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A reunião da comissão executiva estadual do PSDB, na quarta – feira (29/1) , foi o momento de destaque. O livro de pré- candidaturas para as eleições deste ano foi aberto com Guerino Balestrassi confirmando sua disposição de disputar o governo do estado, e com o Coronel Aurich também assinando como pré – candidato ao senado.
Na discussão de conjuntura, todas as intervenções reafirmaram a linha de atuação nacional do PSDB, centrada na candidatura presidencial de Aécio Neves, que vai condicionar a política de alianças em todos os estados. No Espirito Santo, ainda não se sabe se o projeto de reeleição do governador Casagrande terá a face oposicionista do seu partido, o PSB, que também enfrenta o PT nacional com Eduardo Campos, ou se segue apresentando-se como um projeto pretensamente “neutro” nas eleições presidenciais, disposto a abrigar também os “dilmistas” estaduais.
Conhecido pelo apurado pragmatismo, o PMDB capixaba ainda não sabe se quer acompanhar Casagrande, se deseja liderar junto com o PT o palanque regional da Dilma ou, ainda, se pretende tentar um caminho alternativo, em composição com o PSDB, como aconteceu nas eleições municipais de 2012. Nós sabemos que a aliança nacional do PMDB com o PT é desconfortável regionalmente para ambos, mas, aparentemente, não parece haver disposição para uma ruptura e um comprometimento de Hartung, Ferraço e cia. com o palanque “aecista”.
Enquanto o cenário politico estadual não estabiliza sua articulação com a disputa presidencial, não se pode saber ao certo como as alianças locais poderão acontecer. Por isso estamos preparados, com chapa completa, para disputar as eleições de 2014 sem alianças majoritárias nem com Casagrande nem com o PMDB de Ferraço e Hartung. O palanque da oposição vai existir no Espirito Santo com visibilidade e não ficará diluído por acomodações de natureza exclusivamente local.
Na reunião do PSDB de quarta – feira, a intervenção do professor Majeski foi especialmente importante. Ele vocalizou com sensibilidade e inteligência o sentimento de descrença da população na política, nos políticos, nos partidos e no próprio processo eleitoral. Como mostrar `a população desacreditada que somos diferentes e melhores que os outros? Como mostrar que somos a mudança de verdade que o Brasil reclama?
Não deu pra responder ao professor na reunião, até por que penso não haver uma resposta única à altura do seu questionamento duro e verdadeiro. Lembrei-me de um episódio que aconteceu comigo quando visitava um primo esquizofrênico num hospital psiquiátrico. Na saída, o ascensorista, que deveria impedir a entrada de internos no elevador, não me reconheceu e os doentes excitados se aglomeravam na porta e forçavam a entrada dizendo que também eram visitantes. O funcionário, apavorado, olhava para mim misturado no meio dos internos querendo entrar no elevador e tentava distinguir quem era visitante e quem era paciente sem, no entanto, conseguir. Ele fechou a porta sem deixar entrar ninguém para voltar só depois com dois enfermeiros experientes que me reconheceram e me deixaram sair.
É assim que me sinto como político disputando eleições no Brasil de hoje. Embolado entre os loucos dizendo ser apenas um visitante do hospital e tentando desesperadamente mostrar para o porteiro um comportamento normal.
Talvez, uma resposta ao professor Mageski seja simples. Vamos agir e falar de acordo com nossas convicções mostrando o que achamos de errado no governo do PT e sua forma de fazer política. Vamos dizer o que vamos fazer se ganharmos as eleições e o que já fizemos quando estivemos no poder, mesmo sabendo que muitos eleitores não vão acreditar. Vamos insistir, mostrar depoimentos de outras pessoas e de testemunhas. Vamos mostrar fatos e evidências dos erros e mentiras dos nossos adversários, mesmo que muitos achem semelhança com as calúnias inventadas contra nós. Vamos nos preparar para ofensas e acusados de ser iguais a eles e não vamos desistir. Vamos fazer política enquanto 90% das pessoas não se interessam e não prestam atenção. Vamos nos preparar trabalhando desde já para os poucos dias que antecedem ao dia das eleições, quando todos vão, enfim, decidir como votar.
Não é fácil. Nunca foi nem nunca será. Ter um cidadão e um ser humano da qualidade do Professor Majeski conosco é fundamental e nos ajuda muito.

Dando continuidade aos encontros com lideranças de todo o país, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, esteve neste sábado (8), em São Carlos (SP), reunido com prefeitos, vereadores e militantes. Aécio salientou a importância da discussão de uma nova agenda para o país acompanhado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), presidente do PSDB de São Paulo, deputado federal Duarte Nogueira, secretário-geral do partido, deputado federal Mendes Thame (SP), prefeito de São Carlos, Paulo Altomani, e líderes regionais.
“Quero falar de coisas boas, de esperança, de confiança. O Brasil e os brasileiros não precisam acostumar-se e acomodar-se à mediocridade. Não existe propaganda oficial, por mais bilionária que seja, que mascare a realidade. E a grande realidade é que esse ciclo de governo do PT vai ser encerrado. Não em benefício do PSDB, mas em benefício dos brasileiros que querem crescer, se desenvolver e voltar a respeitar os seus governantes”, declarou.
Aécio destacou que suas andanças pelo interior do Brasil têm o objetivo de fortalecer na militância tucana o sentimento de que algo diferente pode ser feito no rumo político do país.
“Esse é um evento muito especial, como tem sido alguns outros, porque vejo as pessoas se aproximando de nós não apenas para dar um tapinha nas costas, um cumprimento, um aperto de mão, mas para perceber e sentir se estaremos realmente em condição de enfrentar os enormes desafios que temos pela frente”, disse o senador.
“É exatamente a partir de encontros que fazemos aqui hoje, em São Carlos, que eu cada vez mais consolido a ideia, o sentimento e a convicção de que depende apenas de nós, da nossa coragem, para que possamos dar, dentro de muito pouco tempo, uma resposta definitiva a todos os brasileiros que estão indignados com o despudor, com a irresponsabilidade e incompetência daqueles que vem comandando o Brasil nos últimos anos”, afirmou Aécio.
Reformas interrompidas
Em seu discurso, o senador apontou ainda a necessidade de retomar reformas interrompidas durante os dez anos de gestão petista na presidência da República. Segundo ele, o sentimento de mudança que o país vive não é meramente partidário, mas fruto de elevada consciência cidadã.
“Em um momento de tamanha desmoralização da classe política, de tamanho divórcio da sociedade com seus representantes, nós temos que nos reunir, porque não se trata do desafio de levar um partido à presidência da República. Trata-se de nós termos a convicção clara de que nos levantamos, com coragem, para dizer basta”, considerou o tucano.
“Basta dessa centralização irresponsável de recursos nas mãos da União, que tão mal vem fazendo aos municípios e aos estados brasileiros na saúde, segurança e educação. Basta dessa visão atrasada e preconceituosa em relação ao mundo, que nos fez alinhar com ditaduras mundo afora e retirou o Brasil das grandes cadeias globais de produção”, ressaltou Aécio.
O presidente nacional do PSDB finalizou dizendo que, em um país continental com desigualdades latentes, é preciso dar mais atenção à importância de estados como o de São Paulo.
“Tenho andado pelo Brasil pregando a mudança, pregando aquilo em que acredito. Diferente dos nossos adversários, vamos fazer campanha falando a verdade, com clareza e simplicidade. Nossa grande diferença são os nossos valores”, destacou Aécio.
Discussões em torno da importância do planejamento e da capacidade de gestão dos governos tendem a ser consideradas áridas e distantes dos interesses da população.
No entanto, são cruciais e a atual crise do sistema de energia é um exemplo concreto da falta que fazem ao país.
A semana começa sem resposta para mais um apagão que deixou às escuras 6 milhões de pessoas em 13 Estados brasileiros.
Para efeito de análise de conjuntura, mais importante que o fator pontual, específico, que justifique a interrupção, é constatar a evidente vulnerabilidade do sistema, exposto à pressão das altas temperaturas registradas, ao declínio dos níveis dos reservatórios e à alta do consumo.
A demanda média do período está 8% acima das previsões feitas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico. Para se ter uma ideia mais clara do quadro, 75% da nossa produção energética vêm de fonte hidráulica e os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste terminarão fevereiro com menos de 40% da capacidade.
Não pode ser simplesmente negligenciado ou reduzido a uma mera coincidência o fato de que, na terça-feira, o Sul atingiu seu recorde de carga apenas três minutos antes da falha no sistema de transmissão que causou o apagão.
Sintoma que expõe, em princípio, a hipótese de estar começando a haver desequilíbrio estrutural entre a capacidade de oferta e a demanda de energia no país, que o governo, a todo custo, tenta descartar, fazendo piadas diversionistas com descargas elétricas, ou sugerindo mais terceirização de responsabilidades.
Como parece ser menos provável que haja problema de geração, tudo converge para uma eventual precariedade das linhas de transmissão. Mais de dois terços das que estão em construção sofrem atrasos (média de 13,5 meses) e pode estar havendo investimento muito menor que o previsto na manutenção, em face da atabalhoada mudança de regulação, que provocou incertezas, desconfianças e –quem sabe– até um investimento menor que o necessário.
Poderíamos estar contando com os parques eólicos para compensar os problemas no segmento hidroelétrico. Infelizmente isso também não é possível, porque simplesmente não foram concluídas até hoje as respectivas linhas de transmissão.
Para o governo, o espaço para manobras vai se reduzindo e restam poucas alternativas: se reajustar tarifas, alimenta a inflação; se subsidiar ainda mais o custo, amplia o deficit nas contas públicas.
No geral, são erros imperdoáveis, para quem passou praticamente uma década inteira à frente do sistema energético nacional, advogando a excelência da gestão.
A realidade sempre cobra o seu preço. Pena que, mais uma vez, a conta pelo improviso seja paga pelos brasileiros.
Ventos de 1.200 megawatts de energia são desperdiçados desde o ano passado porque ainda não foram construídas as linhas de transmissão; meia Itaipu é jogada fora por falta de um programa de poupança de energia; o consumo foi incentivado em época de reservatórios cada vez mais magros. O governo comete erros porque misturou eleição com política energética.
O erro original é a mistura de interesses eleitorais de curto prazo com a necessidade de uma política racional na área energética. Por ter misturado, o governo não admite falhas, nem faz campanha de racionalização do uso de um bem cada vez mais escasso e cada vez mais caro no país. Também por interesse unicamente eleitoreiro, a presidente Dilma, com seu marqueteiro a tiracolo, convocou rede nacional, no ano passado, para anunciar a queda do preço da energia, exatamente quando o custo estava subindo.
Um bom programa de aumento da eficiência energética, de combate aos desperdícios do sistema, de convocação para o uso racional na energia, teria efeitos positivos. Além disso, seria preciso investir na recuperação dos reservatórios. A dimensão das perdas é enorme. A população brasileira já provou que consegue, famílias e firmas, reduzir o consumo em época de crise.
Em fevereiro, a chuva estimada é de 55% da média histórica de 88 anos. Ou seja, não haverá água suficiente para elevar o nível dos reservatórios que, hoje, estão no Sudeste e no Nordeste em torno de 40%. Em março, a previsão é que chegará à média histórica, mas já será o fim da estação de chuvas. Isso fará com que as térmicas sejam usadas por mais tempo, o que elevará o custo para o Tesouro de manter a fantasia da energia barata. No mercado livre, o preço está no máximo, R$ 822 o MWh, quando a média do ano passado ficou em R$ 263.
A crise atual não é do tamanho da que ocorreu no governo Fernando Henrique. Naquela época, a falta de planejamento fez com que, após um ano de crescimento forte em 2000, e a queda forte do nível de chuvas em 2001, fosse necessário o racionamento de energia.
Com o então ministro Pedro Parente na gerência da crise, o governo admitiu o erro e criou a fórmula de usar as termelétricas a combustível fóssil para socorrer o sistema em época de falta de água nos reservatórios. Mas era uma emergência. Daí para diante houve tempo e chuva em abundância por anos a fio para que o governo pudesse construir uma solução mais duradoura.
Quando Dilma Rousseff assumiu o Ministério das Minas e Energia, ela não demonstrava ter interesse nas novas renováveis — fontes como eólica e solar. E até hoje é assim. As eólicas cresceram porque lutaram para entrar nos leilões competindo com energia hidrelétrica com alto subsídio. Aumentou-se a capacidade nessa fonte — e o governo se jacta disso. Mas o desmazelo é tamanho que parques eólicos equivalentes a uma hidrelétrica de Serra da Mesa, ou três Três Marias, produzem em vão. A Chesf, que ganhou o leilão para construir a linha, não a construiu. Essa energia poderia reduzir a necessidade de térmicas sujas e caras. A energia solar que merecia ser subsidiada nesse início — pela sua qualidade em termos de emissão e sua abundância neste país ensolarado — não recebe qualquer atenção.
O governo se comporta de forma irresponsável por razões eleitoreiras. Tem medo de admitir qualquer falha ou fazer campanha de racionalização de uso porque teme reduzir a força do discurso de que a gestão Fernando Henrique errou. Ora, o governo FH errou na energia. Alguém duvida? O problema são os erros de agora que se acumulam, fazendo o sistema operar no limite. É preciso descer do palanque nessa questão e evitar que a crise se agrave.
A médica cubana Ramona Rodriguez contou que foi preparada em seu país para trabalhar no Brasil, no final de 2012, aproximadamente seis meses antes do anúncio do programa pela presidente Dilma Rousseff (PT). Ela deixou o programa e pediu asilo político no Brasil por não aceitar receber US$ 400 (R$ 965,00) do total dos R$ 10 mil pagos pelo governo federal para cada profissional.
As informações estão publicadas na Folha de S. Paulo desta sexta-feira (7). Segundo a médica, sua preparação para vir para o Brasil durou dois anos. Na primeira etapa, foi em português, em novembro de 2012. A segunda fase, em fevereiro de 2013, cujo tema central eram as doenças típicas do país.
Médico e integrante da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE) afirmou que a denúncia de Ramona mostra a “fragilidade” do Programa Mais Médicos. Segundo ele, a médica não é a única cubana disposta a permanecer no Brasil.
“No Ceará, já sabemos de vários profissionais cubanos que estão em busca de estratégias para ficar no Brasil. Uns pensam em casar, outros em ter filhos por aqui. Isso demonstra a insatisfação deles com o fato de não receberem o que merecem”, afirmou Mato.
Incoerência
A Folha de S. Paulo relata que no lançamento do Mais Médicos, a gestão Dilma insistia que a prioridade do programa eram os profissionais brasileiros, e não os cubanos. Porém, Ramona tem comprovantes do que denuncia. A médica tem o certificado da segunda etapa do curso. Segundo ela, um brasileiro foi enviado a Cuba para ministrar um curso.
No entanto, o Ministério da Saúde afirmou à Folha que não houve, em Cuba, nenhuma iniciativa de treinamento pelo governo brasileiro em 2012. A medida provisória que criou o Programa Mais Médicos foi editada em julho e só aprovada pelo Congresso em setembro.
Para Gomes de Matos, é essencial fazer uma análise profunda sobre o programa e tudo que o envolve. “Para agravar a situação os profissionais cubanos estão sendo tratados abaixo do nível dos direitos humanos. Isso é inaceitável”, disse ele. “Também descobri que só com carros de som o ministério gastou mais de R$ 500 mil para divulgar o Mais Médicos, como pode isso?”, reagiu.
Os gastos com publicidade no Ministério da Saúde aumentaram, desde o início da gestão de Alexandre Padilha – pré-candidato pelo PT ao governo de São Paulo. Em 2013, R$ 232 milhões foram pagos em propaganda, crescimento de 19,7% acima da inflação sobre os valores de 2012, que já haviam crescido 18,6% sobre 2011.
O caso da médica cubana Ramona Rodríguez (foto), que abandonou o programa Mais Médicos e está abrigada provisoriamente no gabinete do deputado do DEM Ronaldo Caiado em Brasília, traz de volta ao debate público questões básicas da democracia relacionadas com a contratação dos médicos cubanos para o programa.
Não está em jogo a capacitação desses médicos — criticada por setores médicos brasileiros — ou se o programa governista significa a solução para os problemas da Saúde Pública brasileira, como a propaganda oficial quer fazer crer. Essas questões merecem ser discutidas, mas, diante dos problemas éticos e de direitos humanos que surgiram com o sistema de contratação dos cubanos, devem ficar em segundo plano, enquanto o Ministério Público do Trabalho intervém para garantir os mínimos direitos a esses estrangeiros — que aqui estão ainda sob a vigilância da ditadura cubana, o que é inadmissível numa democracia.
Assim é que os médicos cubanos não podem sair de férias, a não ser que vão para Cuba, não podem manter contato com estrangeiros sem comunicar ao governo cubano, não podem desistir do programa e continuar por aqui. E, se depender do parecer do advogado-geral da União, Luís Adams, não podem nem mesmo pedir asilo ao Brasil.
Essa atitude brasileira já produziu fatos vergonhosos, não condizentes com o Estado democrático, como a entrega ao governo cubano dos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que haviam fugido da concentração durante os Jogos Pan-Americanos no Rio, em 2007, e queriam ficar no Brasil asilados.
Meses depois, desmentindo o governo brasileiro, que dissera que os cubanos pediram para voltar ao seu país, Erislandy Lara, bicampeão mundial amador da categoria até 69 quilos, chegou a Hamburgo, na Alemanha, depois de ter fugido em uma lancha de Cuba para o México.
Em 2009, Rigondeaux acabou fugindo para Miami, nos Estados Unidos.
Como já escrevi aqui, o caso dos médicos cubanos tem a mesma raiz ideológica. Cuba ganha mais com a exportação de médicos do que com o turismo, isso porque o dinheiro do pagamento individual é feito diretamente ao governo cubano, que repassa uma quantia ínfima aos médicos.
O governo brasileiro não apenas aceita essa mercantilização de pessoas como dá apoios suplementares: enquanto as famílias de médicos de outras nacionalidades podem vir para o Brasil, o governo brasileiro aceita que o governo cubano mantenha os parentes dos médicos enviados ao Brasil como reféns na ilha dos Castro.
O contrato dos médicos cubanos, sabe-se agora, é intermediado por uma tal de “Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Cubanos”, o que deveria ser investigado, pois não se sabe para onde vai o dinheiro arrecadado. Há desconfiança na oposição de que parte desse dinheiro volta para os cofres petistas, o que seria uma maneira de financiar um caixa dois para as eleições.
O Ministério Público do Trabalho, que não tivera até o momento acesso aos contratos firmados pelo governo brasileiro e a tal “Sociedade Mercantil”, o que é espantoso, a partir do depoimento da médica cubana decidiu cobrar do governo que mude a relação de trabalho com os médicos cubanos, obrigando a que seja igual à de outros médicos estrangeiros, que ficam integralmente com os R$ 10 mil pagos pelo governo brasileiro.
Não é de espantar que a deserção de médicos cubanos não seja maior, pois há uma série de constrangimentos legais e pessoais que tornam difícil uma atitude mais radical. O que importa é que o governo brasileiro está usando mão de obra explorada por uma ditadura para fingir que está resolvendo o problema de falta de médicos, enquanto nada está sendo feito para resolver o problema de maneira definitiva.
*Merval Pereira é jornalista, colunista de O Globo e da GloboNews, membro da Academia brasileira de Letras (ABL)
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, afirmou, nesta quinta-feira (06), que o partido se prepara para um grande debate durante as eleições presidenciais desse ano. A afirmação foi dada após reunião com o presidente do Democratas, senador Agripino Maia, em que foi discutida a aliança entre os partidos nos estados.
Aécio Neves criticou a falta de solidariedade do governo federal junto a estados e municípios em saúde, educação e segurança pública. O senador também lamentou o uso do Estado brasileiro para atender aos interesses do PT, e não da sociedade brasileira.
“O que me anima nessa aliança com o Democratas é que o nosso discurso é muito afinado, muito convergente. Somos contra o aparelhamento da máquina pública, contra essa visão ideológica que conduz a política externa brasileira. Somos contra esse centralismo absurdo do governo federal que impede uma ação mais solidária na segurança pública com estados e municípios, na saúde, onde o governo federal a cada ano vem se omitindo em relação aos anos anteriores, e até na qualidade da educação. O PSDB se prepara para um grande debate e para dizer aos brasileiros que esse ciclo de governo do PT exauriu-se”, disse.
Aécio Neves também afirmou que a aliança entre PSDB e DEM, além do plano nacional, está encaminhada em praticamente todos os estados brasileiros.
“Em 90% dos estados a aliança do PSDB com o Democratas está consolidada, até porque é uma aliança natural. E as alianças que funcionam na política são as que têm naturalidade, aquelas que respeitam a história de cada estado, que respeitam a tradição de cada região do Brasil. Essas alianças feitas por cima, a fórceps, através da distribuição de cargos, de favores, acabam não tendo uma correspondência na realidade local e o feito eleitoral que alguns acham que terão. As alianças que temos buscado construir são alianças que respeitam a aliança de cada estado e que possam expressar nossa visão de Brasil”, disse Aécio Neves.
Dilma Rousseff deve estar rindo à toa. Ontem, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) levantou a suspeita de que o apagão de terça-feira – que deixou 13 estados e até 12 milhões de brasileiros no escuro por quase duas horas – pode ter sido causado por descargas elétricas, os populares raios. Segundo a presidente, esta hipótese é digna de gargalhadas.
“No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem. Raio cai todo dia neste país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. Se desligou, é falha humana, não é do raio”, disse a imprevidente presidente da República no dia 27 de dezembro de 2012, em café da manhã com jornalistas, logo depois de mais um apagão afetar o país.
Depois que o ONS divulgou sua avaliação ontem, a presidente escalou seu porta-voz para dizer que “se raios foram realmente responsáveis pela queda no fornecimento de energia, na última terça-feira, cabe ao ONS apurar se os operadores estão mantendo adequadamente suas redes de para-raios”. Mas a senhora não havia dito que era para gargalhar, presidente?
O mais provável é que os apagões de Dilma – foram 181 desde 2011 e 71 apenas em 2013 – sejam fruto de um modelo irresponsável forjado pela presidente desde que ela foi ministra de Minas e Energia do governo Lula. Temos hoje um sistema elétrico caquético, que opera no limite e não consegue acompanhar uma demanda anabolizada por medidas tomadas pelo próprio governo.
As razões do apagão de terça-feira só serão conhecidas oficialmente em 15 dias. Mas já são evidentes alguns fatores que estão minando a segurança do sistema elétrico nacional. Primeiro, o aumento do consumo não tem sido respaldado por geração suficiente de energia – e, quando é, quem não acompanha é a transmissão.
Segundo dados oficiais do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, 71% das obras de transmissão estão atrasadas. Nas obras de geração, 64% estão fora do cronograma, com atraso médio de 8,5 meses. A média de expansão de geração e transmissão nos últimos anos também é menor que o crescimento projetado para a próxima década, mostrou a Folha de S.Paulo hoje.
Com tamanha vulnerabilidade, o país registra picos seguidos de consumo. Foram nove em pouco mais de dois meses. Entre o primeiro, em início de dezembro, e o de ontem, a demanda cresceu 9%. É energia suficiente para servir 20 milhões de pessoas. O grave disso não é as pessoas e as empresas consumirem mais. O mais grave é, com a oferta no limite, o governo incentivar que o consumo aumente.
Conjunturalmente, a alta do consumo neste verão se deve ao calor infernal que assola boa parte do país. Mas há um aumento estrutural que é fruto, entre outros fatores, de o governo ter tornado, na marra, as tarifas mais baratas. A redução por decreto veio no mesmo momento em que a água dos reservatórios baixava. Ou seja, veio na contramão do risco crescente de desabastecimento de energia. O nome disso é irresponsabilidade.
Além disso, há o problema da manutenção do sistema elétrico. O atual modelo – concebido, gestado e anabolizado por Dilma – baseia-se na chamada “modicidade tarifária”, ou seja, na busca da menor tarifa possível para o consumidor. Objetivo louvável, mas de consequências nefastas quando perseguido de maneira inconsequente como faz a presidente.
Recebendo menos pela energia que geram, transmitem e distribuem, as empresas concessionárias passaram a gastar menos na manutenção de seus equipamentos. Até porque as regras do modelo dilmista de energia não remuneram adequadamente os ativos e desincentivam os investimentos, como mostrou ontem o Valor Econômico.
O círculo vicioso se completa com o sucateamento de órgãos que deveriam zelar pela qualidade dos serviços prestados pelos concessionários. No caso do setor elétrico, a Agência Nacional de Energia Elétrica. Uma das fontes de recursos da Aneel são taxas pagas pelos consumidores nas contas de luz, cujo objetivo é justamente custear a fiscalização dos serviços.
Ocorre que, desde 2011, a agência recebeu orçamento de R$ 1,5 bilhão, mas metade disso foi contingenciada pelo governo Dilma. O que significa isso? Que o dinheiro que os consumidores pagaram para garantir que o serviço que recebem fosse fiscalizado e sua qualidade preservada foi usado para engordar resultados fiscais de um governo perdulário. O que foi contingenciado equivale ao dobro do que efetivamente a Aneel investiu desde 2011.
É possível que Dilma Rousseff acredite que tenha motivos para dar gargalhadas. Mas os brasileiros vão vendo, dia após dia, que não têm razão nenhuma para achar graça de um governo que produz trapalhadas em série e, desta maneira, compromete o futuro do país. Dilma pode até dar suas risadas, mas longe, bem longe, da cadeira de presidente da República. E à luz de velas.