BRASÍLIA O ano de 2015 começa com uma certeza para a oposição: será inevitável a instalação de uma nova CPI mista, com a participação de deputados e senadores, para investigar as irregularidades na Petrobras. A base aliada, por sua vez, não tem tanta certeza: tudo dependerá do novo Congresso, que tomará posse em fevereiro. Uma nova CPI faz parte dos planos da oposição para desgastar o governo Dilma Rousseff, que já foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2005 e presidente do Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, os oposicionistas contam com a ajuda das circunstâncias do momento: o crescimento da oposição na última eleição e a avalanche de denúncias na Petrobras.
Entre as novidades que deverão aparecer em 2015 está a divulgação do conteúdo dos acordos de delação premiada firmados com investigados que resolveram colaborar com a Justiça. Isso inclui a lista de parlamentares que tiveram seus nomes citados como envolvidos no esquema de desvios de recursos na Petrobras. Uma lista com políticos de vários partidos principalmente de PMDB, PP e PT, mas também de PSB e PSDB já foi vazada para a imprensa.
Se depender da oposição, não só a Petrobras será investigada. Para justificar a devassa das contas de outras obras públicas, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) citou o depoimento, na CPI, do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa que está colaborando com a Justiça em troca de diminuição da pena. Ele disse no início do mês que o que acontecia na Petrobras acontece no Brasil todo: em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas. Lorenzoni comparou uma nova CPI à CPI dos Correios, que investigou o mensalão em 2005 e foi a última Comissão Parlamentar de Inquérito importante instalada no Congresso.
Na minha visão, ninguém vai segurar. Como Paulo Roberto Costa disse, aqui que são dezenas de parlamentares (envolvidos no esquema), vai ter uma pressão social brutal. E a relação numérica entre governo e oposição é melhor para a gente afirmou Onyx.
PARA PETISTA, É CEDO PARA PREVER POSIÇÃO DO CONGRESSO
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), não descarta nova CPI em 2015, mas não demonstra a mesma certeza da oposição em relação à inevitabilidade de uma nova comissão para investigar as irregularidades na Petrobras. Enquanto a oposição critica os resultados da CPI de 2014, tachando-a de chapa-branca, Humberto Costa diz que ela teve resultado positivo.
A CPI conseguiu dar uma resposta ao Brasil dentro da capacidade de investigação do Congresso. Agora temos que aguardar a última etapa, que é a que diz respeito aos agentes políticos, para que no ano que vem o Parlamento se posicione. É uma decisão do futuro Congresso. Não podemos falar em nome de tantos senadores e deputados que foram eleitos agora. Será uma decisão mais à frente disse Costa, em 18 de dezembro, dia em que foi aprovado o relatório da CPI mista de 2014.
Em 2014, foram instaladas duas CPIs no Congresso, mas parte de seus trabalhos se desenrolou em plena campanha eleitoral. A primeira funcionou apenas no Senado. A segunda, a CPI mista, instalada em 28 de maio, contou com a participação de senadores e deputados e foi mais crítica ao governo. A CPI mista acabou esvaziando a CPI exclusiva do Senado, mas, ainda assim, a correlação de forças foi mais favorável ao governo. Tanto que o relatório final não avançou em relação ao que já era investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF).
Não é só a avalanche de notícias sobre irregularidades na Petrobras e em outros setores do governo que anima a oposição para instalar uma CPI em 2015. Em fevereiro, assumem os deputados eleitos em outubro, e haverá a renovação de um terço do Senado. A nova correlação de forças será mais favorável à oposição. Os oito partidos que deverão ter uma postura de oposição em 2015 PSDB, PSB, DEM, SD, PSC, PPS, PV e PSOL têm, hoje, 23 dos 81 senadores e 147 dos 513 deputados federais. Em fevereiro, sem considerar as mudanças que poderão ocorrer com a ocupação de cargos no governo por parlamentares, serão 25 senadores e 160 deputados.
Apesar do crescimento no Congresso, a oposição ainda será minoritária. Mas os deputados e os senadores desses partidos contam com a ajuda de parlamentares da base aliada insatisfeitos com o governo, a começar pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), favorito na disputa pela presidência da Câmara. A CPI mista deste ano só foi possível graças à assinatura de parlamentares da base. O PMDB foi o segundo partido que mais aderiu ao requerimento de criação da comissão, com 37 deputados, entre eles, o próprio Cunha.
O artigo é de O Globo