O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (SP), ao participar, nesta segunda-feira (1) do programa Roda Viva, da TV Cultura, afirmou que uma das principais falhas do governo de Dilma Rousseff é o fraco diálogo com a sociedade, incluindo os partidos de oposição.
“Acho que a presidente Dilma deveria ter chamado a oposição logo. Agora é tarde, já está tudo cozinhado”, disse o presidente de Honra do PSDB, em referência à tentativa de debate sobre a ideia de um plebiscito para a reforma política.
O tucano destacou também que há, no Brasil, “um atraso crítico [na política] que se traduz em clientelismo e na vontade de se mamar nas tetas do governo.”
Confira os principais pontos de fala do tucano.
Manifestações – Para o ex-presidente, as manifestações foram o resultado de um “caldo de cultura” criado no Brasil por conta da insatisfação dos cidadãos com a classe política. FHC disse que os brasileiros se cansaram das diferenças que há entre “o Brasil da propaganda” e a situação real. Avaliou que embora tenham sido registradas quedas na popularidade de diferentes políticos, o principal prejudicado pela onda de insatisfação é o governo federal. O caráter difuso das manifestações, para o tucano, reflete ainda a “cooptação” dos movimentos sociais que se verificou na era PT.
Diálogo – FHC apontou como uma das maiores deficiências do governo Dilma o pouco diálogo praticado com sociedade. “Quando eu era presidente, me diziam que concordava com todo mundo. O fato é que estava preocupado em ouvir todos.” Acrescentou que, na sua visão, “o PT precisa conversar com o país, e não apenas ler textos escritos por marqueteiros”. Relatou que teve um encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para o debate de temas da política nacional: “O momento atual é ideal para que as pessoas conversem”.
Classe média – Destacou que, sob os governos petistas, houve um “achatamento” da classe média: “A classe média sofre com a questão do hospital, da saúde.”
Reforma política – Ideias como referendo ou plebiscito para a realização de uma reforma política no Brasil devem ter origem no Congresso Nacional – e não em uma proposta da Presidência da República, como o PT sugeriu, disse. Para ele, a mudança do sistema político não é a prioridade dos cidadãos, embora haja uma insatisfação com os gestores públicos. Manifestou-sen favorável ao voto distrital, que deveria ter início em âmbito municipal.
“Dissonância cognitiva” – O ex-presidente usou o termo “dissonância cognitiva” para se referir ao descompasso que há entre o país divulgado pelo governo federal e a realidade encontrada pelos cidadãos. “A vida é dura, e não é como nos anúncios”, afirmou. O tucano destacou que, embora o Brasil tenha registrado ganhos econômicos nos últimos anos, não houve avanços em áreas como segurança pública.
Intervenção e incoerências – Para FHC, em muitos aspectos os 10 anos do PT na Presidência da República são caracterizados por contradições entre o que eles defendiam em campanhas eleitorais e o que efetivamente é feito. Exemplificou que o PT era contra a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e hoje defende. Apontou ainda que o partido faz forte intervencionismo na economia de mercado e, para as classes baixas, estimula o liberalismo, “mas sem o espírito da competição, do mérito, da produtividade”.
Globalização e intelectualidade – Observou que a globalização afetou, além da economia, a produção intelectual em todo o mundo. Por conta desse cenário já não há mais tanta distância entre o que é discutido no ambiente acadêmico e o que se debate na sociedade.
Racismo – FHC disse que as questões raciais são, ainda, um problema de grande magnitude no Brasil. Destacou que políticas compensatórias, que privilegiem a inclusão de grupos historicamente prejudicados, devem ser implantadas – “mas têm que ser momentâneas”.