“É preciso ter coragem para defender a vida”, diz Yeda Crusius sobre a gestão da pandemia em entrevista à TV Ulbra
Mais de 331 mil mortos, vacinas escassas, sistema de saúde em colapso, médicos e enfermeiros sobrecarregados. Esse é o saldo atual da pandemia do coronavírus no Brasil, e o resultado de uma gestão que não soube se organizar para remediar a pior crise sanitária da história. É o que destacou a presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Yeda Crusius, em entrevista ao programa Conexão RS, da TV Ulbra, afiliada da TV Cultura no Rio Grande do Sul.
“É preciso ter coragem para defender a vida”, afirmou. “Quando não existe coordenação para um evento que toca todos os cidadãos do país, em qualquer canto em que eles estejam, como é o caso da pandemia, há uma imensa dificuldade para que gestores que não estejam na Presidência da República possam fazer a sua parte. Porque a gente não fecha os estados, não tem muro nos municípios. A pandemia vai para onde o vírus encontra condições de se expandir, de contaminar, de matar”, apontou.
A tucana criticou a atuação do governo federal no combate ao vírus e o desperdício da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), sucateado pela má gestão.
“Somos sanitaristas reconhecidos no mundo inteiro. Se tem uma coisa pela qual o Brasil é reconhecido, é a sua gestão em saúde via SUS. Não há um município do Brasil que não tenha SUS. Então, se uma pandemia encontra uma infraestrutura como essa, só é preciso que se flua, desde o federal até mais abaixo”, afirmou.
“Revolta na rua, desemprego, ressentimento, muito choro, não despedir dos familiares. A pandemia é um registro muito triste para o Brasil. Para um Brasil que tem o SUS que tem, que tem cientistas como temos. Se você me pergunta como está a gestão, está péssima. Fora de qualquer padrão minimamente aceitável”, resumiu ela.
Panorama para 2022
Durante a entrevista, Yeda discutiu os rumos do PSDB nas eleições de 2022 e defendeu a realização de prévias para definir o possível candidato do partido à Presidência da República. Segundo ela, são três os nomes apresentados até o momento: o do governador de São Paulo, João Doria; o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e o ex-senador e ex-prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio.
“O PSDB vai ter prévias no dia 17 de outubro, e vou ajudar a construir essas prévias. Para mim, o ideal é que tenha prévias nos estados. Poucas são as prefeituras que tiveram prévias. Só São Paulo tem essa experiência, e nós temos que passá-la adiante. Cada uma das candidaturas é absolutamente importante, válida. É o conjunto nacional que vai decidir, lá do Amazonas, passando pelo Piauí, quem vai ser o candidato do PSDB ou não. Ou se nós, dessa vez, cedemos a cabeça de chapa”, considerou.
“Se você quer o bem do Brasil – esse é o lema do PSDB, ele nasceu para isso – não é a vaidade de um, não é o desejo de outro, e sim uma construção profissional que leve à escolha do nome que vai disputar junto aos eleitores”, acrescentou ela. “O importante é tirar o Brasil desse caminho perigoso no qual ele se meteu”, pontuou.
A presidente do PSDB-Mulher analisou ainda qual deverá ser o seu papel, enquanto representante das tucanas de todo o país, nesse processo de decisão.
“Acho que o meu papel agora deve ser crescentemente nacional, que é para a gente mudar o quadro nacional que está trazendo imensos prejuízos para o Brasil. Como é que se faz isso politicamente? Da maneira como eu sei: conversando com todo mundo e buscando ser ativista na construção de uma candidatura de centro. Não apenas para a Presidência da República, mas prévias nos estados. Eu, como presidente do PSDB-Mulher Nacional, já estou iniciando uma campanha para fazer prévias nos estados para as campanhas majoritárias, que são governador/governadora, vice-governador/vice-governadora, e senador/senadora”, revelou.
“É preciso a construção de uma nova ordem. Todas nós, e todos nós que temos experiência, devem colocar o seu nome à disposição para trabalhar onde aparecer”, opinou a tucana. “Os partidos têm falhado. Há um descrédito. Mas é o conjunto de partidos que vai definir que conjunto de lideranças querem para levar uma grande transformação adiante, e para isso é preciso construir um plano para o Brasil”, constatou.
Experiência no Rio Grande do Sul
Na entrevista, Yeda Crusius falou também sobre sua experiência como governadora do Rio Grande do Sul. Para ela, o maior acerto de sua gestão foi a elaboração de um plano de governo escrito e público, que prestava contas não só aos eleitores, mas à população, à Assembleia Legislativa, à Justiça e ao Tribunal de Contas.
“Pude governar até a ponto de enfrentar todo aquele assassinato de reputação que caiu em cima de mim, a partir de 2008. Mas por quê? Porque a gente sabia onde queria chegar, tinha uma equipe maravilhosa, programas estruturantes que agregavam todos os secretários, um ajudava o outro. Meu acerto foi ter um plano e, claramente, no campo da ética, ter feito o plano para cumprir, e não para constar. O plano foi feito com base em um diagnóstico do que o Rio Grande do Sul precisava, e nós acertamos”, ressaltou.
A tucana relembrou as dificuldades de ser mulher em um ambiente predominantemente masculino, e comparou os ataques que recebeu à época com a situação vivida hoje pela prefeita de Palmas (TO) Cinthia Ribeiro, que tem recebido ataques e ameaças por defender medidas de isolamento social no combate ao coronavírus.
“Eu escolhi um mundo masculino no meu tempo, que foi a economia, a política, emitir opinião na televisão. Sempre a primeira fazer isso, a primeira a fazer aquilo”, contou.
“Hoje eu vejo que, sim, muito do que me fizeram era porque eu era mulher. Assim como estão fazendo com a Cinthia, única mulher eleita em prefeituras de capital, em Palmas, no Tocantins, porque ela é mulher e é do PSDB. Existe machismo sim. Mas, se a gente simplesmente o enfrenta da maneira como a gente é, ele não vence. Ele cobra um preço alto, mas não vence. Hoje o mundo mudou, as coisas são mais abertas, então toda vez que alguém é sujeito a um ato machista, é mais fácil dizer: ‘olha, isto é machismo’”, ponderou.
Sobre privatizações
Perguntada sobre o assunto, a ex-governadora comentou ainda sobre a decisão do atual governador do Rio Grande do Sul, o tucano Eduardo Leite, de privatizar a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), e as negociações para fazer o mesmo com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
“Privatização não é mais palavrão. Não vejo mais isso em manchetes de jornal, em imagens de TV, programas de rádio. Se percebeu que a palavra, em si, não contém o demônio. O demônio é quem tira de ti para botar no próprio bolso, seja por corrupção, má gestão”, avaliou.
“A nação, o país, exige autonomia para aquilo que é importante para o seu povo. Eu saúdo, sim, que a privatização seja, hoje em dia, um processo entendido como uma coisa que melhore o quadro do serviço público. Agora, se for para ter mais alto o preço e pior o serviço, então não é isso que a gente chama de privatização. Por isso que o contrato é tão importante”, completou a presidente do PSDB-Mulher.