Ouro Preto (MG) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, foi o orador da cerimônia da entrega da Medalha da Inconfidência Mineira, em Ouro Preto (MG), nesta segunda-feira (21).
A seguir a íntegra do discurso de Aécio Neves.
Mineiros e Mineiras,
Brasileiros e Brasileiras,
por inúmeras vezes pisei o chão sagrado desta praça para compartilhar com os nossos a sempre inspiradora celebração da Inconfidência Mineira. Vim inúmeras vezes como estudante, depois como parlamentar, outras tantas como agraciado, e depois por vários anos como governador de Minas Gerais e anfitrião dos homenageados com a nossa insígnia maior.
Mas esta é a primeira vez que sou convidado à posição orador oficial,grande deferência que agradeço, honrado, ao governador de Minas, Alberto Pinto Coelho.
Minhas primeiras palavras, neste 21 de abril carregado de emoção, renovam nosso reconhecimento a todos os que nos legaram o sentimento de pátria e o compromisso com a nação.
A todos os que nos ensinaram que não foram fortuitos os sonhos de liberdade em que fomos forjados e onde foi moldado o nosso amor intenso pelo Brasil.
Volto a essa praça, chão permanente da nossa história, mais uma vez tomado pelo sentimento de Minas, este sentimento que habita, generoso, a alma da nossa gente.
Neste momento em que vos falo, fala o coração de um mineiro que, como cada um de vocês, olha com respeito e reverência para o passado e com enormes esperanças para o futuro.
Porque essa é a mágica de Minas. Aqui, o tempo se funde e somos, ao mesmo tempo, passado, presente e
Porque Minas é pátria. E pátria é sempre.
Nas lições de coragem que herdamos dos inconfidentes celebramos a rebeldia e o compromisso com a liberdade, que se manifestam de diferentes formas ao longo da nossa história.
Este ano, fazemos especial homenagem aos homens e mulheres que escreveram a mais importante página da nossa história contemporânea.
Que foram às ruas, há 30 anos, abraçados à bandeira brasileira, exigir o fim da ditadura e as eleições diretas para presidente.
Rendemos nossa gratidão a cada um dos perseguidos, humilhados e E saudamos todos os que não se curvaram, venceram o tempo e encheram as ruas conduzindo o Brasil ao reencontro com a democracia.
Falo dos amigos – tantos; Dos companheiros de jornada – todos; Celebramos hoje, aqui, emoldurados pelos valores mais altos dos inconfidentes, a memorável campanha pela redemocratização do Brasil.
Campanha que foi passo inicial e crucial para a ressurreição da Nação de homens e mulheres livres que felizmente somos hoje.
Nenhuma outra ocasião serve tanto de inspiração à causa da democracia brasileira, quanto a comemoração da Inconfidência.
A celebramos todos os anos, professando de forma renovada seus princípios, como hinos que ecoam, indefinidamente, por todo o canto onde há Minas.
A cultuamos como um relicário precioso, portador dos valores fundamentais que advogamos durante todo o curso da formação da nacionalidade.
E guardamos a sua memória, dentro de cada um de nós, como um porto seguro para nossas causas coletivas de hoje.
Aqui, nesta Vila Rica de Minas, não por acaso, foi onde tudo começou.
Aqui, ficaram as marcas da luta renhida e determinada em defesa de uma
única e preciosa causa: a liberdade.
A liberdade que é, sempre foi e continuará sendo o primeiro nome de O compromisso com a justiça e o amor pelo Brasil são pontes que unem os mineiros e atravessam os tempos.
Foram esses valores que forjaram nossa coragem e alimentaram nosso ânimo para perseverar em defesa da democracia ultrajada e superar a longa e obscura noite da ditadura.
Foram esses mesmos valores que iluminaram o coração de tantos homens e mulheres ao logo da nossa historia.
E que agigantaram homens como Ulysses, Tancredo, Montoro, Teotônio, Brizola, Arraes e tantos outros brasileiros. E todos pisaram no chão desta praça.
A memória afetiva não me permite esquecer…
Ainda muito jovem, fui testemunha do verdadeiro mar de autêntica cidadania que transbordava pelas ruas e em cada praça do Brasil.
Posso voltar no tempo e ouvir a voz rouca de Ulysses dizendo: ‘Eu tenho ódio e nojo à ditadura’.
Posso ver Teotônio com as suas mãos frágeis, já doentes, erguidas pelo espírito altivo, a nos ensinar: ‘O sonho é próprio de todos nós. Não há nenhuma realidade sem que antes se tenha sonhado com ela’.
Foi esse sonho que marejava e fazia brilhar os olhos miúdos do nosso primeiro presidente civil após a ditadura, Tancredo Neves, olhando o horizonte da pátria amada Brasil.
Nada, para eles, no entanto, foi mais importante do que caminhar pelas ruas, de braços dados com a nossa gente.
Por isso, é preciso que também nos lembremos daqueles tantos brasileiros, tomados pela esperança, que souberam fazer a hora e não esperaram acontecer.
De todos os grandes personagens daquele emblemático trecho de história, nenhum superou a grandeza e a força do povo brasileiro.
O povo brasileiro representado em sua irreverência e coragem, pelos jovens e pelos estudantes.
O povo brasileiro e a consciência maiúscula sobre os nossos deveres, iluminados pelas universidades e seus mestres.
O povo brasileiro sedento de justiça e igualdade, mobilizado nas fábricas de trabalhadores e operários.
O povo brasileiro na expressão de seus artistas, músicos, poetas, escritores……
O povo brasileiro reunido em suas casas simples, onde moravam a indignação e também o sonho.
O povo brasileiro em toda a sua integridade.
Há 30 anos, fomos nós, o povo brasileiro quem vencemos o arbítrio.
Brasileiros de Minas Gerais.
A tragédia que se abateu sobre o país, naquele fatídico, mas também emblemático 21 de abril de 1985, ficará para sempre em nossa memória.
Perdemos o Presidente Tancredo e com ele se foi o sonho de uma república nova que se inaugurava.
O país seguiu em frente, como precisava seguir, cuidando de suas tarefas mais básicas e essenciais:
– Primeiro reconquistamos o pleno estado de direito, com a Constituinte Cidadã de 88.
– Restauramos o compromisso fundamental do país com as eleições diretas para presidente, que mais uma vez se avizinham.
– As instituições brasileiras deram uma inequívoca demonstração de maturidade, garantindo a ordem constitucional, quando houve o afastamento do primeiro mandatário eleito de forma direta.
– E continuamos nossa caminhada, em uma outra difícil trincheira: a luta contra a carestia e o caos econômico que reinava no país.
Mais uma vez vencemos.
E mais uma vez esteve à frente desta grandiosa tarefa outro coração mineiro: o ex-presidente Itamar Franco, a quem devemos também render nossas justas homenagens e nosso reconhecimento.
Mineiros. Brasileiros.
A República Nova de que nos falava Tancredo e seus companheiros de jornada em boa parte restou intocada.
Apesar dos avanços das ultimas três décadas, resultado da contribuição de diferentes líderes e gerações de brasileiros, permanecemos portadores de uma das maiores desigualdades do planeta.
Novas crises se acumulam e nos exigem vigilância atenta e disposição.
O país assiste, passivamente, um forte recrudescimento da violência em cada um dos estados federados.
São mais vidas perdidas do que nas guerras ao redor do mundo. Uma geração inteira de brasileiros se esvai vitimada pela brutalidade ou aliciada pelo crime.
Da mesma forma, o país não aceita o regime de insuficiências elevado à enésima irresponsabilidade, que tanto precariza o sistema nacional de atendimento à saúde pública – as filas intermináveis, a espera humilhante, a falta de médicos, leitos, remédios e respeito a quem mais precisa e o país sonha ainda hoje verem cumpridas as promessas que se repetem em vão para ser redimido em suas fragilidades estruturais por uma educação de verdade.
Que ofereça qualidade e prepare para o trabalho, mas especialmente forme cidadãos conscientes dos seus diretos e o país quer garantias que preservem os avanços e a estabilidade, que foram duramente conquistados, depois de anos e anos de sacrifícios e inúmeros esforços frustrados.
É crucial e imperativo o controle da inflação.
É imprescindível a retomada do crescimento e a justa distribuição de oportunidades e renda.
É fundamental que o Brasil recupere sua importância e seu lugar. O país anseia por justiça tributária e por um novo pacto federativo, capazes de nos fazer convergir em torno das grandes causas nacionais e
realizar as vocações do Brasil do Sul e do Sudeste; do Brasil central; do Brasil do Norte e do Nordeste, onde permanecem intocados verdadeiros enclaves do esquecimento.
E aqui não posso deixar de registrar especialmente a solidariedade de Minas com os municípios brasileiros. Que veem suas portas sendo paulatinamente fechadas pela insolvência e a insuficiência financeira para cumprir suas obrigações mais básicas.
Esperamos a hora em que finalmente a solidariedade política e o espírito público os libertarão do ferrolho da crônica dependência e das humilhantes obrigações de reverência ao poder central. A hora em que serão reconhecidos, como devem ser, como parceiros fundamentais do nosso processo de desenvolvimento.
O país também nos exige rigor, responsabilidade e austeridade na condução do estado.
Rechaça, e rechaça de forma vigorosa, os escândalos em série, intermináveis e vergonhosos, que nos humilham como povo e reduzem nossa dimensão perante a comunidade internacional.
Não é esse o Brasil que queremos.
O país nos cobra, exausto e indignado, a necessidade de uma reforma política, onde não haja mais qualquer espaço para a conivência, o aparelhamento, o compadrio, os desvios de conduta e a corrupção
endêmica que tomou de assalto o estado nacional.
Esta é a mais importante tribuna de Minas.
21 de Abril é o dia em que Minas fala ao Brasil.
Ao falar ao país com a alma dos inconfidentes, Minas se inspira no passado e agrega novos e amplos significados à bandeira da liberdade – marca e identidade da nossa história.
Da liberdade representada por uma autêntica e verdadeira democratização do processo de desenvolvimento, que precisa alcançar o Brasil como um todo, sem distinções e fronteiras.
Da liberdade de acesso às oportunidades de ascensão social, baseadas na educação, no emprego e na habilitação plena da cidadania.
E em serviços públicos de qualidade, em áreas vitais como saúde, saneamento, habitação e transporte público, sem os quais a redução da pobreza resume-se apenas a um slogan sem efetividade e realismo.
Minas nos fala da liberdade de ir e vir, garantida por um serviço de segurança pública que combata o império da criminalidade violenta, mas respeite as manifestações da cidadania.
É a liberdade lastreada na transparência, na responsabilidade e na ética pública que Minas defende e pratica, com o necessário respeito às diferenças e ao contraditório.
Na defesa da independência das instituições. Liberdade que, em sua plenitude, se traduz em confiança e respeito;
Em democracia…
Vasta e exuberante como a força e a história de Minas.
Minas Gerais está onde sempre esteve no longo e emblemático curso de Sempre ao lado do Brasil e dos brasileiros.
Sempre pelo Brasil e pelos brasileiros. Esta posição original e atávica tem nos exigido um alto senso de responsabilidade e ânimo entusiasmado para cumprir os nossos deveres.
Eles se resumem em uma só frase de Tancredo: ‘A Pátria, para nós, é tarefa de todos os dias’.
Uma tarefa que nos engrandece, comove e mobiliza como nenhuma Porque vem das profundezas de Minas, da alma de Minas, da coragem de Minas, a origem do sonho deste país.
Por ele, começamos, todos os dias, nas grandes lutas do presente, a busca incessante e determinada por um novo futuro.
E mais do que nunca guardamos as palavras do grande poeta Carlos
‘O presente é tão grande…
Não nos afastemos. Não nos afastemos muito.
Vamos de mãos dadas. É assim, de mãos dadas; Cabeça erguida; Coração altivo…que, em nome do nosso passado, entraremos, juntos, no futuro’. Ao futuro, mineiros!
Muito obrigado!
Que as razões da nacionalidade nos fortaleçam para que juntos possamos construir o país sonhado por tantos brasileiros.