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Derrota

“Vem aí a Futebolbrás”, análise do ITV

abr260613wdo_5211-300x198O governo jura que jamais vinculou futebol à política. Mas desmente-se todos os dias. A investida da hora é tentar descolar-se do fracasso da seleção brasileira defendendo a “renovação” do nosso futebol. Até instrumento para isso eles já têm: botar o Estado para intervir no esporte, a mesma receita que fracassa na economia.

Até a fatídica terça-feira em que a Alemanha atropelou o Brasil no Mineirão, a ordem era surfar na onda de otimismo, na esperança de que ela desaguasse na entrega da taça de campeão ao zagueiro Thiago Silva no domingo. Mas a maré baixou antes da hora e, com o naufrágio, busca-se agora, desesperadamente, o que afaste a presidente do espectro do fracasso em campo.

Anteontem, Dilma Rousseff deu, em entrevista à CNN Internacional, sua receita para superar o infortúnio: usar o poder de governo para impedir que jogadores deixem o país, como forma de criar atrativos para encher estádios brasileiros. Em paralelo, seu ministro de Esportes acrescentou que o Estado tem que participar das decisões futebolísticas. Não será surpresa se vier por aí uma Futebolbrás.

O governo pega carona no legítimo movimento protagonizado por alguns jogadores, o Bom Senso F.C. Na sua agenda renovadora do futebol nacional, a presidente promete recebê-los no Palácio do Planalto na próxima semana. E depois diz que não mistura política com a paixão nacional…

Na falta de uma lista robusta de benefícios duradouros para a população decorrentes da realização da Copa no Brasil, constatação que o discurso oficial luta para encobrir, o governo agora quer transformar uma possível reestruturação do nosso futebol – algo desejável – num feito seu. Pelo jeito, enfim encontraram um legado para exibir.

No entanto, o vezo estatizante que move corações e mentes do petismo – e que cobra seu alto preço no desempenho medíocre da nossa economia – se faz novamente presente. O cardápio vai desde a submissão de clubes e cartolagem ao Estado até a proibição da venda de jogadores para o exterior, ferindo, inclusive, a liberdade dos profissionais.

Do que se divulgou ontem, parece correto apenas querer cobrar contrapartidas de clubes e entidades de futebol a benesses concedidas pelo governo, como a renegociação de dívidas tributárias. Mas há aberrações como, por exemplo, ameaçar rebaixar time que atrasa salários.

Futebol se joga e se ganha, ou se perde, dentro de campo. A relação profissional entre jogadores e contratantes deve obedecer às mesmas regras e leis que regem qualquer categoria no mercado de trabalho.

Dilma e seu ministro de Esportes não querem que o Brasil “exporte matéria-prima e consuma produto acabado”. Acham que, intervindo no mercado da bola e podando a liberdade de ascensão dos nossos jogadores, conseguirão encher estádios Brasil afora.

A presidente poderia ter a mesma preocupação em relação ao resto da nossa pauta de comércio exterior, cada vez mais concentrada em produtos de baixo valor agregado. E poderia achar outra e mais eficiente maneira de salvar da ociosidade os elefantes brancos travestidos de “arenas” construídos para a Copa.

Futebol exige treino, diz Dilma. Corretamente. Mas também exige perseverança, competência, dedicação, trabalho árduo. O que a presidente diz sobre a seleção de Felipão cabe muito bem para sua equipe de governo. Afinal, são todos atributos bastante em falta na gestão do país…

Um ano atrás, depois que a seleção conquistou a Copa das Confederações, a presidente tentou tornar-se sócia do triunfo e disse que seu governo era “padrão Felipão”. Será que ela continua achando isso ou, dentro da sua estratégia de surfar na onda da hora, vai tentar forjar um novo bordão?

Aproveitar um momento de infortúnio para começar a construir um caminho que, no longo prazo, conduza ao reencontro com a trajetória de sucesso é algo bem-vindo, necessário, salutar. É o que fez a Alemanha depois de 2006, quando fracassou na Copa promovida em casa.

Iniciar esta trajetória mirando as eleições, apropriando-se oportunisticamente de movimentos e sentimentos legítimos de profissionais e torcedores e, sobretudo, enfiando o Estado onde não deve parece ser a pior maneira de tentar renovar o futebol brasileiro.