PSDB – ES

Cotas e violência

O Senado aprovou a obrigatoriedade da implantação do sistema de cotas raciais nas Instituições Federais de Ensino, o que naturalmente desperta o debate na sociedade e uma avalanche de manifestações que misturam boa intenção, ignorância e disputa ou manutenção de espaços de poder. Numa posição mais avançada do que aquela hoje praticada a duras penas pela Ufes, a lei aprovada estabelece que as universidades e institutos federais do país reservem 50% das vagas para alunos que tenham feito todo o ensino médio na rede pública.

Além disso, dentro desse universo a lei determina que sejam aplicados recortes raciais considerando aí a proporção das raças na composição da população do Estado em questão, o que no ES significa, segundo números do Censo de 2010, os 56,9% da população que é formada por negros – pretos e pardos.

Cabe aqui analisar os efeitos da exclusão social que acomete os negros no Brasil e que é bem relatada nos índices levantados no último Censo que indica que, apesar da maioria dos brasileiros serem negros (pardos e pretos), o salário médio destes (R$ 834) equivale a pouco mais da metade daquele pago aos brancos (R$ 1.534).

Como se não bastassem esses números, ainda temos que a expectativa de vida do negro brasileiro é menor que a do branco, o que se percebe na maior proporção de brancos na faixa etária acima de 65 anos.

Chama a atenção os números apresentados pelo Mapa da Violência de 2012, um estudo elaborado anualmente pelo Instituto Sangari, e que dentre outros dados permite constatar a queda no número absoluto de homicídios na população branca e de aumento nos números da população negra. No Espírito Santo, que apresenta os piores números do país, temos que no período de 2002 a 2010 houve uma redução de 11,49% do número de vítimas brancas de homicídio e aumento de 36,69% do mesmo número entre vítimas negras.

Por todos os dados apresentados vemos que, para cada branco assassinado em 2010, morreram proporcionalmente mais de dois negros nas mesmas circunstâncias. E mais preocupante ainda, pelo balanço histórico dos últimos anos, a tendência desses pesados níveis de vitimização é crescer ainda mais.

Em ano pré-eleitoral, parece no mínimo omissão que o debate político se negue a incluir o tema racial entre as bandeiras partidárias, particularmente quando vemos o cidadão capixaba amedrontado com a violência e nenhuma voz a chamar a atenção para o quase “genocídio étnico” em curso nesta terra que mesmo abençoada por Deus parece estar sendo esquecida pelos homens que a comandam.

 

Ruy Marcos Gonçalves é secretário-geral do PSDB-ES

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