O contrário da tirania é a ordem democrática e são três as suas dimensões institucionais: econômica, política e jurídica.
Econômica: liberdade de empreender, de produzir, de comprar e vender bens e serviços num ambiente de livre mercado, regulado por regras de respeito a contratos aceitas por todos.
Política: Disputa entre diferentes convicções pelo poder em processos eleitorais fundados no sufrágio universal e no debate público com ampla liberdade de opinião, de organização e de imprensa.
Jurídica: Solução pacífica de controvérsias e conflitos de interesse através de um sistema judiciário profissional e meritocrático, com base em um ordenamento jurídico democraticamente instituído e operacionalizado com livre e amplo acesso.
Desde a eleição de Tancredo Neves e da Constituinte o Brasil vem trabalhando na construção da ordem democrática. Com o Plano Real conquistamos um extraordinário avanço na ordem econômica com a estabilidade da moeda, a abertura da economia e a modernização do estado e dos mercados. O resultado do nosso sucesso pode ser mensurado no crescimento da confiança, da autoestima da população, da riqueza nacional, na melhoria dos indicadores sociais e na imagem internacional do país.
Este ciclo virtuoso perdurou até o primeiro mandato de Lula. A descoberta do pré – sal e a crise financeira internacional de 2008, no segundo mandato de Lula, marcaram a entrada em cena da política econômica do PT, um delírio soviético tardio, que erodiu gradativamente o dinamismo e a estabilidade da economia brasileira até contaminar e ameaçar a ordem democrática em todas as suas dimensões.
A decisão sobre se houve ou não crime de responsabilidade da Presidente é do plenário da Câmara dos Deputados. A tentativa desesperada de esconder e negar a existência do crime e fraudar a decisão dos deputados me faz lembrar o inquérito militar sobre o atentado do Riocentro, em maio de 1981. O governo militar do General Figueiredo preferiu proteger os agentes do Doi-Codi, desmascarados em pleno ato terrorista pela explosão da bomba no colo de um deles. Foi a pá de cal no regime militar que foi desmoralizado definitivamente neste episódio e acabou saindo pela porta dos fundos do poder direto para o lixo da história. Destino semelhante terá a Presidente Dilma Rousseff, ainda que consiga barrar o impeachment, prolongando e aprofundando a crise e a agonia dos brasileiros.
Sua saída não resolverá todos os nossos problemas, mas representará a retomada da construção da ordem democrática no Brasil, que, aliás, nunca foi o propósito dos que hoje nos governam.
Na ordem democrática, ainda que imperfeita, o crime não compensa.
Luiz Paulo Vellozo Lucas, dirigente tucano e ex-presidente nacional do ITV