O saudoso senador Darcy Ribeiro ensinava que o brasileiro é um povo mestiço, fruto de uma ninguendade, porque o filho do europeu com o negro não era branco, nem era negro, era ninguém. Da mesma forma, o filho do europeu com o índio não era branco, nem era índio, era ninguém.
É exatamente dessa percepção, da mestiçagem de etnias, que surge o sentimento de ser brasileiro, de pertencer a uma diversidade étnica e cultural, que, embora inclusa no mundo ocidental, reunia diferentes crenças, costumes e visões de mundo, para formar a nossa gente.
A maior lição que o Brasil tem a ensinar ao mundo é, sem dúvida, a de ser um país unido pela diversidade, num colorido que serve de exemplo para tantas nações que não conseguiram atingir o ideal da paz e da convivência pacífica em razão dos conflitos entre os povos que as compõem.
Nem mesmo as diferenças regionais da língua portuguesa são, no Brasil, uma barreira capaz de afastar a compreensão entre quem vem do Norte ou do Sul, do Nordeste ou do Centro-Oeste. Se o carnaval carioca se espraia por todos os rincões do país como manifestação nacional, o São João universaliza a cultura nordestina e os Centros de Tradições Gaúchas difundem os costumes pampianos.
Sem dúvida, somos um povo unido pela diversidade. Esta eleição presidencial, por mais acirrada que tenha sido não será motivo, nem pretexto, para abalar os laços de união do povo brasileiro. Vivemos um período democrático sem precedentes na história brasileira desde a promulgação da Constituição de 1988, e não tem sentido querer provocar a divisão do país.
A democracia pressupõe o respeito ao Estado de Direito, ao império da lei, mas, para enraizar-se e aperfeiçoar-se, precisa garantir a igualdade de oportunidades, por meio de uma educação pública de qualidade. O acesso ao conhecimento tem o condão de consolidar a democracia porque iguala os cidadãos e lhes permite desenvolver as potencialidades, independentemente da origem ou condição social.
A democracia que precisa ser fortalecida no Brasil não pode prescindir dos programas sociais, mas não pode tampouco ficar apenas nos programas sociais. Estes custam apenas meio por cento do PIB e têm invejável capacidade distributiva. Não é por acaso que o senador Aécio Neves propôs que se tornem programas de Estado.
Mas os programas sociais não podem ser um fim em si mesmo. Enquanto existirem – e precisarão continuar a existir por muito tempo – serão um sinal de que, como Nação e Estado, não fomos capazes de democratizar o Brasil pelo acesso à educação de qualidade. Serão sinal de que não conseguimos preparar as novas gerações para a sociedade do conhecimento.
Senador Cyro Miranda (PSDB-GO). Artigo publicado no jornal Diário da Manã (GO)
Do Portal da Liderança do PSDB no Senado