‘PRECISAMOS NOS UNIR’
Entrevista de Luiz Paulo publicada no Jornal Metro desta segunda (15)
Ex-deputado federal e prefeito de Vitória por dois mandatos (1997 a 2004), Luiz Paulo Vellozo Lucas foi nomeado na semana passada para o cargo de secretário nacional de Desenvolvimento Urbano do Ministério das Cidades. Em entrevista à rádio BandNews FM ES, Luiz Paulo falou como será sua atuação no ministério. Nome constantemente lembrado em pesquisas eleitorais no Espírito Santo, Luiz Paulo também falou sobre o cenário das eleições do próximo ano. “Eu espero que os líderes, os partidos com mais responsabilidade, tenham capacidade de construir uma política de unidade em torno de princípios democráticos e reformistas”, diz. Sobre a operação Lava Jato, em que teve o nome citado sob suspeita de “vantagens indevidas” nas campanhas de 2010 e 2012, afirma estar à disposição para esclarecimentos. Confira a entrevista.
CARGO EM MINISTÉRIO
Após o impeachment, o deputado Bruno Araújo virou Ministro das Cidades. Enviei a ele meu livro “Qualicidades”, que trata a política de desenvolvi- mento urbano como uma das coisas mais importantes para o cenário nacional hoje. Saindo da agenda do ajuste fiscal, devemos entrar na agenda do investimento e do crescimento. Temos mais de 55 mil vilas
e aldeias que são verdadeiras cidades, e o deficit de estrutura urbana atinge megalópoles e pequenos locais. No Estado, são 256 distritos e 4 mil e 800 vilas rurais com falta de estrutura urbana causada por urbanização desordenada e inconclusa, o que considero o maior problema do Brasil.
LAVA JATO
Sou muito a favor. Está promovendo uma faxina na promiscuidade entre o mundo das empresas e o da política, que gerou efeitos dramáti- cos para a economia brasilei- ra. Participei de sete eleições nos últimos anos, num perío- do em que doações de empre- sas eram regulamentadas e legais. Tenho muita convicção dos procedimentos que fiz e estou à disposição de todos os processos de investigação.
CENÁRIO PARA ELEIÇÕES
As eleições de 2018 são muito bem-vindas, porque a Lava Jato deu um “reboot” no sistema político, o sistema foi reinicializado. Acho que será uma eleição muito diferente das expectativas de hoje.
REALIDADE NACIONAL
Minha tendência é compreender a realidade da po- lítica local sintonizada com a nacional. Vejo um palan- que vinculado ao governo destituído, do PT. Eles fizeram uma campanha de mar- keting, até bem sucedida, denunciando como se fosse golpe. Já são a nova oposição, querendo atribuir ao governo do presidente Temer os males da crise econômica. Mas tem pedaço da população que concorda, tanto é que o presidente Lula lidera as pesquisas. Diria que isso é um palanque.
O PALANQUE DA OPOSIÇÃO
Tivemos agora uma disputa interna pelo comando do PT. Esteve no Espírito Santo um pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, que está nesse palanque, da oposição ao impeachment, às reformas empreendidas nessa transição, no sentido de enfrentar o legado horroroso do governo anterior, que faliu o país. Mas quem pensa assim sou eu. Não sei quem serão os candidatos, se o Lula terá condição de disputar a eleição ou não. Mas isso é um palanque. E ele vai ter representante aqui.
O PALANQUE RADICAL
Tem um outro palanque que está presente nas pesquisas que representa uma visão ex- tremamente radicalizada para o outro lado. A figura do deputado Jair Bolsonaro representa bem esse palanque, São pessoas que fazem comparações com a ditadura mi- litar. A internet está cheia de materiais que louvam solu- ções autoritárias. E se vê o sur- gimento desse posicionamento na França, com a Marine Le Pen; nos Estados Unidos, com o Trump. No Brasil, havia vergonha de se dizer de direita. Não mais. Há um segundo palanque aí, e acho que aqui terá representante.
O PALANQUE ‘DEMOCRÁTICO-REFORMISTA’
Eu me identifico com um campo que, na falta de nome melhor, chamo de democrá- tico-reformista, que apoiou o impeachment e apoia esse governo de transição como única solução possível e responsável. Espero que, nesse campo, encontremos representantes para disputar a eleição nacional e as estaduais.
NOMES
No Espírito Santo, vejo que tanto o governo Paulo Hartung quanto o ex-governador Renato Casagrande pertencem a esse campo democrático-reformista. Embora o PSB tenha recentemente tido uma posição contrária à reforma trabalhista, o deputado Paulo Foletto votou a favor da reforma. Acho que aqui temos lideranças e representantes do campo democrático-reformista com muita capacidade. E temos de ter a capacidade de nos unir para apresentar uma alternativa para o eleitorado. Porque, se a gente não se unir, pode acontecer como aconteceu na eleição municipal do Rio de Janeiro. Tive- mos um segundo turno entre dois quase outsiders da política. O prefeito eleito, Marcelo Crivella, é oriundo de um segmento bastante localizado. O centro político estava dividido, tinha três candidatos, e não foi para o segundo turno. Então, quando o centro está desunido, as soluções mais radicais acabam prevalecendo. Eu espero que os líderes, os partidos com mais responsabilidade, tenham capacidade de construir uma política de unidade em torno de princípios democráticos e reformistas. Reformar o Estado é uma tarefa hercúlea, extremamente complexa. E reformar o Estado com uma metodologia democrática, ouvindo, construindo, negociando e não aceitando nenhum tipo de atalho autoritário em hipótese alguma, nem algum tipo de formato de tirania.