No artigo da semana passada, dentro do contexto que procurei construir, lembrei do movimento jovem de Santa Terezinha, no bairro do Jurunas, em Belém, especialmente do Coral Jovem que, em meio a missa da meia noite de Natal, fez uma celebração baseada num texto escrito por Dom Aloysio Lorscheider, então bispo de Fortaleza e presidente da CNBB, na qual, dentre outras coisas, dizia da necessidade de se fazer uma Reforma Agrária no Brasil, uma reforma no ensino, levar água para o Nordeste e acabar com o flagelo da seca no sertão.
Como se vê, ao escrever aquele artigo, relembrei e até revivi as lutas e os sonhos dos jovens daquela época, do inicio dos anos 70. E ao fazê-lo, constatei que aqueles sonhos, apesar de ter se passado mais de 40 anos, continuam sendo apenas sonhos, até porque a tão reclamada reforma agrária até hoje não aconteceu, principalmente nos moldes preconizados pelo ex-presidente João Goulart, no seu programa de “reformas de base”, uma vez que os tais assentamentos agrários, de hoje, não possuem nenhuma infraestrutura.
A reforma do ensino, feita na época dos militares, instituindo o ensino do 1° e 2° graus e extinguiram os antigos cursos primário, ginásio, científico, clássico e pedagógico, só piorou. E o mesmo aconteceu com a reforma universitária, que, por sua vez, acabou com os cursos seriados, instituiu o regime de créditos e conceitos como forma de verificação.
Com o passar do tempo, percebeu-se que tanto a reforma do ensino básico como a universitária, não haviam ajudado em nada para melhor. Daí a contra-reforma ou a reforma da reforma do ensino, de maneira que o curso do 1° grau hoje é o ensino fundamental e o de 2° grau, voltou a ser chamado de ensino médio. E mesmo assim precisa de uma urgente reforma curricular, tanto num como no outro.
Quanto a falta d’água no Nordeste, nada mudou. Infelizmente os nordestinos continuam sofrendo, principalmente no chamado triangulo da seca, no sertão, onde os sertanejos enfrentam, neste ano de 2013, a maior seca de todos os tempos.
Enquanto isso, o projeto de transposição das águas do rio São Francisco, elaborado, ainda, no governo FHC, não avança e suas obras continuam “a passos de cágado”, sem que nenhuma gota d’água chegue ao sertão, onde o flagelo dizima os animais e mata até a esperança do próprio sertanejo.
Na segundo Império, Dom Pedro II pensou em vender até as jóias da Coroa para acudir os flagelados da seca. Na década de setenta, o presidente Médici decidiu construir a Transamazônica para facilitar a fuga do nordestino para a Amazônia. E nos últimos 10 anos, quando um pernambucano de nascimento assumiu a Presidência da República, imaginava-se que rapidamente as águas do rio São Francisco chegariam ao sertão e acabaria com a seca. Infelizmente, isso não aconteceu. É chocante! Principalmente para os jovens do inicio dos anos 70, que reclamavam da falta d’água no Nordeste e entoaram a canção “procissão”, do Gilberto Gil, dizendo “entra ano e sai ano e nada vem. Mas se existe Jesus no firmamento, cá na Terra isso tem que se acabar”.
Como se vê, os oito anos do governo Lula e os três da presidente Dilma não foram suficiente para executar o projeto da transposição das águas do rio São Francisco, e levar água para o sertão nordestino, E agora lembro de uma outra canção, “Orós II” do Fagner, que diz: “Não é só falar de seca. Não tem só seca no sertão. É triste um caboclo forte, dotô, ter que estender a mão”.
Que poesia! E que retrata a angústia e o sofrimento do sertanejo, que se vê obrigado, como diz a canção do Fagner, a estender a mão e pedir ajuda. Tudo em razão da falta d’água, que não lhe permite plantar e colher o pão de cada dia, fato que o obriga a viver humilhado e de mão estendida pedindo ajuda. Pedindo esmola.
Levar água para o Nordeste e acabar com o flagelo da seca, é muito mais que uma simples obra de governo. Na verdade, é uma ação humanitária para com aquela gente do sertão, até porque não é justo que o sertanejo continue condenado a viver sem esperança e entregue a própria sorte. Por isso, mais do que nunca, é preciso reagir e exigir a imediata conclusão das obras de transposição das águas do Rio São Francisco e levá-las ao sertão, por ser de direito e de justiça.
Nicias Ribeiro é Secretário de Estado de Energia do Pará e Presidente do Fórum Nacional de Energia