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Diálogo

“O Brasil despertou”, afirma Aécio Neves na volta ao Senado

unnamed-7-300x199Brasília (DF) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, ganhou um recepção calorosa nesta terça-feira (4) ao retornar suas atividades no Congresso Nacional. Aécio desceu do carro antes antes mesmo de chegar a portaria principal do prédio e foi acompanhado a pé por militantes, parlamentares e funcionários das duas Casas Legislativas que o aguardavam. E se comoveu com os o aplausos, gritos de incentivo e o hino nacional a capela. Para Aécio, processo eleitoral deste ano transformou o Brasil e fortaleceu a oposição brasileira.

“O Brasil despertou. O Brasil hoje é um Brasil diferente. Emergiu um novo Brasil – um Brasil que quer ser protagonista da construção do seu próprio futuro”, afirmou Aécio.

De acordo com Aécio, as urnas passaram um recado claro de que a população quer mais qualidade na gestão pública e respostas efetivas às denúncias de corrupção que marcaram o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

“Quando o governo olhar para a oposição, sugiro que não contabilize mais o número de cadeiras ou de assentos no Senado ou na Câmara. Olhe bem, e vai encontrar mais de 50 milhões de brasileiros que vão estar vigilantes, cobrando atitude deste governo. Cobrando investigações em relação às denúncias de corrupção, cobrando a melhoria dos nossos indicadores econômicos ou nossos indicadores sociais. Somos hoje um grande exército a favor do Brasil e pronto para fazer a oposição que a opinião pública determinou que fizéssemos”, disse.

Aécio ressaltou ainda que ele e o PSDB exercerão uma oposição “sem adjetivos”, caracterizada por não aceitar “passivamente tantos malfeitos, tantas incorreções e tanta ineficiência”.

“Serei oposição com a mesma coragem e com a mesma honradez que me preparei para governar o Brasil”, acrescentou.

Diálogo

Segundo o senador, um possível diálogo entre a oposição e a presidente Dilma terá que ser embasado em propostas. Aécio afirmou que, durante a campanha, a sociedade discutiu uma agenda para o país pautada por conceitos como transparência na economia e busca por melhorias nos indicadores sociais.

O presidente do PSDB lamentou, porém, o nível da campanha conduzida pelo PT durante o processo eleitoral. Na avaliação do tucano, a atuação dos governistas foi desrespeitosa em relação aos adversários e “temerária” para a população beneficiária de programas sociais – “permanentemente ameaçados de perdê-los se nós vencêssemos as eleições”, criticou.

Combate ao autoritarismo

Aécio Neves disse também que a luta do PSDB é pelo fortalecimento da democracia.

“Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político”, ressaltou.

“O lugar da política”, por Aécio Neves

aecio-neves-george-gianni-1-300x249O isolamento nunca fez bem aos governantes. Quem se afasta do contato popular e confia apenas num séquito de aduladores, tende a desenvolver, na clausura da poder, uma aversão crescente à realidade.

Temo que estejamos vivendo algo semelhante no Brasil. Isolada em seu palácio, se alimentando de estatísticas e informações oficiais, não raro, distorcidas, a presidente da República se distancia cada vez mais da pulsação intensa da vida diária. A palavra empenhada de aproximação com os movimentos sociais e um maior diálogo com a sociedade não conseguiu vencer as portas sempre fechadas, o acesso restrito, a redução dos canais de escuta e diálogo.

O governo se mostra acuado, temeroso de se expor. A figura da presidente tem sido poupada nos eventos mais populares, como o Carnaval. Até mesmo os discursos de abertura e encerramento da Copa do Mundo foram providencialmente suspensos, por medo das vaias que poderiam constranger as autoridades presentes.

É forçoso reconhecer que algo saiu errado no script minuciosamente montado para apresentar ao país uma versão edulcorada de sucesso, otimismo e crescimento. Não há enredo fantasioso que se sustente diante de uma realidade que teima em driblar as maquinações mais criativas. A economia cresce pouco. A inflação caminha célere. A inadimplência das famílias bate no teto. A indústria patina e produz o equivalente a 2008. A carga tributária é das mais altas do mundo e a conta dos erros no setor elétrico começa a ser cobrada de empresários e consumidores.

Nas áreas essenciais, os números são vergonhosamente ruins. Na saúde e na segurança, as crises se acumulam, denunciando diariamente a crônica precariedade dos serviços públicos. A anunciada austeridade fiscal não convence nem o próprio governo, que a atropela sistematicamente.

Há visível descompasso entre o Brasil real e o da propaganda. Em algum momento, eles deverão se encontrar frente a frente. Até lá, seria prudente distender a estratégia de confronto e isolamento em vigor.

Em tempos de crise, é preciso baixar a guarda, ouvir e conversar mais. A intolerância com os adversários, a ojeriza ao debate transparente e a arrogância no trato com interlocutores de vários segmentos chegou ao cúmulo de atingir agora os próprios aliados.

O debate democrático foi substituído por um discurso ufanista e autoritário, retrato de uma gestão encastelada em suas quimeras.

O Brasil merece mais. Acima da agenda eleitoral, os brasileiros clamam por boa governança. Para tanto, é preciso abrir as portas e sair às ruas para ver a realidade em movimento e ouvir as vozes que, hoje, não conseguem ultrapassar as antessalas do poder.

*Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

**Artigo publciado na Folha de S. Paulo – 17-03-2014