Porto Alegre (RS) – Centenas de bandeiras coloriram o percurso feito pelo candidato da Coligação Muda Brasil à Presidência da República, Aécio Neves, até o ginásio Gigantinho, na tarde deste sábado (2), no Rio Grande do Sul. Ao lado da senadora Ana Amélia (PP-RS), candidata ao Governo do Estado, Aécio participou do Encontro da Esperança, evento que reuniu mais de dez mil pessoas na capital gaúcha.
Após a execução dos hinos nacional e estadual, Aécio destacou a grandiosidade do evento. “Tenho andado muito pelo Brasil, muito mesmo, todos os dias. E hoje, nesse exato instante, os olhos do Brasil inteiro, de todas as regiões desse extraordinário país, estão colocados sobre Porto Alegre, sobre o Rio Grande [do Sul], sobre o Gigantinho”, ressaltou o candidato.
Em seguida, Aécio acrescentou: “Hoje Porto Alegre realiza o maior evento dessa campanha eleitoral, de todos os partidos. Está dada a largada para a campanha da decência, da dignidade, da verdadeira mudança”.
Para o candidato da Coligação Muda Brasil, o brado da região Sul “será ouvido do longínquo estado do Acre, no Centro Oeste, que luta tanto para escoar a sua produção, no Nordeste, que ainda pena com a insegurança e com a desigualdade, e no Sudeste, que vê na sua história a incompetência do atual governo”.
Olho no olho
Sob fortes aplausos, Aécio salientou que a campanha da Coligação Muda Brasil à Presidência da República será feita não com ataques, mas com propostas. “A cada mentira e cada ataque que lançarem sobre nós, vamos falar três verdades sobre eles, que desorganizaram e destruíram a nossa economia. Temos oito semanas que nos separam do momento da verdadeira transformação”, afirmou.
O candidato à Presidência defendeu que a campanha seja feita “olho no olho, no corpo a corpo” e ouvindo as demandas da população. “Farei essa campanha como estou fazendo aqui, olhando no olho das pessoas. Agradecendo o apoio com um abraço afetuoso. Mas a nossa adversária não tem coragem de caminhar pelo meio do povo, nas casas e ruas desse país, porque não tem mais a confiança dos brasileiros”, acrescentou.
A de Atitude
Candidata ao governo do Rio Grande do Sul pelo PP, a senadora Ana Amélia reiterou seu apoio à candidatura de Aécio Neves à Presidência da República.
“Começa hoje uma bonita história, escrita com trabalho, com vitória, com união, com a nossa esperança de mudar. A letra “A”,de Ana Amélia e de Aécio, é também “A” de atitude, de ação, de amizade, de amor. Essa gente veio aqui hoje porque quer, porque acredita na mudança. Já são doze anos de PT no Brasil, e os quatro anos aqui no Rio Grande do Sul – governado pelo petista Tarso Genro – parecem uma eternidade, porque o Estado ficou à serviço de um partido, e não da população”, ressaltou.
Ana Amélia destacou ainda que a campanha deverá ser permeada pelo trabalho: “Eu acredito no trabalho. Só o trabalho deixa as pessoas melhores. Daqui até a eleição, nós só temos uma missão: levar o nome do Aécio a todos os rincões. Porque nós precisamos dele. O Rio Grande do Sul precisa do Aécio”, afirmou.
Entrevista do candidato à Presidência da República pela Coligação Muda Brasil, Aécio Neves
Local: Porto Alegre (RS)
Data: 02/08/2014
Assuntos: Encontro em Porto Alegre; denúncias da Revista Veja; judicialização da campanha eleitoral; renegociação das dívidas estaduais e municipais; políticas sociais e para minorias; medidas para estímulo ao crescimento econômico; flexibilização para o Mercosul; Mais Médicos
Encontro político em Porto Alegre.
Aécio Neves – Uma das que mais alegria me deu por todas as construções políticas que nós fizemos no Brasil, porque essa é uma construção política onde sentimentos comuns se aproximam. Vejo na Ana Amélia aquilo que a política brasileira, porque a política brasileira anseia, busca. Ana Amélia é a novidade do Congresso Nacional e a esperança do Rio Grande do Sul. Tanto que quando você consegue construir um quadro político tão plural como o nosso, tão amplo, uma aliança tão consistente como essa e com alguém com a personalidade, com história de vida, com o comportamento da Ana Amélia, isso me dá esperança de que é sim, através da política, que nos vamos construir um tempo novo para o Rio Grande do Sul, um tempo novo para o Brasil.
Então, venho mais uma vez, Ana Amélia, somar ao seu lado. Eu saúdo os dirigentes dos partidos políticos aqui presentes, através do presidente Adilson Troca do meu partido [no Rio Grande do Sul] e vamos em frente. Agora, cabe a nós debatermos ideias, propostas, projetos e mostrar que o Brasil está cansado desse modelo que aí está.
Hoje, os principais jornais nacionais e aqui, não deve ter sido diferente, noticiam os resultados da indústria brasileira. Eu estive participando esta semana de um evento na CNI em Brasília e nós mostrávamos esse quadro. Não trata mais de uma análise de um banco internacional que desagrada o governo, até porque todas se convertem na mesma direção. Nós estamos tendo o pior resultado da indústria automobilística de todos os últimos anos. [A indústria] reduziu a sua capacidade em mais de 30% em apenas um ano. O conjunto da indústria, e todas as suas manifestações, ela teve do mês de julho do ano passado pro mês de julho desse ano uma queda em torno de 7%.
O Brasil não pode mais aceitar esse quadro gravíssimo de estagflação que o governo do PT vai legar ao seu sucessor – estou cada vez mais convencido que seremos nós – de perda de capacidade de crescimento. Vamos crescer, como vocês sabem apenas, na América Latina seremos o penúltimo e, na América do Sul, seremos o último em crescimento e com a inflação já estourando o teto da meta.
A crise de confiança que tomou conta do Brasil, ela impacta, inclusive, na geração futura de empregos e, no campo social, nosso indicadores deixaram de avançar. No campo da gestão pública, o Brasil é um cemitério de obras inacabadas, abandonadas e com sobrepreço por toda parte. Portanto, esse é sim um quadro perverso, a herança maldita que o governo do PT deixará pro seu sucessor.
E nós estamos preparados para poder enfrentar os desafios e colocar o Brasil de novo no rumo do crescimento sustentável e, obviamente, tratando de fazer com que os avanços sociais possam voltar à casa, à mesa, à família dos brasileiros. Estou à disposição de vocês.
Determinação da Justiça sobre Eduardo Campos e a Folha de S. Paulo
Aécio Neves – Sou de uma tradição mineira que diz que a decisão da Justiça se cumpre. Quero até aproveitar esta pergunta e dizer que todos nós, homens públicos, mulheres que estão na política, temos o dever de responder a quaisquer questionamentos que sejam feitos em relação a nós, sejam acusações, sejam insinuações. Devemos fazer isso sempre com absoluta serenidade. É dever de quem está na política, como é dever também trabalhar e lutar para que os esclarecimentos em relação às denúncias sobre eles cheguem para a população brasileira. Então, é isso que eu tenho buscado fazer. Não vou comentar especificamente desse caso relacionado à candidatura de Eduardo, mas a Justiça entendeu que deveria dar ali espaço para que o candidato em Pernambuco pudesse se manifestar.
A verdade é que nós estamos já em um ambiente eleitoral e as tensões eleitorais elas existem. Elas tornam todos os fatos, dão uma dimensão maior à fatos que talvez não tivessem essa dimensão no dia a dia. No mais, eu acho que a decisão da Justiça, que deve ser cumprida apenas.
Estratégia para avançar a campanha nos Estados
Aécio Neves – Era a minha estratégia aqui! Com toda sinceridade do mundo, eu acho que está muito bom pra esse momento da campanha. Há um grande nível de desconhecimento em relação tanto ao candidato Aécio, quanto às suas propostas. Apenas no momento em que começar a propaganda eleitoral e, nós estamos aí prestes, a poucas semanas deste dia e que as pessoas vão, primeiro, conhecer os candidatos e entender um pouco o que diferencia um do outro. Eu acho que, para quem jamais disputou uma eleição nacional. O companheiro Serra que será Senador mais uma vez em São Paulo, quando disputou a eleição em 2010 já tinha tido uma eleição presidencial. Era natural que seu nível de conhecimento fosse maior, mas o que eu tenho visto é que a aceitação e o apoio que a Senadora Ana Amélia vem tendo estimula a pensar que é possível sim, termos um resultado ainda melhor do que esse que aí está. Em todos os lugares do Brasil, esse é um fato que divido com você aqui, sem nenhuma exceção, nós fazemos pesquisas quase que semanalmente, em todos os estados brasileiros, uns em velocidade maior, outros menor, nós estamos crescendo. E a movimentação da presidente ou é de estagnação ou de queda. E o dado relevante das pesquisas hoje é que há uma candidata a Presidência da República com 100% de conhecimento e candidatos de oposição, no caso do Eduardo, ainda um desconhecimento ainda maior. Mas o que me alegra é que eu vou fazer uma campanha, estou vindo agora de Curitiba, uma caminhada maravilhosa, lá por dez quarteirões no centro da cidade, chegando na Boca Maldita. Vamos nos encontrar agora no Gigantinho, com milhares de pessoas de todo o estado. Eu não sei o resultado da eleição, mas eu vou fazer uma campanha nas ruas, olhando pras pessoas. A presidente da República está sitiada. Ela não consegue fazer nenhum evento que não seja previamente programado, com todo tipo de segurança, inclusive aí misturando o público com o privado.
Denúncias da Revista Veja
Aécio Neves – E quero aproveitar esse momento pra dizer que as denúncias que a Revista Veja publica hoje, não sei se vocês já tiveram conhecimento, provavelmente que, sim. São denúncias de extrema gravidade. O PSDB está se reunindo na segunda-feira para definir as medidas judiciais a tomar. Se comprovada essa verdadeira farsa, que houve nos depoimentos em relação à CPI da Petrobras. São denúncias extremamente graves que envolvem senadores, servidores da Petrobras, envolvem servidores da Presidência da República e o PSDB irá tomar as medidas judiciais representando, seja no Conselho de Ética do Senado Federal, seja no Conselho de Ética da Presidência da República em relação à conduta que, se confirmadas as denúncias da revista veja, são condutas vedadas a servidores públicos.
Renegociação das dívidas estaduais.
Aécio Neves – O governo não é confiável. Participei, como senador, de todas essas negociações do Senado Federal. Quando deixei o governo de Minas, afirmei que a negociação era absolutamente necessária. A situação no meu estado talvez não seja pior do que do Rio Grande do Sul, mas é grave como de todos os estados brasileiros. Existia uma pauta da federação que foi encaminhada por prefeitos das capitais e governadores. Nesta pauta se destaca exatamente o projeto de renegociação das dívidas, com a mudança do indexador. Outras propostas construíam e formavam essa agenda, uma delas, até de minha autoria, permitia que as desonerações de IPI e Imposto de Renda que incidissem sobre as parcelas de Estados e municípios. Resumindo: o governo poderia, se aprovada essa nossa proposta, continuar fazendo as desonerações que achassem necessárias e pontuais em razão de uma concorrência desleal ou de uma questão sazonal de uma determinada atividade. Mas só poderia fazer na parcela que lhe cabia. Não na parcela que compõe o fundo de participação de Estados e Municípios. O que aconteceu nos últimos anos é que as prefeituras viam, em razão de uma ação unilateral tomada por Brasília, parte da sua receita retida. Em três anos, foram R$ 11,5 bilhões que deixaram de ir para os cofres municipais. Essas questões, a senadora Ana Amélia participou intensamente desses debates, em especial as questões das dívidas simplesmente foram abandonadas pelo governo porque o governo perdeu a capacidade de gerir a política econômica. O governo da presidente Dilma fracassou. Fracassou na gestão da política econômica, na gestão do Estado e das políticas sociais. Não vejo neste governo força política nem disposição real para enfrentar esse contencioso. Quero dizer que a força do governo que hoje é decadente será ainda muito menor em novembro porque estará no governo uma presidente derrotada nas urnas pela grande maioria dos brasileiros.
Judicialização da campanha.
Aécio Neves – Essa campanha tem sido ‘judicializada’ em razão da dificuldade que o PT tem e sempre teve de separar o público do privado. Se você abrir hoje a revista Época vai encontrar outras denúncias em relação a conduta lideranças importantes do PT. O que nós vamos fazer é defender as instituições, o PSDB e os membros do PSDB das acusações que venham do campo governista. Por exemplo, retiramos do ar propagandas da Petrobras e de empresas públicas por uma simples razão: elas são vedadas em período pré-eleitoral. E, o governo desconheceu essa vedação. Todas as denúncias ou ações que o governo quiser impetrar serão respondidas por nós judicialmente. [Sobre o Aeroporto de Cláudio] essa questão não merece nem consideração de tão ridícula que é. O que nós precisávamos é que as agências reguladoras resgatadas na sua gestão, que os processos de homologação, por exemplo, não demorem três anos ou até dez anos como demoram hoje. Isso é resultado em parte da incapacidade de gestão do PT em todas as áreas, em especial no esfacelamento das agências reguladoras. Não queremos disputar nos tribunais, queremos nas ruas. Mas vamos obviamente usar do direito e do dever que temos como oposição de ir à Justiça, quando acharmos que é necessário. Hoje a denúncia que uma revista nacional traz é extremamente grave. Ela mostra que houve uma farsa. Veja o que estou colocando: se comprovadas as denúncias hoje publicadas na revista. Se comprovadas as denúncias, mostra que houve uma farsa: servidores da Petrobras enganando a sociedade brasileira, trocando informações e mandando perguntas que previamente já tinham suas respostas definidas, mostrando uma grande encenação. Se isso ocorreu, é um enorme desrespeito ao Congresso Nacional e os responsáveis têm de dar explicações.
Propostas para a retomada do crescimento
Aécio Neves – Em primeiro lugar, a vitória do PSDB, por si só, é um sinalizador claro de que nós teremos um ambiente muito mais propício à retomada do investimento do que se ficar o atual governo. E eu, recentemente num debate na CNI, disse que nós vamos saltar com esforço conjunto da sociedade brasileira, com regras claras, com a diminuição do custo Brasil com a simplificação do nosso sistema tributário, com um grande choque de investimentos em infraestrutura, nós vamos saltar de uma tacada de investimentos hoje, em torno de 18%, para no final do próximo mandato chegar próximo de 24%. Esse é o nosso ousado, sim, mas objetivo a ser alcançado.
Não justificaria eu estar aqui, reunido com os senhores para apenas vencer as eleições. Eu quero vencer as eleições e retomar a capacidade do Brasil de crescer, de gerar renda, oportunidades, obviamente, avançar em seus indicadores sociais. Tenho confiança de que nós teremos, no pós-vitória do PSDB, um clima oposto àquele que nós tivemos em 2002 na vitória do presidente Lula que, pelas sinalizações que dava durante a sua campanha eleitoral, gerou um clima de incerteza – isso não é uma crítica política. É uma constatação econômica.
Isso gerou um clima de incerteza muito grande, vocês se lembrarão, a inflação disparou, estava em 7,5% chegou a 12%, o dólar disparou, até que o presidente sinalizasse na direção do descompromisso com aquilo que dizia durante a campanha e incorpora, sem qualquer modificação, os marcos e pilares macroeconômicos, vindos do governo interior: metas de inflação, campo flutuante, superávit primário. E, a partir daquele momento, ele consegue resgatar um clima adequado de serenidade no plano da economia brasileira e que foi, obviamente, sustentado por um momento também de crescimento da economia global, com fluxo grande de recursos para o Brasil. Mas o período entre a eleição e posse foi um período de incertezas.
O período entre a nossa eleição e a posse será um período favorável à retomada do diálogo com outras regiões do mundo. O Brasil tem que sair desse atrasado alinhamento ideológico na sua política externa que beneficio algum vem trazendo ao Brasil. O que nós fizemos ao longo desses últimos 11 anos de PT, apenas três acordos bilaterais: Egito, Israel e Palestina, sem a maior relevância do ponto de vista econômico.
O Brasil, a cada ano, vem reduzindo a sua participação no comércio internacional e as nossas empresas estão tendo dificuldades crescentes de se internacionalizar, de adentrarem de compartilharem as grandes cadeias globais de produção. Então, o meu esforço é criar um ambiente de segurança. Sem intervencionismo, repito, com segurança jurídica, portanto, marcos regulatórios claros, com resgate das agências reguladoras que serão agências da sociedade ocupadas por pessoas absolutamente qualificadas, absolutamente qualificadas e não por indicações políticas como acontece hoje em praticamente todas elas, com os desvios que passaram a ocorrer em grande número. Portanto, o que nós queremos é resgatar o Estado brasileiro. O Estado brasileiro tem que estar a serviço da sociedade, dos brasileiros e, não, de um projeto de poder como ocorre hoje. Em relação à bravata do ex-presidente. Diria que o presidente Lula é meu amuleto em Minas: cada vez que ele vai lá, meu candidato sobe e o dele cai um pouco nas pesquisas.
Investimentos regionais.
Aécio Neves – Tenho dito que a base da nossa construção, vamos chamar de macroeconômica e de ação política, passa pela refundação da federação. Não continuarei levando o Brasil a se transformar, como vem ocorrendo ao longo dos últimos anos, quase que num estado unitário, onde a dependência seja absoluta em relação a Brasília para qualquer iniciativa. Os municípios -não preciso nem dizer porque os do Rio Grande vivem a mesma dificuldade – são hoje meros pagadores de folha e os Estados dependem quase que diariamente da União para fazer qualquer investimento estruturador.
Quero é resgatar a capacidade dos Estados se desenvolverem, de eles próprios fazerem seus investimentos, estimular as parcerias com o setor privado, com regras absolutamente claras para que isso possa ocorrer, abrir fronteiras para os produtos brasileiros. Aqui no Rio Grande, eu diria o Rio Grande é um grande é um Estado excessivamente industrializado, adequadamente industrializado, tem um agronegócio extremamente vigoroso, e nós não temos, por exemplo, política externa que avance em novos mercados, que nos abra novos mercados. Eu vou citar um exemplo muito pontual e algo que faria e que atenderia muito o Rio Grande. Por exemplo, vocês acompanharam, nós viemos de uma negociação, nós Brasil, ao longo dos últimos anos, com a União Europeia, uma lenta negociação. Anunciou-se no final do ano passado que haveria um entendimento de um acordo Mercosul e União Europeia.
A decisão era uma só: nós íamos fazer essa aliança com a União Europeia. Já havia uma negociação e eu estive com o ministro Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, recentemente no Rio de Janeiro, conversamos sobre isso. E, ele, tem ligações até pessoais, familiares com o Brasil, é um estimulador dessa aliança, ele dizia o seguinte, e é bom que isso fique claro: Olha, nós conseguimos, com enorme esforço, negociar ao longo dos últimos três anos, dentro da União Europeia, uma cota, um espaço para produtos que venham do agronegócio, porque existe também, você sabe, na União Europeia, na França, um protecionismo muito grande, especialmente na França. Mas foi feita uma ampla negociação, uma cota que seria, que permitiria quase que o Brasil dobrasse as suas exportações de grãos. O que ocorre: o Brasil retarda essa negociação, porque a Argentina puxa por um lado, a Venezuela sequer aceitou apresentar a sua relação de condicionantes, porque todos nós tínhamos que apresentar (a relação) de produtos, a Venezuela sequer apresentou a relação, a Argentina apresentou uma relação extremamente tímida, que não atendia interesses do acordo. Resumo: a União Europeia avança na negociação com o Canadá, que também produz grãos, com os Estados Unidos, que está a caminho e que, se consolidar, aí sim nós vamos ter dificuldades no futuro enormes. Porque eles vão fazer um intercâmbio econômico e comercial entre si numa situação de absoluta falta de competitividade nossa no futuro. E não, esses espaços de colocação dos nossos produtos não são eternos. E na política, eu falo isso muito, o tempo é o ativo mais valioso. Uma negociação que você deixa de fazer hoje, você não vai fazer daqui a um ano nas mesmas condições. Então, permitir que o Brasil abra um pouco mais a sua economia, você não punir as receitas estaduais com as desonerações e criar um ambiente, como eu disse, de estímulo ao investimento tanto interno quanto externo, é o melhor que eu posso fazer para um estado como o Rio Grande, como o Paraná ou como meu estado, Minas Gerais. Porque as pessoas aqui sabem fazer, a indústria é competitiva, sim, se ela não tem que enfrentar o custo Brasil, se ela não tem que enfrentar a carência de infraestrutura. O agronegócio nem se fala, o agronegócio brasileiro é referência no mundo pela sua competitividade. O problema começa da porteira para fora. A verdade é essa, quando depende do empreendedor, o Brasil vai bem. Existe um ranking da ONU que diz que os empreendedores brasileiros, os industriais brasileiros, eles estão entre os 40 mais eficientes do mundo. Onde é que [o Brasil] perde competitividade? Na hora que ele tem que enfrentar essa carga tributária monstruosa, esse emaranhado de impostos indiretos, uma ausência absoluta de logística. Tanto que eu, e concluo essa sua pergunta, dizendo que a primeira proposta que eu vou apresentar ao Congresso Nacional se eleito presidente da República é uma proposta de simplificação do sistema tributário. É o primeiro passo para abrirmos espaço para que no futuro possamos ter o espaço fiscal para diminuição horizontal da carga. Mas o primeiro esforço é para simplificação do sistema tributário para que nós possamos caminhar na direção do imposto de valor agregado, de um IVA. Portanto, esse é um esforço que não será simples, mas eu estou absolutamente determinado a fazê-lo, porque, se garantirmos maior competitividade a quem produz no Brasil, ganha o Rio Grande, ganha Minas Gerais e ganham todos os estados que produzem. E, obviamente, existem alguns Estados com menor capacidade de desenvolvimento, para os quais é importante que haja também políticas regionais.
Políticas para as minorias
Aécio Neves – Não acredito que existam [neste governo] políticas específicas para essas minorias. As nossas diretrizes de governo falam de maneira muito clara: que nós não permitiremos nenhum tipo de discriminação. E, quando nós falamos de políticas públicas e também de políticas sociais, eu inclusive no Congresso Nacional, atuei no sentido de agravar a pena e considerar crime qualquer manifestação de homofobia, por exemplo. Nós estamos apresentando algumas propostas de avanços no campo social, que atendem a todos os brasileiros, mas também às minorias, com base em uma proposta lançada há algum tempo pelo governador Beto Richa chamado de Família Paranaense. Nós vamos lançar nos próximos dias o Família Brasileira. O que é isso? Nós estamos a partir do Cadastro Único, responsável, por exemplo, por pagar o Bolsa Família, estamos estabelecendo cinco níveis de privação. A visão diferente é que a pobreza não é apenas a privação da renda. Ela se manifesta em pelo menos duas outras vertentes: a privação de serviços, de saneamento, de educação, saúde e de oportunidades. Nós estamos classificando em cinco níveis essas famílias que recebem benefícios do governo, para que não possa haver no nosso governo, um ano que sequer, uma só família classificada determinado fator – o cinco é o mais grave, é um conjunto de privações – não fique um ano no mesmo nível. Então, nós colocamos condicionantes questões vão desde a desqualificação do pai de família para entrar no mercado de trabalho, adolescentes grávidas em casa, filho em alguma casa de correção ou adulto em sistema prisional para que possamos requalificar essas pessoas, dar o apoio social que elas precisam, porque o PT tem a lógica de administrar a pobreza, inclusive no programa de governo [do PT] diz que acabou com a miséria no Brasil. Não sei que país é esse que o PT anda visitando. A nossa luta é para a superação da pobreza. Vamos manter os programas sociais que vêm dando certo. Mas nós vamos aprimorá-los. Isso vai estar muito detalhado ao longo da nossa campanha.
Medidas de incentivos para as micro e pequenas empresas.
Aécio Neves – No campo tributário, você vai se lembrar, que foi nossa – nossa do PSDB – a iniciativa do Simples, que foi uma primeira regra tributária diferenciada pros micros e pros pequenos. Depois veio o SuperSimples com a ampliação da margem. Agora veio a ampliação dos setores que poderiam se beneficiar desta tributação especial. Isso é importante sim, mas não é o suficiente.
Precisamos para garantir competitividade a quem produz no Brasil, você sabe que nós voltamos a ser o que nós éramos na década de 50, época do presidente Juscelino, meu conterrâneo.
O Brasil exporta hoje a composição do seu produto interno bruto 13% apenas é da indústria de manufaturados. Nós voltamos a ter aquela pauta, como você colocou aí, de exportação de commodities e ficamos aí a mercê dos preços internacionais que nós não coordenamos ou que nós não influímos absolutamente nada. Existem duas questões fundamentais. O Brasil precisa voltar a ser competitivo. E como que ele vai ser competitivo? Aquilo que eu tenho dito: guerra ao custo-Brasil. Isso se dá em algumas vertentes. Uma delas é essa tributária que estou lhe dizendo. Eu não sou um mercador de ilusões. Eu falo o que é possível ser feito. No primeiro momento, nós estaremos enviando ao congresso nacional uma proposta de simplificação do sistema. Vamos resgatar as agências reguladoras para que a estabilidade do país e infraestrutura, um choque de infraestrutura no Brasil. Nós vamos trazer o setor privado pra ser parceiro nosso.
Nessas obras não adianta nós termos sempre a promessa das mesmas rodovias, das mesmas ferrovias, dos mesmos portos que nunca saem. Então, o Brasil, precisa viver de forma complementar e simultânea. Esse grande esforço de infraestrutura com capital nacional e com capital externo, com regras claras, porque eu vou dizer uma coisa com muita franqueza pra vocês: eu não acho que seja papel do governo, por exemplo, estabelecer taxa de retorno pra investimento. O empresário, ele tem que correr seu risco e ver se vale a pena. Eu quero é investimento que atenda ao interesse do país. E eu vou estabelecer quais são as prioridades, quais são os grandes gargalos. Se nós avançarmos na infraestrutura, nas regras que possam trazer de volta o capital, agora falo especificamente do externo, e animar o empresariado interno. E uma simplificação do sistema tributário, nós vamos estar criando as bases para haver o resgate da competitividade. Uma terceira e última vertente, que é a da inovação. Nós não faremos isso sem estímulos à inovação. Para se ter uma ideia, os fundos setoriais de ciência e tecnologia, de investimento cientifico e de desenvolvimento, são os mesmos criados no governo do presidente Fernando Henrique.
O Brasil nem tem percentual de aplicação desses recursos de – falo inovação – menor que Espanha, menor que Itália, menor que a Rússia. Mas, na hora que você vai no registro de patentes, o Brasil desaparece. Nós temos um INPI aqui totalmente desorganizado. Então, resgatar capacidades, estímulo para que o setor público, mas também o setor privado possa investir em inovação, com agências desburocratizadas, com um modelo de uma agência americana que eu gosto muito que permite o link direto, academia com empresa, vai lá pra dentro, vamos trabalhar aqui pra garantir inovação. E a inovação ela vem de verdade também na relação com outros países. É muito importante que nós possamos criar as condições para que ao longo do tempo haja uma abertura maior da nossa economia porque ela traz inovação aqui pra dentro das fábricas. Portanto, é o esforço e grande é – mas eu tô determinado a enfrentá-lo e a vencê-lo.
Avanços no Mercosul
Aécio Neves – A união aduaneira que hoje está submetida o Mercosul pode, sim, ser flexibilizada. É uma discussão profunda. Mas pode, sim, em uma área de livre comércio que nos permita fazer as negociações sempre que possível com o Mercosul. Mas nós não podemos estar permanentemente amarrados às conveniências de todos os países do bloco. Acho que uma flexibilização nas regras do Mercosul terão que, necessariamente, ser discutidas.
Sobre médicos estrangeiros atuarem no Brasil.
Aécio Neves – Não sou só a favor de Mais Médicos. Sou principalmente a favor de mais saúde. Os médicos que estão hoje atuando no Brasil, eles vêm em caráter emergencial, até porque o período de permanência deles é inicialmente um período curto. O que houve foi uma desconexão do atual governo para a necessidade da formação de novos médicos, esses sim definitivamente trabalhando no Brasil. Eu sou a favor da carreira federal de médicos, temos que organizá-la para que os médicos possam, formando-se, submetidos ao Revalida, estarem trabalhando nas regiões mais desassistidas e aos poucos poderem ir para outras regiões da sua preferência. Sou a favor do resgate do programa Saúde da Família.
Fui governador de Minas Gerais, temos lá o maior número de equipes de Saúde da Família, um programa extraordinário, porque é um programa multidisciplinar. Você tem equipes que acompanham durante anos a vida de uma família, inclusive com uma economia na ponta, na hora de atendimento da saúde, enorme. Isso tudo foi abandonado pelo governo.
O [programa] Mais Médicos pode ser uma solução emergencial, mas não é uma solução estrutural. Não gosto de ver e não gostaria de no meu governo ver essa discriminação que acontece em relação aos médicos cubanos. Eles estão aqui, são necessários, eles devem trabalhar nas condições que trabalham os médicos de outros países. Como? Temos que fazer, sim, uma nova negociação com essa Associação Latino-Americana, não nos termos propostos por Cuba. Mas nos termos que atendam o interesse dos brasileiros Saúde pública é algo extremamente grave.
Não vejo autoridade no governo do PT para dizer que fez algo estruturante em saúde pública, porque quando eles assumiram o governo 54% , guardem esse número, 54%, do conjunto dos investimentos vinham do governo federal. E hoje, mesmo com recordes sucessivos sendo batidos de arrecadação no plano federal, apenas 45% vêm do governo federal. Portanto, essa queda de 9%, quem paga essa conta? Principalmente os municípios e aqueles que menos têm. Então não houve planejamento, como, aliás, não houve em nenhuma área.
Eu encerro agradecendo a presença aqui de cada um de vocês, nós estamos numa cruzada pelo Brasil, mas a favor de um Brasil diferente, um Brasil respeitável, um Brasil organizado com base na meritocracia, com novo tipo de relação política que não seja essa mercantilista que se estabeleceu hoje no plano federal, onde o governo se submete a todos os interesses de uma base aliada. E um projeto de poder não pelo projeto de país, mas pela manutenção de um projeto de poder, onde ministérios são distribuídos em troca de alguns segundos a mais na televisão. Ninguém aguenta mais isso. Estou imensamente feliz nessa cruzada que faço pelo Brasil, e vocês vão se orgulhar dela no futuro, estar aqui hoje ao lado da minha queridíssima companheira Ana Amélia. O Brasil inteiro fala da sua candidatura, Ana Amélia, o Brasil inteiro espera a sua eleição porque você é a cara nova que a política brasileira precisa voltar a ter. E a minha queridíssima senadora, um beijo muito carinhoso, vamos estar juntos nessa caminhada. Muito obrigado.