PSDB – PE

¥Dossiês, mentiras e Garotinho¥

Meu pai ensinou a meus nove irmãos e a mim o valor da verdade, mesmo que ela pudesse causar dor, amargura, sofrimento. No mundo da política, ser verdadeiro é um exercício cotidiano, às vezes especial. Pelo gosto pessoal, muitas vezes seria melhor virar a cara para este ou aquele ¥colega¥, abrir mão deste ou daquele compromisso, proferir meia dúzia de desaforos. Mas existe a necessidade de comportar-se de acordo com o cargo que se ocupa, em conformidade com a delegação recebida dos eleitores.

Existe, por exemplo, a necessidade de manter bom relacionamento com políticos de outros partidos, em especial com os que ocupam altos cargos do Executivo. Neste artigo, sou obrigado a deixar de lado este tipo de preocupação. Peço que o encarem como uma homenagem póstuma a meu pai, e como uma satisfação a cada um que me honrou com seu voto.

Começo por afirmar que o governador Anthony Garotinho não tem compromisso com a ética e com a verdade. O dano que procura infligir a mim e a meu partido é coisa inimaginável para alguém que ocupa seu cargo. Quero dizer aqui, com todas as letras, e em caixa alta: JAMAIS EM MINHA VIDA COLOQUEI AS MÃOS EM DOSSIÊS DE QUALQUER ESPÉCIE. É MENTIRA QUE TENHA OFERECIDO UM DELES AO GOVERNADOR, por mim ou por intermédio de terceiros. Ingressei, por isso, com interpelação judicial para que arque com a irresponsabilidade de sua atitude. Resta ao candidato do PSB confirmar ou desmentir o que disse.

O governador atribui a um ¥político fluminense¥ a informação de que foi procurado em meu nome. Não seria o caso de revelar a identidade de tão misteriosa entidade? Sim, porque um ¥político fluminense¥ é quase uma entidade, tendo em vista quantos há.

Também não teria sido o caso de expulsá-lo de sua companhia, convocar a imprensa e denunciar o que se desenhava? Ou de me procurar para saber se havia de fato enviado um ¥emissário¥? Apenas a título de informação, o telefone de meu gabinete consta do conhecido guia ¥Dicas de Brasília¥.

Em seu raciocínio, é possível que tenha imaginado auferir dividendos eleitorais, caso pudesse pespegar no PSDB a pecha de fábrica de dossiês. Sou secretário-geral do partido há três anos, e posso garantir que entre as atividades de seus líderes não consta o tráfico de informações, verídicas ou não.

Se o Ministério Público, a Polícia Federal ou arapongas decidiram investigar um secretário do governo do Maranhão, isso não diz respeito ao PSDB. O que se faz no partido é trabalhar, entre muitas outras coisas, pela candidatura de José Serra. E ponto final.

Sempre acreditamos na candidatura do senador e ex-ministro. Ele é o mais capacitado a ocupar o Palácio do Planalto em 2003, e sabíamos que, cedo ou tarde, a população se daria conta disso. Sua candidatura tem substância. É um candidato com passado, presente e futuro. Com currículo. Com trajetória. Com idéias. Não há tempo nem espaço no PSDB para o jogo sujo que o governador Garotinho sugere.

No PSDB, trabalha-se. Pensa-se. Faz-se política com ¥P¥ maiúsculo. O tipo de atitude de Garotinho vai fazê-lo dissolver-se no ar em poucos anos. Terá sido governador do Estado do Rio de Janeiro, coisa que orgulharia a milhares de políticos que não chegaram nem chegarão lá. Mas se o preço a pagar por isso é achacar contra a honra alheia, melhor não chegar lá mesmo. Quanto ao Planalto, ele não é lugar para gente como Garotinho e outros de mesma estirpe.

Meu pai, citado no início deste artigo, era homem extremamente religioso. Gostaria de ter sua fé, de ser tão crente quanto ele foi. Não sou. Mas fico a me perguntar como um político que usa a religião para angariar votos é capaz de mentir sem corar. Um político que faz da mentira seu sacerdócio não merece receber os votos de quem acredita nos mandamentos da religião, seja ela qual for.

Pelo menos uma constatação se tira de tudo: a completa impossibilidade ética e moral de tê-lo e de mantê-lo no Palácio Guanabara. No Planalto, então, nem se fala.

O governador procurou colocar lenha na fogueira, e me usou para isso. Imaginou que poderia ajudar a dinamitar a aliança PSDB/PFL. Quem sabe pensou em ter o PFL como aliado de seu partido. Enganou-se. O PFL também é um partido que preza a verdade.

O fato é que o PFL foi um aliado sem o qual muitas das realizações do governo Fernando Henrique teriam sido impensáveis. Luís Eduardo Magalhães foi um dos maiores responsáveis pelas mudanças da Carta de 88. Reconhecê-lo não é favor algum. O vice-presidente Marco Maciel é um homem brilhante, competente, leal. O mesmo se deve dizer de Jorge Bornhausen, e de tantas outras lideranças do partido.

O PFL errou ao romper com o governo, mas perceberá que errou a tempo. Decisão judicial e investigação da PF não são motivo para romper uma aliança tão importante para o país. O governo não teve qualquer responsabilidade nisso. Nem poderia ter, num Estado democrático.

O assunto ficou maior pela dimensão política que assumiu. Está na hora de um pouco mais de reflexão, de cabeça fria. Está na hora de restabelecer a verdade, tão arranhada nos últimos dias.

Quem me conhece um pouquinho imagina o quanto estou devastado por me ver caluniado do modo como fui. Definitivamente, tenho muitos defeitos a contabilizar na vida pessoal e na atividade política. Mas dossiês, com certeza, passam longe de minhas mãos e de meu partido. São coisas de gente sem caráter e sem escrúpulo.

A Justiça se encarregará de esclarecer a verdade. Ainda a considero o que há de mais nobre e elevado a perseguir na vida. Dentro ou fora da política.

MARCIO FORTES é deputado federal pelo PSDB-RJ e secretário-geral do partido.

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