PSDB – PE

¥Não devemos ficar aflitos com diz-que-diz¥

O presidente Fernando Henrique Cardoso considerou ontem, em entrevista exclusiva a Rádio Eldorado, ¥requentado¥ e fruto de ¥rumores sem maior conteúdo¥ o caso envolvendo o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira. ¥O governo não tem porque ficar aflito com o diz-que-diz¥, respondeu. Apesar disso, ele não deixou de passar um pito no ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que admitiu ter conhecimento da denúncia há mais tempo. ¥Não gosto de coisas desse tipo¥, censurou Fernando Henrique. ¥Isso sempre leva às manchetes e o principal desaparece diante do secuntário.¥

Para Fernando Henrique, o senador José Serra não deve se preocupar se sua candidatura decolou. ¥Há um candidato que sempre decolou, que foi o Lula, e nunca aterrissou¥, ironizou. ¥Se eu fosse candidato estaria falando agora para o País. Se o País confiar em você, você ganha a eleição. Se o País não confiar em você, você pode ter idéias magníficas, que não ganha a eleição.¥

Na entrevista, concedida pela manhã, o presidente também prometeu que ainda tentará a reforma tributária, queixou-se da resistência do Congresso em aprovar a CPMF, defendeu uma atuação mais agressiva no comércio internacional, lamentou a agenda do terrorismo e fez um balanço dos seus oito anos de governo. ¥Melhorou, mas não tá bom, todo mundo quer mais.¥

Desde ontem, o Jornal da Eldorado também passa a ser transmitido na emissora FM. A seguir os principais pontos da entrevista:

Caso Ricardo Sérgio – ¥Quando chega a fase eleitoral, aumenta mais ainda, aguça mais essa vontade, enfim, de ver escândalo em toda a parte. No caso, é alguma coisa lá entre empresário – e requentado porque já está sendo investigado há algum tempo, já existe lá, correndo, no Rio, denúncias, acusações. Até agora foram rumores, nada provado, nada que tivesse maior conteúdo. Sempre sou favorável a que se apure. O governo não tem por que ficar aflito com diz-que-diz. Espero que isso passe com a tranqüilidade com que eu levo as coisas e, havendo alguma coisa efetiva, a Justiça se ocupará.¥

Paulo Renato – ¥Não sei se (complica a vida do governo) no Congresso. Não gosto de coisas deste tipo, não é meu estilo, não gosto de críticas públicas, de uns contra outros, isso sempre leva a manchetes e, na verdade, o principal desaparece diante do secundário em função desta onda. É claro que eu lamento, mas acredito que, enfim, faz parte da vida. Fazer o quê? Eu levo o meu rumo e meu rumo não passa por estes caminhos complicados.¥

Candidatura Serra – ¥Isso de decolar ou não é natural nesses momentos de definição. Há um candidato que sempre decolou, que foi o Lula, e nunca aterrissou. Levantar vôo não é fácil. Veja o caso do Serra. Ele chegou ao segundo lugar em abril, não é desprezível. Não obstante, a conversa fica decola, não decola. Se eu fosse candidato, não ficaria olhando se decolou ou não. Tem de falar ao País. Ganha a eleição quem falar com o País e conseguir entusiasmar o País. O resto é conversa fiada, conversa de botequim, dos corredores do Congresso. E a melhor maneira de falar ao País é essa aqui, no rádio. No rádio, eles ouvem sua voz. É de improviso, pergunta na hora, é mais quente o meio. Se o País confiar em você, você ganha a eleição. Se não confiar, pode ter idéias magníficas que não ganha a eleição. Se eu fosse candidato agora estaria falando com o País. Deixa aí que diga que decolei ou não, sou ou não sou boing. Isso vai embora. O que interessa é manter um fio permanente de contato com o povo.¥

Congresso – ¥No Congresso existem resistências organizadas. No caso da CPMF é uma resistência política. Eu, francamente, não entendo qual é o propósito, porque quem está perdendo é o Brasil. Se isso for até o fim, são R$ 4 bilhões e meio. O governo está realmente sem dinheiro, porque houve uma birra política. No caso foi de um partido, o PFL, de não votar a CPMF. Não dá para entender a razão, acho que fere o interesse do País, mas espero que agora no Senado, aconteça o que aconteceu na Câmara, que acabem votando. Mas acredito que os interesses estão enraizados no Congresso. Agora, não gosto da expressão vontade política, porque dá impressão de que se eu quisesse eu conseguiria. Ora, se fosse assim seria tão fácil governar.¥

Protecionismo – ¥Há interesses que estão até piorando em certo sentido. Na semana passada, o Congresso americano votou a chamada Lei Agrária, que aumenta ainda mais o protecionismo. Cálculos dizem que há US$ 1 bilhão por dia de subsídios. É uma loucura, e para proteger os ricos. O subsídio não é dado para o fazendeiro pobre, mas para o fazendeiro rico dos EUA. Ou seja, todas as águas correm para o mar. É um sistema que favorece os mais poderosos. O que fazer? Ficar mais poderosos, aumentando nossa produtividade, nossa tecnologia, nossa agressividade. Nunca houve tanta briga contra os poderosos como agora. Nunca deixei de fazer um discurso duro. Agora mesmo, estamos entrando na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os Estados Unidos. Já entramos contra o Canadá e ganhamos. Temos que continuar brigando e buscar também novos mercados. Na América do Sul, infelizmente, ficou difícil porque a crise alcançou muito fortemente, sobretudo, a Argentina. Como não há milagre na matéria, o que tem de fazer é isso: continuar buscando mecanismos tecnológicos que permitam ao brasileiro entrar competitivamente nas áreas novas.¥

Rodada do milênio – ¥O momento não é dos mais favoráveis, o que não quer dizer que tenhamos de enrolar a bandeira. Temos de continuar insistindo nos nossos interesses e vendo as brechas que possam existir. É importante que eles saibam que não estamos dispostos a abrir benefícios a troco de nada. Que não vamos fazer o dá cá sem o toma lá. Tem de ter a visão de que se está jogando um jogo de gente grande, mas que o Brasil também é gente grande. É a 10.ª economia do mundo. Tem de jogar com esse peso. Um mercado como esse, na questão digital, é um mercado de muito valor. E isso nós não podemos entregar simplesmente por uma análise técnica. Tem de ser uma análise de política econômica.¥

Agenda do terrorismo – ¥Após o 11 de setembro, os Estados Unidos transformaram a agenda mundial numa agenda de segurança e não numa agenda de desenvolvimento e de comércio. Hoje na agenda mundial prevalece a questão do terrorismo, da segurança, do armamento. Essa realidade é negativa para a América Latina, porque não temos – ainda bem – nenhuma transcendência em matéria de segurança. Saímos do espectro mundial, porque ele foi para o outro lado, o da segurança. Então, benza Deus, estamos fora dessa. Agora, de toda a maneira é ruim porque aquilo que nos interessava, que é a agenda positiva, do desenvolvimento, sumiu do mapa. Na América do Sul, os problemas ficaram mais agudos pela falta de uma percepção internacional de que é necessário uma política específica para essa região, que não é dramática em termos de segurança e em termos de poblemas sociais. Dramátiaca é a África.

Aqui é uma coisa intermediária e não há política para esse intermediário. A política que há é lavemos as mãos, como em relação à Argentina. Deixa que eles primeiro se organizem. Ora, até se organizarem pode haver o fundo do poço. Ou, pior. Na história, o fundo não tem poço, pode piorar mais. Isso me preocupa e preocupa o Brasil.¥

Balanço – ¥Acabo de ler um balanço de um americano sobre o que aconteceu no Brasil. Melhorou tudo. Melhorou, mas não tá bom, todo mundo quer mais. Não vou dizer que está uma maravilha, mas posso dizer que implementamos uma agenda social como nunca tinha sido feito. O que precisa é dar continuidade.

Tivemos cinco crises internacionais em sete anos. O problema central é a pobreza e isso não se re
solve só com distribuição de renda. Essa distribu
ição tem de chegar ao mais pobre. O que estamos fazendo pelo mais pobre são políticas específicas. Quando você olha os mais pobres, pelos indicadores do nível de vida, não de renda, mas de saúde e educação, o nível melhorou. Estou dizendo que precisamos continuar a fazer. Não venham propor milagre porque milagre não existe.¥

Poder – ¥Não sei se é tão bom assim. É muito desafiante. Na República, talvez ninguém tenha ficado (no poder) tanto tempo quanto eu. Tem uma coisa que me deixa satisfeito. Foi democrático mesmo. Serão oito anos de estabilidade democrática. Não mandei prender ninguém, não persegui ninguém… Tem preocupação com o social que me deixa parcialmente contente. Fiz muita coisa, mas dá para fazer mais. Mesma coisa vela para a economia.

No mundo desorganizado, a nossa está em ordem. Não me queixo. Agora, é um trabalho muitíssimo duro. Evidentemente dá uma satisfação de ter conseguido chegar e fazer algumas coisas, mas não sei porque tanta gente quer não. Não é fácil.¥

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