Faz a fama
- Tiago Oliveira
- 7 de maio de 2014
- Charge Destaque Home, Charges, Imprensa
PSDB – ES
A candidata à reeleição adotou uma nova prática nas últimas semanas: abre as portas dos palácios de governo para oferecer convescotes que invariavelmente transforma em palanque de campanha. Nestas ocasiões, Dilma Rousseff acaba sempre por revelar um pouco mais de sua particular visão de mundo. Em alguns casos, ela parece ter chegado da lua.
Ontem à noite, a presidente recebeu um grupo de jornalistas para mais um jantar de, digamos, confraternização no Alvorada. Na semana passada, havia aberto as portas do palácio para editores de esportes, um grupo dominado por homens. Já Lula, seu tutor, prefere falar com os “blogueiros progressistas”, aquela gente paga pelo governo para falar bem do governo…
No encontro de ontem, segundo relato publicado pela Folha de S.Paulo, Dilma, entre outros assuntos, admitiu que “não está tudo bem” em relação à inflação brasileira. Será que só agora a presidente percebeu isso? Será porque, como mandatária, não tem que passar pelo perrengue de ir à feira e constatar, a cada semana, que o salário compra cada vez menos comida?
Dilma chega ao último ano de seu mandato vendo a inflação decolar sem que tenha feito movimento à altura para conter os aumentos em série. Ela nunca cumpriu por um ano sequer a meta fixada para a política monetária e deve entregar, pelo segundo ano consecutivo, preços mais altos que os vigentes no ano anterior. Legará ao sucessor inflação maior que a que recebeu, algo inédito desde a estabilidade conquistada com o Plano Real.
A presidente parece não ver problema algum nesta receita indigesta. Enxerga – e só ela consegue isso – um futuro venturoso para uma política que, à inflação em alta constante, junta crescimento econômico minúsculo por anos a fio. Para Dilma Rousseff, esta combinação é, na verdade, um anabolizante e tanto. De que planeta ela aterrissou?
No convescote de ontem, a presidente afirmou às jornalistas que erra quem prevê um ano de ajustes e dificuldades em 2015. Segundo sua visão particular da realidade, no ano que vem o Brasil estará, isto sim, “bombando”. Só se for no sentido literal mesmo, sob uma chuva de mísseis… Existe consenso hoje – e até gente do governo admite – que do jeito que está não dá para ficar.
Em razão da forma como vem sendo governado pelo PT, o país tem uma série de bombas-relógio armadas para explodir nos próximos meses. Há desde a inflação represada de preços administrados, como energia e combustíveis, até o crônico desequilíbrio entre receitas e despesas, agravado sobremaneira nos últimos 12 anos.
Até Dilma, ainda que em atos falhos, admite isso. Em discurso ontem à tarde, ela disse que está “sofrendo” com decisões tomadas pelo antecessor: “Eu tenho certeza que o mundo brasileiro daqui a três anos será melhor que o de hoje, porque hoje eu já estou sofrendo, ou melhor, me beneficiando das decisões tomadas no período Lula”.
Quando resolve tratar de problemas que o país ainda tem a vencer, Dilma insiste na odiosa transferência de responsabilidades. Três mandatos após a chegada de seu partido ao poder, continua culpando investimentos que “não foram feitos no passado” por atrasos como, por exemplo, no saneamento – área em que as gestões petistas tiveram resultados piores que as anteriores. Doze anos é pouco para mudar uma situação?
Para convencer incautos, Dilma lança mão de uma alquimia de estatísticas, saídas das pajelanças produzidas por Marcelo Néri no Ipea. Tenta mostrar aos brasileiros que a situação vai bem e que o problema é que nós, pobres e ignorantes mortais, não temos capacidade para perceber isso. Faltam feira e supermercado neste elixir – ou, talvez, torturar um pouco mais os números…
Os momentos de ensaiada descontração que promove nos palácios permitem aos brasileiros conhecer mais amiúde os pontos de vista da presidente. Na conversa com os jornalistas esportivos, por exemplo, Dilma deixou transparecer que prefere a atenção de médicos vindos de Cuba do que a capacidade dos médicos brasileiros. É de se sugerir que ela vá se cuidar na ilha quando, e se, suas condições de saúde voltarem a exigir.
Mas o que tais ocasiões trazem de melhor é permitir à população avaliar melhor no que estará incorrendo caso opte por manter Dilma Rousseff por mais quatro anos no principal gabinete do Palácio do Planalto. Resta evidente que a percepção da presidente sobre a nossa realidade aproxima-se da de quem tivesse chegado ontem de uma viagem à lua. Lá, aliás, é bom destino para ela a partir de 2015.
Brasília (DF) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva nesta terça-feira (6) sobre a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. A seguir, a entrevista.
Sobre reunião de hoje de parlamentares da oposição com o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Não viemos pedir ao presidente Renan. Viemos saber do presidente Renan quais as providências tomadas. A oposição veio ao presidente do Senado, Renan Calheiros, para saber quais os procedimentos que ele irá tomar para instalação imediata da CPMI. O presidente Renan nos comunicou que amanhã, nesta quarta-feira, às 20 horas, convoca uma reunião do Congresso Nacional, e solicita aos líderes partidários a indicação dos membros que irão compor a CPMI. E se em um prazo de três sessões, sessões ordinárias da Câmara dos Deputados, não houver a indicação de membros por parte, por exemplo, de alguns partidos da base governista que não querem a apuração, num prazo máximo de três sessões o próprio presidente Renan Calheiros faz a indicação.
As oposições irão fazer amanhã a indicação dos membros para a CPMI, Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. E vou repetir o que tenho dito: uma CPI não prejulga, muito menos pré-condena quem quer que seja. É a oportunidade que a sociedade brasileira vai ter para saber efetivamente de que forma a maior empresa brasileira, a Petrobras, vem sendo governada ao longo desses últimos anos. Não há mais como postergar, não há mais como adiar a instalação da CPMI. Amanhã, portanto, a indicação dos nomes para a CPMI, e achamos que é justo que o Senado e a Câmara dos Deputados participem da investigação.
Sobre recurso do presidente Renan à decisão da ministra Rosa Weber.
Não tem efeito suspensivo. Ele tem o direito de recorrer, como fez no Senado, é a sua própria decisão, e vai fará isso como presidente do Congresso, mas não há efeito suspensivo. A partir do momento em que os membros forem indicados, a CPMI começa a funcionar. Porque a liminar da ministra Rosa Weber vale para a CPI, onde ela determina a sua instalação. E ele compreende, isso ficou claro na nossa interlocução de agora, ficou claro que ele compreende que a decisão da ministra Rosa Weber vale também para a CPMI. O recurso não adia, o recurso não interrompe o processo de instalação e início dos trabalhos. Calculando as três sessões para que o conjunto das indicações possam chegar, no máximo na semana que vem teremos o início dos trabalhos da CPI.
Sobre CPI no Senado.
Não tem sentido, na nossa avaliação, termos duas comissões parlamentares de inquérito funcionando concomitantemente. Isso só serve àqueles que não querem investigação. Avaliamos, os líderes da oposição e setores da base, da Câmara em especial, que o correto seria uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), onde os deputados federais e senadores pudessem participar das investigações. E vamos aguardar amanhã a sessão do Congresso Nacional, esse é o compromisso formal do presidente Renan Calheiros, até porque ele não poderia fugir desse compromisso. Amanhã, indicam-se os nomes e, a partir da semana que vem, iniciam-se os trabalhos da CPMI.
“Incentivar a adoção de animais domésticos que se encontram em abrigos ou abandonados; orientar quanto aos cuidados e tratamentos com os animais e conscientizar quanto à proibição da prática de maus-tratos; orientar sobre as doenças, formas de transmissão e prevenção e divulgar e prestar esclarecimentos sobre as leis de proteção aos animais”, são esses os objetivos da Política de Estímulo à Adoção de Animais Domésticos proposta pela vereador Válber Salarini na sessão desta terça-feira (29) através do Projeto de Lei nº 39/2014.
O Projeto estabelece, ainda, que o Poder Executivo promoverá anualmente a Semana de Incentivo à Adoção de Animais Domésticos podendo inclusive firmar convênios e parcerias com instituições de ensino veterinário, bem como organizações não governamentais voltadas à proteção animal.
“A decisão de adotar um animal doméstico é uma excelente forma de priorizar o cuidado aos animais. Sem este gesto, esses animais permanecerão vagando pelas ruas ou sob os cuidados de um abrigo, o que a médio e longo prazo acarretará no super-lotamento desse espaço. A causa dos animais está conquistando novos adeptos e o poder público deve envolver-se nessa ação. Este projeto visa criar uma política municipal onde o poder público estimule o respeito aos animais e o cuidado através da adoção”, explicou Válber.
Deputados do PSDB reagiram ao uso abusivo da cadeia nacional de rádio e televisão pela presidente Dilma Rousseff no Dia do Trabalhador. Na véspera do 1º de maio, a petista fez seu 20º pronunciamento oficial e aproveitou o espaço reservado ao governo para fazer campanha eleitoral explícita, como destacaram os tucanos. Na avaliação deles, além de agredir o Estado de Direito ao transformar um instrumento legítimo de governança em canais de difusão de propaganda político-partidária, a mandatária fez um discurso permeado apenas por mentiras e meias verdades.
O deputado César Colnago (ES) disse que está “completamente errada” a forma como Dilma usa o espaço destinado aos pronunciamentos oficiais. “O governo do PT, que tem um ranço autoritário, faz confusão entre o que é governo e o que é Estado. Estão usando um espaço institucional da Presidência da República em beneficio da candidata Dilma. Na minha visão, isso é ilegal”, apontou.
Por mais de quatro minutos, Dilma, em tom de campanha, prometeu aumento para os beneficiários do Bolsa Família, falou sobre a correção da tabela do IR, salário mínimo, e elencou uma série de promessas relacionadas. “Isso está errado. É um absurdo. Ela tem que esperar o período eleitoral”, critica Colnago.
“A verdade é que ela ficou lá prometendo coisas com fins eleitoreiros, mostrando, inclusive, falta de responsabilidade com as contas do governo, afinal, há um grande desequilíbrio das contas públicas e a inflação está batendo à porta”, ressaltou o tucano. Para ele, o pronunciamento foi fruto do desespero diante das últimas quedas de popularidade.
São Paulo (SP) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva nesta segunda-feira (5), em São Paulo, na sede do Sindicato Nacional dos Aposentados.
A seguir, a entrevista em que ele respondeu perguntas sobre reivindicações de trabalhadores e aposentados.
Sobre o fator previdenciário?
Recebi aqui hoje, e fico muito feliz, uma extensa pauta de reivindicações dos trabalhadores brasileiros, representados aqui pelo Sindicato de Aposentados e outros sindicatos ligados à Força. Todos esses temas serão debatidos por nós com absoluta transparência. Convidei o ex-presidente do Sindicato dos Aposentados, o conhecido João Feio, para participar, ao lado do governador Anastasia, da formulação das nossas propostas. Essa questão, assim como outras, serão debatidas e obviamente avaliadas na sua extensão e nas suas consequências. O que há é uma disposição minha clara, e essa é razão de esse gesto ter sido o primeiro sindicato em São Paulo que venho visitar, de incluir demandas dos aposentados, da classe trabalhadora, nas discussões do nosso programa de governo. Todos esses temas, sem exceção, e são cerca de 12 propostas, serão discutidos e debatidos. Sobre cada uma delas, durante a campanha, nós teremos a nossa posição.
É possível conciliar a agenda da ortodoxia fiscal com a agenda trabalhista?
Temos que fazer isso com a absoluta responsabilidade e acho que sim, porque um dos objetivos maiores nossos, por exemplo, é acabar com a inflação. E isso atende fundamentalmente ao trabalhador, ao que mais precisa. Quando eu falo em recuperar a indústria, a quem isso atende? Ao trabalhador, que está vendo os empregos de maior remuneração indo embora. Quando falo em termos uma política fiscal transparente, que resgate o emprego no Brasil, e os investimentos também no Brasil, eu estou falando em voltar a crescer. Não indicadores pífios, como hoje. Quando voltarmos a crescer, quem ganha? Ganha o trabalhador. Acho que é absolutamente compatível. Agora, faremos tudo com a absoluta responsabilidade – como, aliás, tenho agido ao longo de toda a minha vida pública.
Sobre a fórmula de reajuste do salário mínimo.
Essa é uma conquista inexorável, que não é de um governo, de um partido. E nem pode ser usada como instrumento de propaganda eleitoral. Tanto que existe um projeto, que foi assinado pelo líder do meu partido na Câmara dos Deputados, que estende, até 2019, o atual reajuste, com base na inflação e na média do crescimento do PIB nos dois anos anteriores. Votamos isso no Congresso Nacional. O que é equivocado é o governo usar isso em véspera de uma eleição como se fosse uma bondade de um partido político. Não é. É uma conquista dos trabalhadores.
Sobre a possibilidade de flexibilização de leis no turismo.
Todos os direitos dos trabalhadores serão garantidos. Eu tenho, na minha história, o DNA de quem assinou a Constituição de 1988, que trouxe direitos fundamentais aos trabalhadores. Todos os direitos dos trabalhadores serão garantidos. Se houver alguma demanda de trabalhadores de determinado setor, será discutida com eles, jamais contra eles.
Eu, como boa parte dos leitores de jornal, nem aguento mais ler as notícias que entremeiam política com corrupção. É um sem fim de escândalos. Algumas vezes, mesmo sem que haja indícios firmes, os nomes dos políticos aparecem enlameados. Pior, de tantos casos com provas veementes de envolvimento em “malfeitos” basta citar alguém para que o leitor se convença de imediato de sua culpabilidade. A sociedade já não tem mais dúvidas: se há fumaça, há fogo.
Não escrevo isso para negar responsabilidade de alguém especificamente, nem muito menos para amenizar eventuais culpas dos que se envolveram em escândalos, nem tampouco para desacreditar de antemão as denúncias. Os escândalos jorram em abundância, não dá para tapar o sol com peneira. O da Petrobras é o mais simbólico, dado o apreço que todos temos pelo que a companhia fez para o Brasil. Escrevo porque os escândalos que vêm aparecendo numa onda crescente são sintomas de algo mais grave: é o próprio sistema político atual que está em causa, notadamente suas práticas eleitorais e partidárias. Nenhum governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema político que permitiu a criação de mais de trinta partidos, dos quais vinte e poucos com assento no Congresso. A criação pelo governo atual de trinta e nove ministérios para atender as demandas dos partidos é prova disso e, ao mesmo tempo, é garantia de insucesso administrativo e da conivência com práticas de corrupção, apesar da resistência a estas práticas por alguns membros do governo.
Não quero atirar a primeira pedra, mesmo porque muitas já foram lançadas. Não é de hoje que as coisas funcionam dessa maneira. Mas a contaminação da vida político-administrativa foi-se agravando até chegarmos ao ponto a que chegamos. Se no passado, nosso sistema de governo foi chamado de “presidencialismo de coalisão”, agora ele é apenas um “presidencialismo de cooptação”. Eu nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez questão de formar uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou melhor, posso entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia. Não vê a política como um jogo de diversidade no qual as maiorias se compõem para fins específicos, mas sem a pretensão de absorver a vida política nacional sob um comando centralizado.
Meu próprio governo precisou formar maiorias. Mas havia um objetivo político claro: precisávamos de três quintos da Câmara e do Senado para aprovar reformas constitucionais necessárias à modernização do país. Ora, os governos que me sucederam não reformaram nada nem precisaram de tal maioria para aprovar emendas constitucionais. Deixaram-se levar pela dinâmica dos interesses partidários. Não só do partido hegemônico no governo, o PT, nem dos maiores, como o PMDB, mas de qualquer agregação de vinte, trinta ou quarenta parlamentares, às vezes menos, que, para participar da “base de apoio”, se organizam numa sigla e pleiteiam participação no governo: um ministério, se possível; senão uma diretoria de empresa estatal ou uma repartição pública importante. Daí serem precisos trinta e nove ministérios para dar cabida a tantos aderentes. No México do PRI dizia-se que fora do orçamento não havia salvação…
A raiz desse sistema se encontra nas regras eleitorais que levam os partidos a apresentarem uma lista enorme de candidatos em cada estado para, nelas, o eleitor escolher seu preferido, sem saber bem quem são ou que significado político-partidário tem. Logo depois nem se lembra em quem votou. A isso se acrescenta a liberalidade de nossa Constituição, que assegura ampla liberdade para a formação de partidos. Por isso, não se podem obter melhorias nessas regras por intermédio da legislação ordinária. Algumas dessas melhorias foram aprovadas pelos parlamentares. Por exemplo, a exigência de uma proporção mínima de votos em certo número de estados para a autorização do funcionamento dos partidos no Congresso. Ou a proibição de coligações nas eleições proporcionais, por meio das quais se elegem deputados de um partido coligado aproveitando a sobra de votos de outro partido. Ambas foram recusadas por inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal.
Com o número absurdo de partidos (a maior parte deles meras siglas sem programa, organização ou militância), forma-se, a cada eleição, uma colcha de retalhos no Congresso, em que mesmo os maiores partidos não têm mais do que um pedaço pequeno da representação total. Até a segunda eleição de Lula, os presidentes se elegiam apoiados em uma coalizão de partidos e logo tinham de ampliá-la para ter a maioria no Congresso. De lá para cá, a coalizão eleitoral passou a assegurar maioria parlamentar. Mas, por vocação do PT à hegemonia, o sistema degenerou no que chamo de “presidencialismo de cooptação”. E deu no que deu: um festival de incoerências políticas e portas abertas à cumplicidade diante da corrupção.
Mudar o sistema atual é uma responsabilidade coletiva. Repito o que disse, em outra oportunidade, a todos os que exerceram ou exercem a Presidência: por que não assumimos nossas responsabilidades, por mais diversa que tenha sido nossa parcela individual no processo que nos levou a tal situação, e nos propomos a fazer conjuntamente o que nossos partidos, por suas impossibilidades e por seus interesses, não querem fazer: mudar o sistema? Sei que se trata de um grito um tanto ingênuo, pedir grandeza. A visão de curto prazo encolhe o horizonte para o hoje e deixa o amanhã distante. Ainda assim, sem um pouco de quixotismo, nada muda.
Se, de fato, queremos sair do lodaçal que afoga a política e conservar a democracia que tanto custou ao povo conquistar, vamos esperar que uma crise maior destrua a crença em tudo e a mudança seja feita não pelo consenso democrático, mas pela vontade férrea de algum salvador da pátria?
*Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República
**Artigo publicado no Observador Político – 05-05-2014
Há pouco mais de um ano, Francisco tornou-se papa. Sua eleição trouxe ventos de renovação para os católicos que nutrem especial esperança no carismático líder da igreja. Em Belo Horizonte, comemoramos em março 10 anos do arcebispado de dom Walmor Oliveira de Azevedo. Esse período representou o fortalecimento da Igreja na nossa região metropolitana e o privilégio da convivência com um homem de firme devoção nos ensinamentos de Cristo, incansável operário da peregrinação, notável orador e visionário da construção permanente do catolicismo.
Nosso arcebispo nasceu em Cocos, interior baiano, em 1954. Em 1970 mudou-se para Minas, iniciando seus estudos no seminário Santo Antônio, em Juiz de Fora. Dedicou-se com afinco aos estudos, graduando-se em filosofia e teologia, e, na Itália, complementou sua formação acadêmica com mestrado em ciências bíblicas e doutorado em teologia. Mais tarde tornou-se reitor do seminário onde foi estudante.
Ordenado sacerdote, em 1977 foi designado para a Arquidiocese de Juiz de Fora, onde ficou até 1988, ocasião em que retornou a sua terra natal como bispo auxiliar de Salvador. Em 26 de março de 2004, volta a sua terra adotiva como arcebispo metropolitano de BH, nomeado pelo papa João Paulo II.
Escolheu um lema do livro do profeta Isaías para sua vida episcopal: “Enviou-me para curar os corações feridos”. Nada mais atual. Nós temos uma chaga em nosso coração causada pela crise moral que se alastrou na sociedade contemporânea.
Nas pregações de suas inesquecíveis homilias ou nos tocantes artigos semanais no Estado de Minas, temos ensinamentos e sólidos testemunhos de fé cristã e valores humanísticos e espirituais. Temos um norte para traçarmos nossa conduta e trilharmos o caminho do bem.
Ele sempre demonstra atenção com o papel da Igreja no anúncio do evangelho. Na busca do equilíbrio humanitário demonstra sua crença na “vida plena do homem, fazendo do outro destinatário de um amor comprometido”.
Dom Walmor é um observador atento dos temas atuais e sempre toca nas nossas feridas sociais: a exclusão social, a intolerância, a corrupção, a degradação dos valores etc. E tem sintonia com nossas agendas incompletas de país: segurança pública, educação, trabalho, saúde, moradia e política de qualidade.
Lembra sempre do motor central para as transformações que a sociedade precisa, a família. “O núcleo familiar será sempre o ponto de partida e fonte perene de referência, escola vivencial para aprendizagem do amor e da fidelidade a Deus e ao outro.”
Sua luta para a construção da catedral Cristo Rei demonstra sua preocupação com o fortalecimento da igreja e sua abrangência em todas as comunidades de nossa região metropolitana.
Tenho particular apreço pelo carinho que o arcebispo concede ao meu pai. Nossa gratidão à Bahia por esse cidadão depositário de nossos melhores valores de mineiridade. Parabéns, dom Walmor, por esses 10 anos de fé, luta, coragem, exemplos e preciosos ensinamentos. Que Deus lhe conceda saúde e vida longa para pregar sua inspiradora palavra.
*Rodrigo de Castro é deputado federal (PSDB-MG)
Desde que, em 2009, foi ungida candidata à sucessão de Lula, Dilma Rousseff habituou-se a viver em clima de palanque. Mesmo nos três anos e pouco de seu governo, tem sido assim. Sua administração notabiliza-se por um moto-contínuo de anúncios que se realimentam e se reinventam sem chegar a nenhum lugar. O PAC é o melhor exemplo disso.
Hoje, a presidente abrirá as portas do Palácio do Planalto para mais uma cerimônia dedicada a um subitem do programa que deveria acelerar o crescimento do país, mas que apenas levou o Brasil a ser a nação em que o PIB menos avançou em toda a América do Sul desde que o PT ascendeu ao poder, como mostrou estudo recente do Instituto Teotônio Vilela.
O PAC da vez será dedicado a obras de saneamento em municípios com população de até 50 mil habitantes. É espantoso como – prestes a completar três ciclos de governo, quase 12 anos depois de assumir o poder – só agora o petismo se importe com um dos maiores desastres existentes entre os serviços públicos prestados no país.
A situação do saneamento no Brasil é de indigência. Recentemente, aparecemos na 112ª posição num ranking que mede a situação deste serviço em 200 países do mundo. Pudera: 52% da população brasileira sequer possui serviço de coleta de esgotos – são 35,5 milhões de moradias nestas condições – e apenas 37% do que é recolhido recebe tratamento adequado. Um descalabro de saúde e de meio ambiente.
Os petistas adoram falar que receberam uma herança maldita e que, devido a um suposto histórico de falta de planejamento até outro dia vigente no país, só na era PT o Brasil reencontrou o caminho da ventura. Lorota. É só ver o que aconteceu no saneamento mesmo. Na última década, o que já era ruim ficou ainda pior: o ritmo de expansão dos serviços de saneamento no país diminuiu. A média anual caiu para 4,1%, ante patamar histórico de 4,6%.
Tal situação até poderia servir para justificar o PAC do Saneamento que Dilma lança hoje para cidades de menor porte. Mas o fato é que, desde 2010, existe outro PAC para o setor e este, como sói acontecer com o programa-síntese dos governos do PT, não sai do lugar.
O acompanhamento da execução orçamentária da União, feito por meio do Siafi, registra dotação de R$ 14,9 bilhões para obras e ações de saneamento nos orçamentos federais de 2011 a 2014. Deste valor, apenas R$ 4,8 bilhões foram pagos até abril, o que dá 32% do total. Seria muito melhor se Dilma cumprisse o que promete, ao invés de tediosamente repetir anúncios e compromissos vãos.
Analisando-se a execução do PAC Saneamento pelo número de empreendimentos, a situação fica bem mais dramática. Segundo o Contas Abertas, das 7.234 obras e ações de saneamento previstos no PAC 2, apenas 886 foram concluídas, pouco mais de 12% do total. Isto significa que nove em cada dez obras de saneamento anunciadas por Dilma e pelo PT não foram finalizadas.
Expandir os serviços de saneamento é fundamental para melhorar as condições de vida da população, em especial as de saúde. Águas tratada e esgotamento sanitário decente reduzem significativamente a incidência de doenças de veiculação hídrica. A ONU já chegou a estimar que cada real investido em saneamento resulta em quatro reais economizados em gastos com saúde.
Segundo o Instituto Trata Brasil, serão necessários R$ 313 bilhões para universalizar o serviço de saneamento no país. O governo acena com a possibilidade de a meta ser cumprida até por volta de 2030. Mas, no ritmo de investimentos atual sustentado pelo PAC de Dilma e do PT, esta miragem só estará ao alcance das mãos daqui a cerca de 40 anos.
Dilma poderia ter dado impulso efetivo à expansão do saneamento no país se tivesse cumprido uma de suas promessas de campanha, feitaem outubro de 2010: desonerar a prestação do serviço do pagamento de PIS e Cofins. Mais uma jura não honrada. Estima-se que esta medida liberaria R$ 2 bilhões das concessionárias do setor para investimento. No palanque, pode tudo; no governo, não se faz nada.