Em coluna na Folha, Armínio Fraga faz balanço dos 10 meses de governo
Em sua coluna publicada na “Folha de S.Paulo” (“Falta Muito”, edição de 27/10), o economista e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, comenta a situação no Chile e faz um paralelo com o Brasil.
Há muitos anos, o Chile vem exibindo crescimento sustentável, democracia plena e alternância de poder. Mas protestos da população se transformaram em onda de violência que tomou conta de Santiago. Assim como no Brasil, aponta Fraga, a desigualdade continua alta “e há no ar uma sensação difusa de injustiça social”.
“O caso reforça a tese de que crescimento e equidade precisam caminhar juntos, sob pena de inviabilizar politicamente qualquer estratégia de desenvolvimento. Não podemos nos esquecer de 2013”, escreve.
A partir daí, Armínio Fraga faz um balanço dos primeiros 10 meses de governo Bolsonaro e um breve levantamento do que ainda precisa ser feito.
Antes, lembra que: “em resposta ao colapso econômico que assola o país desde 2014, e a despeito de todos os problemas conhecidos, o governo Temer deixou realizações: inflação sob controle, aprovou o teto do gasto público e uma reforma trabalhista, reduziu em muito os enormes subsídios distribuídos pelo BNDES a empresas e pôs em movimento a agenda BC+ de redução do custo do crédito e inclusão financeira. Não foi pouco. Esse esforço, aliado à trágica recessão, permitiu uma enorme queda na taxa de juros que o governo paga em sua dívida”.
Neste governo, destaca Fraga, o roteiro econômico liberal teve continuidade: reforma da Previdência e lei de liberdade econômica; sinalização de amplo programa de desburocratização, privatizações e concessões; além de andamento de acordo com a União Europeia e abertura comercial unilateral.
Por que, então, a recuperação modesta?
Os suspeitos, segundo o ex-presidente do BC:
– Ajustes n governo federal ainda não foram suficientes e estados ficaram de fora da nova Previdência.
– No Congresso (em que pese a colaboração dos parlamentares) ainda estão em pauta as reformas tributária e administrativa.
– Taxas de juros ao tomador seguem muito altas.
– A economia mundial está desacelerando.
– Há necessidades imensas na infraestrutura, “a fronteira mais natural de investimento”.
“Tenho escrito aqui sobre a necessidade de investir nas áreas sociais para promover o crescimento. Mas o espaço orçamentário encontra-se esgotado e engessado e, de qualquer forma, a agenda de redução das desigualdades não parece ser prioritária”, completa Armínio Fraga, destacando ainda que, nos costumes, o governo vem retrocedendo em áreas cruciais como educação, meio ambiente, cultura e direitos humanos.
“Temas sociais e de costumes afetam, sim, a economia, por meio de seu impacto sobre o debate público, o ambiente de negócios e a qualidade de vida em geral. No nosso caso, o impacto tem sido negativo, pois as posições do governo são fonte de incerteza, tensão e desconforto. E agora?”, conclui.