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Palavras engaioladas e palavras eternizadas

3 de fevereiro de 2016
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tayorne di martinoColetiva preparada, discurso pronto, eloquência treinada, imagem talhada e palavras vazias. Uma gama incomensurável de terminologias sombrias, enviesadas por declarações descabidas. O que se observa é a proclamação mais absurda de palavras fastidiosas, de palavras faltantes, de palavras falaciosas. Sons são distribuídos aos montes pelo vácuo da ovação sem sentido. Percorrem os corredores com avidez, mas se perdem pelos nefastos atalhos do fisiologismo e do clientelismo.

A coerência do comprometimento ético, na presença daquilo que se fala e daquilo que se pratica, parece jazer em alguma sala abandonada, exceto quando caminha solitária, procurando abrigo na alma de quem ainda acredita na política das palavras aos atos. Possivelmente, seja esse descrédito uma das razões pela qual o Legislativo segue questionado, o Executivo deslegitimado e o Judiciário compelido. Ressalvas se verificam aqui e ali. No entanto, de um modo geral, vivemos os tempos da estrambólica banalização das palavras. Se não desejamos trai-las, devemos procurar seus necessários êxodos!

Palavras sadias são gestadas pelas texturas da probidade, nas entranhas dos honrados contextos sociais, onde não há pretextos interesseiros nem intertextos inadequados. Quem serve à legitimidade das palavras faz da vida um ofício genuíno e ilibado para com a esfera público-privada. Em contraposição, presta um verdadeiro desserviço à sociedade aquele que se instala no palavreado do conluio ou reside no falatório do achaque.

Somos habitantes de nossas palavras. Tal qual assegura Martin Heidegger, com sua Filosofia Existencialista, elas são a morada definitiva do ser. Fazem-nos humanos, ainda que insistamos desumanizá-las. Nelas fixamos as nossas raízes mais profundas. Muitas delas engrandecem, outras entorpecem. Algumas enganam, poucas libertam. Certa parcela perverte, as demais sucedem, senão se convertem. Nas cercanias das palavras, transitamos, interpretamos, compreendemos o mundo. Por elas carecemos, motivamos, ofendemos. Nos seus significados, nos agasalhamos e nos comunicamos. Elas falam do nosso pertencimento, das nossas enfermidades morais e das nossas potencialidades éticas.

Cada palavra é carregada de sentido próprio. No entanto, nenhuma nos encerra. Nisto consiste a palavra dos enamorados, dos jornalistas e publicitários, dos pregadores e teóricos, dos tiranos e terroristas, dos poetas e das poetisas, dos letrados e analfabetos, dos políticos e apolíticos. No início da vida, vivemos como seus acriançados hospedeiros, mas com o calhar dos anos, passamos à condição de domiciliados das nossas palavras. Elas nos confrontam por dentro e nos interpelam por fora. Nada permanece ileso aos seus questionamentos. Uma vez proferida e não cumprida, sobrevém o espaço da crítica contundente, contra a qual não há promessa que a defenda.

Palavras são habitações, jamais carceragens. O mesmo ocorre com os partidos. Eles são feitos para servir. De maneira alguma devem ser instrumentalizados para se perpetuarem no poder a todo e qualquer custo, exilando a veracidade das palavras que um dia os instituíram. Independente das mudanças assumidas, o mais importante é que sejamos pássaros fora da gaiola. Nosso lugar é nas alturas, pois de lá se vê melhor, com maior amplitude e melhor exatidão. Precisamos mirar no vigor das asas, sempre prontas a se desprenderem daquilo que as impede de serem fiéis a si e aos outros. No alvorecer corajoso dos próprios voos está a verdade das palavras que nos constituem.

Publicado nesta quarta-feira (3) no jornal Diário da Manhã por Tayrone Di Martino, jornalista e vereador de Goiânia pelo PSDB.

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