Em tempos de democracia, onde a liberdade de expressão permite até mesmo que vândalos destruam o patrimônio público e privado, não custa provocar mais uma vez a reflexão que o dia 20 de Novembro exige – O Dia da Consciência Negra.
Esta semana certamente será recheada dos mais diversos tipos de manifestações acerca do tema racial e não diferente de outros anos o alvo serão as, benditas para uns e malditas para outros, cotas.
Hoje eu gostaria de deixar de lado a defesa de cotas e chamar a atenção aos leitores para um olhar objetivo em nossa realidade, onde os números chegam a ser assustadores para um País que muitos clamam enquanto uma democracia racial.
Não precisaríamos ir muito longe, bastando apenas considerarmos números oficiais como o Censo 2010 e o Mapa da Violência 2012.
Constatamos que passados mais de um século da chamada Abolição da Escravatura, as condições postas e impostas em nossa sociedade, exibem um quadro de exclusão significativa do negro nos mais diversos postos, mesmo considerando-se que o negro hoje seja mais de 50% da população brasileira,
Percebemos o empenho de alguns em elencar na sociedade brasileira, situações que venham sustentar o discurso contrário as políticas de ações afirmativas, aí incluídas as cotas. Hoje o ministro do Supremo Joaquim Barbosa virou garoto propaganda nas redes sociais como exemplo de onde um “negro esforçado e estudioso” pode chegar. Seria cômico se não fosse trágico nos apegarmos a uma exceção para dela estabelecermos a regra.
Contra fatos não há argumentos. Portanto amigos, o caminho é a observância dos dados, dentre os quais podemos citar: população carcerária, remuneração salarial, presença nos postos de poder, eletivos ou não, vitimização por morte violenta, acesso às universidades – particularmente as públicas – e tantas outras situações onde a posição de negro sempre se coloca em desvantagem evidenciando-se a exclusão.
A palavra e a ação está nas mãos do poder público. Ou estes mudam sua postura e começam a elaborar e implementar políticas públicas específicas e voltadas para a eliminação da exclusão do negro, ou continuaremos a ser um País de apenas um Joaquim Barbosa.
Ruy Marcos Gonçalves é terapeuta, militante do Movimento Negro e secretário-geral do PSDB-ES