Fala inicial de Aécio Neves
A palavra inicial é essa: representamos todos nós, não é o ‘nós’ de majestade imperial, nós aqui pessoas de partidos diferentes, representamos hoje o amplo sentimento de mudança que foi majoritário no primeiro turno dessas eleições. E construímos essa aliança e ampliamos a nossa aliança em torno de um projeto para o Brasil. E a forma com que Marina participa desse projeto é o que mais dignifica a política brasileira, de forma altiva contribuindo para o nosso programa e isso me dá um conforto muito grande. Estou hoje vivendo um momento muito, mas muito marcante, eu diria histórico dessa caminhada, onde forças políticas que disputaram a eleição conseguem no segundo turno, em torno de um projeto de país, de construção de uma agenda comum. Portanto, é algo que deve ser enfatizado como uma prática política nova do Brasil. Na verdade, o que assistimos cotidianamente na política é o oposto disso, são entendimentos em torno de cargos, entendimentos em torno de vantagens e entendimentos em torno de conveniências. Estamos inaugurando uma grande união, um grande movimento em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável, de ampliação e consolidação das nossas políticas sociais e de absoluto respeito à democracia. Portanto, é um dia extremamente feliz nessa nossa caminhada que ainda está, enfim, por acontecer. Peço, ao final, a cada companheiro e a cada companheira de todas as partes do Brasil que se mantenham mobilizados, atentos, revigorados no seu ânimo porque o que está em jogo não é a vitória de um partido ou a derrota de outro. O que está em jogo é a oportunidade de o Brasil construir uma nova agenda. O que está em jogo é a oportunidade da nossa libertação para fazermos o Brasil crescer, melhorando a qualidade de vida de cada brasileiro.
Participação de Marina Silva em atos políticos.
Não conversamos ainda sobre isso. A forma como a Marina vem participando é a forma mais adequada possível, em torno de um projeto, ela que deixou isso muito claro. Estou extremamente agradecido à generosidade da candidata Marina, que não fez qualquer tipo de exigência, apenas propôs o aprofundamento de algumas questões que nós já tratávamos, inclusive, no nosso programa de governo e estamos aqui dando a elas a ênfase que elas precisam ter. É algo nosso, por isso talvez alguns possam até estranhar. É algo novo, uma coisa convergente. Não se falou agora de futuro e de governo. Falou-se na construção de um novo projeto pro Brasil e caberá a ela definir ai de que forma participará. A forma como ela participou até agora, pra mim, já é um apoio absolutamente extraordinário. Estou muito agradecido a ela.
Participação de Marina Silva em um futuro governo.
Até seria um desrespeito eu falar de espaços de governo. Não estou pensando nisso. Ela já dá uma contribuição muito, mas muito expressiva mesmo. Aquilo o que o Brasil espera, o Brasil quer uma mudança qualificada, o Brasil quer uma mudança onde aqueles que hoje conseguem se indignar com o que vem acontecendo, percebem que esse governo perdeu a capacidade de fazer o Brasil crescer, de reorganizar a nossa economia, de melhorar os nossos indicadores sociais, estão se unindo em torno da nossa candidatura. A Marina aqui hoje presente traz um simbolismo muito grande. Eu vejo através do abraço e do beijo carinhoso que recebi da Mariana, o abraço e beijo carinhoso de milhões de brasileiros que querem mudar esse país. Portanto, são esses brasileiros que eu represento a partir de agora.
Ampla aliança neste segundo turno
Vocês acompanharam isso e a forma natural com isso aconteceu. Está aqui acho que o Beto Albuquerque [vice na chapa de Marina Silva, do PSB] ou estava aqui até há pouco, que foi um dos lideres do PSB na construção desse apoio, foi algo convergente. O segundo turno é quando as forças que foram eventualmente derrotadas ou não conseguiram avançar tem que tomar um caminho. E o caminho tomado por todos esses partidos, como o PSB – mas poderia falar do PV, do PPS, do PSC, dentre outros – é o sentimento de mudança. Aliás, eu me lembro muito daquilo que foi feito há 30 anos. Eu era um espectador privilegiado sem mérito nenhum para estar ali, mas por uma questão meramente hereditária, eu acompanhei a construção da aliança democrática que tinha o objetivo de encerrar o ciclo autoritário no Brasil: acabar com a ditadura do Brasil. E ali se uniram em torno da candidatura de Tancredo, depois da derrota das Diretas Já, forças políticas que atuavam em campos distintos, do ponto de vista ideológico, doutrinário. Você tinha representantes do Partido Comunista Brasileiro, Partido Comunista do Brasil, você tinha representantes de pensamento liberal em torno de um projeto maior que era: encerrar o ciclo autoritário. E isso aconteceu, essa aliança foi vitoriosa.
Infelizmente o destino não permitiu que meu avô Tancredo assumisse a Presidência da República, mas sua obra foi construída. As instituições estão aí sólidas, a liberdade de imprensa é o reflexo mais claro da democracia plena, que hoje vigora no país, e agora cada brasileiro pode escolher o seu destino. Fizemos aquela travessia com a união de forças de pensamentos distintos.
Hoje, nós temos um outro desafio, que não é menor do que aquele: encerrar este ciclo de governo que aí está, que perdeu as condições de governar o Brasil, ao meu ver, pelo conjunto da obra, pelo fracasso da economia.
Então, nós estamos nos unindo em torno desse projeto de mudança. Estou tendo o privilégio de liderar uma mudança extremamente qualificada, basta olhar o nosso entorno, que é uma mostra, é o extrato da qualidade dos companheiros com os quais, se nós vencermos as eleições, vamos construir esse projeto. Portanto, essa aliança desses últimos dez dias, que se deu com a vinda desses partidos, se deu em torno desse projeto, desse projeto maior. Nós não temos que ficar aqui buscando onde divergimos, porque a convergência é tão maior e tão mais importante para vida dos brasileiros, que ela nos trouxe até aqui. Estamos apenas na metade da travessia, é preciso remarmos um pouco mais. Vou fazer isso com a mesma determinação do início da campanha, para que possamos vencer no dia 26.
O tom do debate do SBT
Eu lamento profundamente o tom do debate. Eu propus todas as vezes que pude o debate em torno de temas. Sugeri à presidente que falasse de Segurança Pública, que falasse de Educação, mas a estratégia dela ou do seu marqueteiro não foi essa. Eu pretendo continuar apresentando propostas. Mas reagirei a todas as ofensas, às calúnias e às mentiras que transformaram essa eleição talvez na pior – do ponto de vista ético – dos últimos tempos. Não da nossa parte, da parte dos nossos adversários. Basta ver o que fazem nas redes. A verdade é que o desespero dos nossos adversários está levando com que eles percam a noção e a sensatez de que uma disputa política não é uma guerra. Não pode ser esse vale-tudo. Não pode continuar nesse caminho de querer destruir reputações para ganhar as eleições e ganhar pra quê? Tentaram fazer isso com Eduardo [Campos] e com Marina [Silva], agora comigo. Só que comigo. não. Vamos enfrentar. Vou responder sempre os ataques que vier a receber.
Convocação à Dilma
Encerrando essa entrevista, eu faço aqui uma convocação à candidata Dilma: vamos falar de Brasil, vamos debater o futuro, vamos mostrar as nossas diferenças porque elas são realmente muito grandes. Vamos pedir que democrática e livremente os brasileiros tomem a decisão que acharem a mais adequada. Eu respeitarei qualquer que seja ela. Nós estamos a uma semana das eleições, os brasileiros merecem que aqueles que disputam a Presidência da República digam o que pretendem fazer em relação ao futuro do Brasil. Eu me preparei foi para isso. O que eu não posso é aceitar as ofensas e as calúnias que vem sendo lançadas anonimamente, clandestinamente. Agora, eu convoco a candidata Dilma Rousseff para que possamos fazer nos próximos debates ou nos nossos programas uma campanha de alto nível. “Ninguém destrói alguém e vence”, como disse aqui Marina Silva: “É preciso vencer as eleições vencendo”.