Houve um tempo em que havia Augusto Ruschi. Nesse tempo também havia, no Espirito Santo, uma Mata atlântica em proporção muito maior do que a atualmente existente. Esse mesmo tempo, vivenciado a partir dos anos 1960, principalmente, lhe permitiu ser um dos maiores expoentes da observação e da preservação da natureza, seja da Floresta Amazônica, seja da mata nativa do nosso Estado do Espirito Santo. Professor da UFRJ e pesquisador do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Ruschi produziu mais de 300 artigos e escreveu 20 livros científicos. Hoje, essa produção científica chega a ser contestada em termos de qualidade e autoria por alguns pesquisadores. Pena que o combativo Ruschi não esteja mais aqui para se defender ou apresentar suas argumentações. Certamente o debate seria marcante e acalorado.
Questionamentos à parte, não resta duvida que seu legado é monumental. E eu mesmo já trouxe para conhecer o que resta do Museu Mello Leitão e o que ficou de sua obra, pesquisadores estrangeiros que admiram seu trabalho e voltaram mais admirados ainda.
Foi esse mesmo Ruschi que disse, décadas atrás, que o Espirito Santo viveria uma desertificação, a seca das nascentes e padeceria de falta de água. Aliás, poucos não foram seus desentendimentos com autoridades públicas em questões ambientais, sendo as mais lembradas as de 1964 e de 1977. O homem do mundo dos beija flores fez o seu alerta com muita antecedência, mas as autoridades públicas tinham uma outra percepção da questão. Agora, sobra para o povo, o consumidor capixaba, a responsabilidade de economizar água e até a possibilidade de pagar valores adicionais por consumi-la alem de um certo volume. Produtores agrícolas têm seu tempo de irrigação regulado e outras medidas contracionistas são divulgadas. No fim, sobra mesmo é para o cidadão comum, para o trabalhador brasileiro.
Em seu tempo, Ruschi recebeu visitas importantes, como o Sr. Hasselblad, das famosas máquinas fotográficas. Do Sr. Du Pont, magnata da industria quimica dos Estados Unidos, segundo conversa que tive algum tempo atrás com John Helal, uma grande amigo de Ruschi. Polêmico em vida, polêmico após sua morte, quando seu trabalho chega a ser questionado por pesquisadores, Ruschi, inquestionávelmente é nossa maior expressão científica em sua área e nos deixou uma advertência, não considerada, que teria evitado muitos de nossos problemas contemporâneos. Parabéns, Ruschi, nesse seu centenário!
Antônio Marcus Machado, presidente estadual do Instituto Teotônio Vilela