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¢Brasil já está num círculo virtuoso¢, diz FMI

¥O Brasil já está em um círculo virtuoso¥, disse ontem o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental (Américas e Caribe) do Fundo Monetário Internacional (FMI), Claudio Loser.

Ele observou que o Brasil ainda tem vulnerabilidades, citando como a principal delas o fato de o País ter uma dívida pública líquida superior a 50% do PIB. Por outro lado, continuou Loser, a solidez da política fiscal brasileira, com superávits primários (receitas menos despesas, exceto gastos com pagamento de juros) de 3,5% do PIB, e a condução prudente da política monetária indicam que o País está caminhando na direção da melhora do seu desempenho econômico.

Para Loser, a continuidade da política de superávits primários de 3,5% do PIB e um cenário macroeconômico favorável e bem conduzido podem levar à queda dos juros, além de reduzir a necessidade de manter o superávit primário no atual nível. O importante é o comportamento da relação entre a dívida pública e o PIB. Se o seu crescimento for contido e, idealmente, revertido, um superávit primário de 3,5% do PIB ¥não faz falta¥, disse Loser.

Mas, enquanto a dívida se mantém em um nível muito alto, superávits primários expressivos são importantes. Ele observou, inclusive, que outros países latino-americanos e caribenhos fizeram esforços fiscais nos quais os superávits primários atingiram níveis bem maiores do que o do Brasil, de 10% a 12%.

Loser disse que o FMI fez exercício com cenários em que os juros brasileiros sofreriam forte alta e o câmbio seria expressivamente desvalorizado.

Deixando claro que ele considera improvável este cenário, ele observou que ¥o Brasil pode absorver, não de maneira fácil, esta situação¥. O que o diretor quis dizer é que, se as condições se tornassem subitamente adversas, haveria significativos impactos adversos, mas não tirariam o País dos trilhos.

O diretor do FMI observou, ainda, que o ápice da capacidade de contágio da crise argentina nos países vizinhos parece já ter sido atingido. Com o país totalmente fora do mercado internacional e com a expectativa de uma contração do PIB entre 10% e 15% em 2002, os efeitos sobre o mercado de crédito para emergentes, de um lado, e sobre os parceiros comerciais, do outro, dificilmente poderia piorar muito além do já registrado.

Neste sentido, países que foram muito afetados pela crise argentina em 2001, como Brasil e Uruguai (por razões diferentes), mas não tiveram crises de maiores proporções, talvez já ¥tenham se livrado da parte mais aguda do temporal¥, disse Thomas Reichmann, assessor-sênior do Departamento do Hemisfério Ocidental, que participou da entrevista com Loser.

Loser observou, por exemplo, que apesar da forte queda das receitas de exportação do Brasil para a Argentina, ¥o Brasil está mantendo o dinamismo das suas exportações¥. Ele disse ainda que os investimentos diretos mais do que cobriram o déficit em conta corrente (que inclui a balança comercial, a de serviços e as transferências unilaterais) do Brasil nos primeiros meses de 2002, e que o Brasil e outros países latino-americanos estão tendo um bom acesso ao mercado internacional de bônus.

Mais crescimento – O ¥spread de risco¥ (adicional de juros em relação aos Estados Unidos que os emergentes e suas empresas têm de pagar para captar recursos) dos países latino-americanos, por sua vez, depois de ter subido fortemente no final de 2001, quando a crise argentina estourou, já recuaram significativamente. Hoje, em média, estão no nível mais baixo desde 1998.

O FMI está prevendo que 2002 será um ano de aceleração econômica da América Latina, excluindo a Argentina. O PIB da região sairá de uma evolução do PIB ligeiramente negativa no primeiro trimestre para um crescimento de 4% no último trimestre, com uma média no ano de 2%. Se for incluída, a Argentina, segundo Loser, a região deve crescer de 0,6% a 0,7%. Para 2003, incluindo a Argentina, a previsão é de um crescimento de 3,6%. A forte recuperação da economia americana e as políticas econômicas razoavelmente corretas seguidas em muitos países da região foram apontadas por Loser como as principais razões para a prevista recuperação da América Latina. Ele observou, porém, que ainda há riscos pairando sobre a recuperação americana. Um deles é o petróleo.

O efeito específico de uma eventual alta de petróleo na América Latina é benéfico para a conta corrente da região, embora o impacto seja muito desigual entre os países: Venezuela, Equador, México e Argentina são beneficiados, enquanto Brasil e Chile são prejudicados. Loser observou que, desde 1999 (e incluindo as projeções do FMI para 2002 e 2003), o déficit em conta corrente da América Latina tem tido uma razoável estabilidade, flutuando próximo a 2,5% do PIB, apesar das fortes oscilações do petróleo e das mudanças de humor dos investidores em relação aos países emergentes.

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