espécie de detox das práticas desvirtuadas que afundaram nossa economia. Colocar a inflação de novo no centro da mira é passo importante nesta estratégia, que só logrará sucesso se o dinheiro recolhido dos contribuintes voltar a ser tratado também com a seriedade que merece.