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“Crescimento e inflação”, por Ricardo Buso

busoDentre inúmeros problemas da economia brasileira, apesar da propaganda oficial, como baixo nível de crescimento real, inflação perigosa e persistentemente elevada, resultado fiscal, possível sobrevalorização cambial, para citar alguns, frequentemente sou questionado sobre qual seria o pior.

É muito difícil eleger um principal, já que a macroeconomia ruma sustentada por um grande conjunto de “estabilizadores”. Mas posso afirmar o que mais me impressiona: a recorrente e inaceitável combinação de crescimento reduzido com inflação elevada.

Mesmo que longe do cenário ideal, sustentável, qualquer economista de mediana formação sabe que nessa combinação (inflação e crescimento) é possível, por exemplo, favorecer crescimento através de uma deterioração da inflação ou conter a escalada inflacionária se aceito um crescimento mais comedido.

Entretanto, a história e as projeções têm nos mostrado que, no Brasil, infelizmente, conseguimos trabalhar com as duas pontas ruins, em estado alarmante. A inflação elevada não é reflexo de crescimento e a reduzida taxa de crescimento do Produto Interno Bruto não contém a inflação.

Para que tenhamos uma ideia, as projeções para o biênio 2013/2014 indicam que o Brasil terá crescimento médio de 2,2%, gerando inflação média de 5,9%. Enquanto isso, nos Estados Unidos, onde foi deflagrada em 2008 toda a crise mundial, os indicativos para o mesmo período são de crescimento médio de 2,5%, com geração inflacionária de 1,7%, francamente desproporcional.

O cenário norte-americano já mitiga a eterna justificativa doméstica de dificuldades externas, mas os exemplos latino americanos, vizinhos, ajudam a corroborar a hipótese.

Ainda no mesmo biênio, Chile e Colômbia deverão individualmente apresentar crescimento médio de 4% com inflação média de 2,5%; Para o Perú estão previstos crescimento médio de 4,9% e inflação média de 2,8%.
Retomando o exemplo dos EUA, todos esses números se referem ao início da saída da crise.

Cabe observar que os comparativos só não são mais massacrantes porque em 2013 o governo brasileiro muito manobrou com os preços dos chamados “administrados” para que a inflação não superasse o teto de 6,5% da banda. Especula-se que a medição anual somente dos preços “livres” seria capaz de registrar inflação em torno de 8%.

Tal manobra, de caráter mais político que econômico, que ponderou preços livres e administrados, levando-os à meta permitida, naturalmente teve seus impactos na comprometidíssima política fiscal (ou falta de) vigente.

Diante desse cenário, que teve a lâmpada vermelha da combinação “crescimento e inflação” já queimada de há tento tempo piscar, que absorve demasiadamente recursos públicos para o “sustento da máquina”, que tem a execução de investimentos completamente atrapalhada, que suga impostos de maneira absurda e concentrada e que vem se desviando cada vez mais da ortodoxia, não há como não constatar a ausência de qualquer resquício de sustentabilidade.

Enfim, resta-me desejar a nós, brasileiros, um 2014 muito melhor. Do lado econômico, precisaremos!

 

Ricardo Buso é economista e filiado ao PSDB-SP

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