Dessa vez não vai dar para “tapear”. Os olhos do mundo já estão aqui e é evidente que a Copa ajuda a trincar a imagem do governo brasileiro. Depois das expectativas criadas, a desorganização transformou o evento numa caricatura daquilo que o próprio PT prometeu. Viajaram na maionese e não entregaram nem a metade. Não dá mais para esconder a crise de credibilidade que se abateu sobre o Planalto.
Desnorteado pela reprovação pública que cresce ao seu redor, o PT tenta levantar o moral da tropa acirrando os ânimos e politizando a Copa. Lula recorre ao velho estratagema do sujeito indeterminado para dizer que “setores” torcem contra a seleção para atingir o PT. Não bastasse o delírio de tentar associar o orgulho à vergonha, Lula acha que o povo é idiota e se presta ao papel de bovino que aceita a canga.
Há um recorrente divórcio entre o que o governo diz e o que as pessoas observam. Para a FIFA, é um inferno lidar com os políticos do governo. Para a presidente, os dirigentes da FIFA são um peso nas costas. Eles lavaram tanta roupa suja em público, acabaram tão parecidos em meio às acusações mútuas, que o resultado está aí: nunca o Brasil foi tão enxovalhado internacionalmente.
Com o Google e o YouTube, qualquer um encontra o que quiser sobre os preparativos da Copa. Está tudo lá: discursos triunfais, promessas de milagres nas cidades brasileiras, trem-bala, aeroportos, estádios… Daí, quando a Infraero diz que vai “tapear” obras inacabadas ou Lula chama de “babaquice” a falta de metrô, o brasileiro sente o calafrio: as decisões que influenciam a vida de todos estão nas mãos dessa gente!
Enquanto isso, o marketing petista tenta inocular a ideia de que o partido representa o novo e a mudança nessa luta enlouquecida contra o passado – só que são eles mesmos que estão há 11 anos no poder… Longevidade sem precedente desde que a vitória de Tancredo Neves no colégio eleitoral encerrou a ditadura – aliás, como em outros momentos de comunhão nacional, sem os votos do PT.
Há certa histeria entre os petistas com a hipótese de ter que deixar o poder. Esse linguajar de acerto de contas, do “nós não vamos deixar”, tão usada por Dilma e Lula, é inadequado num debate livre e democrático. Usar a Copa e a seleção para tentar dividir, incitar e manipular as pessoas é uma infâmia. Dilma deveria ser a presidente de todos os brasileiros. Como não consegue ser, o Brasil a reprova. Sua imagem trincou.
José Aníbal é deputado federal (PSDB-SP).