“Pensei que ia me dar bem no mundo do tráfico, que teria muitas recompensas, dinheiro, uma vida melhor. Mas o crime só me trouxe uma vida de ilusão. Eu não tive a oportunidade que vocês estão tendo agora, de alguém chegar e me alertar sobre a vida no crime. A minha família sempre foi muito ausente. Quando comecei a praticar a criminalidade achei que a polícia nunca ia me pegar. Nesses anos todos sinto falta dos meus filhos e da liberdade”, contou o detento Eloy de Melo Oliveira, 39 anos, há cinco cumprindo pena.
Ao lado de mais nove internos do Centro de Recuperação Regional de Paragominas (CRRP), Eloy participou, na última sexta-feira (28), de mais uma edição do projeto Conquistando a Liberdade, executado pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJE), Programa Pro Paz, Ministério Público, Defensoria Pública e Polícia Militar.
O detento, que era o filho mais velho, parou de estudar na 4ª série para trabalhar e ajudar no sustento da família. Parte de sua história ele contou a mais de 100 adolescentes, na Escola Municipal Guilherme Gabriel. No local, os presos capinaram a área, cuidaram do jardim, consertaram mesas e cadeiras e fizeram reparos nas instalações elétricas e em outras dependências do prédio.
Experiências – Os alunos da escola participaram da ação do projeto denominada “Papo di Rocha”, que consiste em uma conversa franca entre detentos e os estudantes sobre o crime e suas consequências.
Para o coordenador do projeto, Ercio Teixeira, essa conversa é uma ferramenta pedagógica de prevenção. “É por meio desses exemplos que podemos evitar a entrada destes jovens para o mundo do crime. O Papo di Rocha mostra o dia a dia desses presos e o choque de viver no cárcere. Essa troca de experiências tem um efeito pedagógico em muitos adolescentes, que refletem a partir dos relatos e percebem que o envolvimento no crime não compensa”, explicou o coordenador.
A estudante Juliana Mota, 16 anos, do 2º ano do Ensino Médio, destacou a importância da família. “Tenho vários amigos que usam drogas, mas não me influenciam. Até aconselho a pararem enquanto é tempo. O Papo di Rocha é um bom exemplo pra que a gente saiba como é estar lá dentro. Minha família é fundamental em todas as minhas escolhas. E sei que só posso conseguir crescer através do estudo”, disse ela, que pretende estudar medicina.
Para a vice-diretora da escola, Marcilene Dias, essas atividades “servem para que eles reflitam e concluam que a liberdade é o nosso maior bem, e que o estudo é o caminho para o crescimento profissional. Fico muito feliz em receber o projeto. Esses benefícios prestados à comunidade escolar são essenciais, uma vez que estávamos sem recursos financeiros para fazer esses serviços. A gente só tem a agradecer essa parceria”, declarou.
Pela primeira vez o detento José Antônio Franco participou do projeto. Aos 46 anos, ele vê no “Conquistando a Liberdade” uma oportunidade de mudar. “Falta pouco para acabar esse momento triste da minha vida. Quando sair daqui quero voltar a trabalhar, cuidar dos meus quatro filhos e ter uma vida digna, de cabeça erguida”, disse ele.
Benefício – O “Conquistando a Liberdade” não oferece remuneração. O preso recebe o benefício da remição de um dia da pena, a cada três participações, um direito garantindo pela Lei de Execuções Penais. Todos os internos que participam passam por uma avaliação psicossocial e treinamento. O projeto, realizado em 16 municípios do Pará, é reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como referência no País na área de reinserção social de presos. O projeto também foi um dos vencedores do Prêmio Innovare 2013.
Criado em 2004, o Prêmio Innovare divulga iniciativas inovadoras para a Justiça brasileira. O prêmio é concedido pelo Instituto Innovare, Secretaria de Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça, Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep), Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Nacional dos Procuradores da República e da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), com o apoio das Organizações Globo. O “Conquistando a Liberdade” foi um dos 18 projetos premiados entre os mais de 460 inscritos no Prêmio Innovare 2013.
Da Redação
Agência Pará de Notícias
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará