Já deixou de ser novidade o uso, por parte do PT, de métodos espúrios para travar a disputa política. Mas, de vez em quando, aparecem revelações que ainda conseguem estarrecer. O partido que produziu a compra de votos em escala industrial também desenvolveu uma linha de montagem para fabricar dossiês em série e pôs para funcionar uma máquina de triturar reputações.
A edição da revista Veja desta semana traz mais uma revelação sobre o Estado policialesco que o PT instalou dentro do governo. Funciona – será que isso ainda surpreende alguém?! – a partir do Ministério da Justiça, exatamente o mesmo centro de irradiação de recentes aloprações em torno de papéis fajutos que tentavam incriminar tucanos no caso Siemens. Mas recebe demandas do governo inteiro e, principalmente, ordens do Palácio do Planalto.
As revelações constam de livro a ser publicado nos próximos dias pelo delegado de polícia Romeu Tuma Jr, ex-secretário nacional de Justiça do governo Lula. O autor conhece o que viu: chegou ao posto logo no início do segundo mandato do petista, em uma negociação que envolveu a adesão do PTB à base governista. Permaneceu no cargo por um bom tempo, entre 2007 e 2010. Presenciou muita falcatrua.
Tuma Jr conta que, enquanto ocupou o cargo, até ser afastado por suspeita de envolvimento com máfias chinesas de contrabando, recebia ordens de cima para conduzir investigações que prejudicassem adversários do governo Lula. Ele nomina algumas de suas vítimas: o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o ex-senador Tasso Jereissati.
Tucanos, ambos foram alvos preferenciais da bandidagem oficial pelos incômodos que causavam ao petismo. “Recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. O PT do Lula age assim: persegue seus inimigos da maneira mais sórdida”. Até Ruth Cardoso entrou na mira da vilania petista.
Mas o livro, assim como a reportagem e a entrevista dada pelo ex-secretário à Veja, trazem muito mais casos assombrosos. Tuma Jr conta, por exemplo, que o PT mantinha uma conta nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal usado para lavar dinheiro, para alimentar o mensalão. Instado a cooperar numa investigação internacional para desbaratar esta trama, o então secretário foi forçado por superiores a engavetar o assunto.
Malas de dinheiro também circulavam em gestões municipais petistas, como a de Santo André, onde o então prefeito Celso Daniel foi morto em 2002. Sobre o assunto, Tuma Jr diz ter ouvido de Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral da Presidência da República: “O Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, todo o recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições”. Acha grave? Tem muito mais.
O ex-secretário de Justiça também conta que Lula – que na época ainda se chamava apenas Luiz Inácio da Silva – foi um pródigo colaborador do regime militar, na pele de informante do Dops, então dirigido por Romeu Tuma, pai de Tuma Jr. “Os relatos do Lula motivaram inúmeras operações e fundamentaram vários relatórios de inteligência. Graças às informações que o Lula prestava ao meu pai, muitas operações foram realizadas”, relembra ele, então investigador do temido órgão de polícia nos anos 80.
Ministros do STF também foram vítimas da máquina de bisbilhotar a vida alheia azeitada pelo PT. Segundo Tuma Jr, todos os integrantes da mais alta corte de Justiça do país são constantemente vigiados e monitorados pela arapongagem às ordens do Palácio do Planalto.
Ele até tentou denunciar à época, mas encontrou ouvidos moucos: “Não há nada relatado no livro que eu não tenha denunciado imediatamente aos órgãos adequados”, diz o autor. Como se constata, estamos diante de um Estado assustadoramente policialesco.
O mais grave é que a máquina petista de triturar reputações continua a pleno o vapor, como se viu nos últimos dias com a revelação de que o Ministério da Justiça esteve no centro de armações que deram ares de veracidade a papeluchos forjados para tentar incriminar desafetos do PT. Tuma Jr diz, aliás, que desde 2008 o governo petista tentava algo do tipo. Fácil ver que a coerção vil está no modus operandi inerente aos petistas.
Até agora, havia dúvidas se grossos trambiques, dossiês e aloprações desta natureza eram produto de petistas que agiam por conta própria, sob desinteresse conivente de chefes, ou se há uma engrenagem azeitada e organizada dentro do próprio governo para difamar adversários. A prevalecerem as revelações feitas por um graduado ex-funcionário da gestão Lula, ficou provado que a segunda hipótese é a verdadeira, o que é gravíssimo.
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