PSDB – PA

O MARAJÓ E OS MÉDICOS

Hospital em Breves/PA
Hospital em Breves/PA

No artigo da semana passada, intitulado “O MARAJÓ E A SUA MISÉRIA”*, tratamos sobre as razões do baixíssimo índice do IDH (índice do desenvolvimento humano) dos municípios marajoaras, constantes do levantamento feito pela ONU e divulgado no início de agosto passado.

É claro que no referido artigo lembramos de tempos idos, quando a economia da Região das Ilhas, que é a parte do Arquipélago do Marajó que é coberto de floresta, era baseada fundamentalmente na extração da madeira e do palmito, com exceção de Breves que, em grande parte, cultivava o arroz de várzea, tendo sido, inclusive, o maior produtor desse grão nos anos 50 e 60.

Mas, ao lembrarmos isso, obviamente que não podemos esquecer que, naquele tempo, só tinha hospital na Cidade de Breves, da antiga Fundação SESP (hoje FUNASA), que atendia toda a Região das Ilhas e atendia muito bem, uma vez que tinha um competente quadro de médicos, enfermeiros e de técnicos que mantinham em funcionamento pleno o ambulatório, o laboratório de análises, além de todo um serviço de saneamento básico. Era um hospital que possuía apenas 12 leitos de internação. Mesmo assim a população era bem atendida, em razão, é claro, do nível técnico-profissional dos médicos, enfermeiros, atendentes e técnicos. Daí porque, ao nos candidatarmos a deputado estadual, em 1978, assumimos o compromisso de lutarmos pela ampliação daquele hospital de Breves, bem como trabalhar no sentido de que cada cidade marajoara tivesse o seu próprio hospital, até porque as distâncias entre sí eram muito grandes. E assim foi. Com a graça de Deus, conseguimos a ampliação do hospital de Breves de 12 para 30 leitos de internação, bem como a construção dos hospitais de Portel, Afuá, Anajás e outros. Contudo, após passar a euforia da inauguração dos hospitais, sofríamos com a falta de médico e de pouco adiantava o hospital ser todo equipado. Era revoltante.

Quando os hospitais ainda eram administrados pelo Estado, a SESPA dava um jeito e mantinha médicos no interior. Contudo, a partir dos anos 90, quando a saúde foi municipalizada, na atenção básica, e os hospitais foram entregues às prefeituras, os médicos desapareceram do interior e os hospitais transformaram-se num monumento a irresponsabilidade, uma vez que só serviam ou servem para fazer encaminhamento de doentes para os hospitais dos municípios vizinhos ou da Capital.

Na verdade, poucos são os municípios do interior que tem condições de manterem médicos em seus quadros de servidores, especialmente os especialistas e cirurgiões, em razão dos altos salários que exigem e que é da ordem de R$ 30.000,00 (trinta mil), ao mês, além de outras vantagens. Daí festejarmos o programa “Mais Médicos”, do Ministério da Saúde, por vir ao encontro das necessidades dos nossos municípios, principalmente os mais pobres. E, ao contrário do que dizem, especialmente os membros do Conselho Federal de Medicina, no Pará o que falta é médicos. Os hospitais existem e estão equipados para o pleno exercício da atenção básica, inclusive para realizar cirurgias de pequeno porte, até porque dispõem de bloco cirúrgico e tudo mais.

Por isso é que imaginávamos que os municípios do Pará fossem prioritários para o recebimento dos médicos, especialmente os do Arquipélago do Marajó, pelo fato de figurarem no estudo da ONU com os mais baixos IDH. Infelizmente, porém, não foi essa a atitude do programa “Mais Médicos”, e, para surpresa de todos, só tem um médico para a Ilha do Marajó e que irá trabalhar no Município de Breves. Será porque lá tem um hospital de média e alta complexidade? E como fica Melgaço, que é o município de menor IDH? E Portel, Bagre, Anajás, Afuá?…

Sinceramente, pouco importa se o médico é cubano, português ou boliviano. O que precisamos é de médicos, para cuidar da nossa gente. E que o Marajó seja a prioridade da prioridade na fixação dos médicos importados, até porque “pior do que um médico ruim, é não ter médico nenhum”.

* Este artigo também se encontra aqui, em nosso website.
Nicias Ribeiro
Nicias Ribeiro é Secretário de Estado de Energia do Pará e Presidente do Fórum Nacional de Energia

Ver mais