Dizem que de médico, louco, técnico de seleção e analista de pesquisa todo mundo tem um pouco. É impressionante a forma apaixonada como aderimos a esta última moda nacional que é o acompanhamento de sondagens eleitorais. A cada semana chovem diante de nosso olhos números produzidos pelos mais variados institutos.
Em clima de final de campeonato, somos induzidos a imaginar que em poucos dias iremos às urnas para definir o futuro do país. Candidaturas são guindadas à condição de favoritas, outras sepultadas definitivamente, ao sabor das oscilações conjunturais e de esforços analíticos a partir de convicções pré-concebidas.
Quem não subiu é porque não é conhecido, quem cresceu demais já encontrou seu teto, quem caiu está fora do jogo, quem estacionou, estacionado ficará. Isto me lembra um velho amigo que dizia: ¥Vamos primeiro ver qual é o nosso objetivo, depois a gente inventa os argumentos.¥ Para que os exercícios de futurologia política sejam coroados de êxito só falta um pequeno detalhe: combinar com a sociedade, com o povo, com o eleitor.
Na verdade as pesquisas de opinião são um importante instrumento na ação e na análise política. Medem inegavelmente a pulsação momentânea da opinião pública. Mas, nesta altura do campeonato, relevante são os sinais qualitativos emitidos pela sociedade e o resultado das preferências espontâneas. Segundo este último parâmetro, certamente um mergulho nos relatórios de pesquisa revelaria que mais de 60% do eleitorado brasileiro ainda não estão mobilizado para as eleições. Oferecer listas fechadas de nomes a esta altura do processo produz evidentemente um quadro de preferências momentâneo, mas contaminado de artificialismo e instabilidade.
A maioria do eleitorado só se posiciona pra valer três meses antes da eleição, principalmente após a entrada no ar do horário eleitoral gratuito de rádio e TV. O que temos até agora são ensaios, testes, especulações, experimentações, jogo partidário. Os candidatos treinam e se aquecem buscando o melhor tom; a melhor embocadura; a tática e a estratégia corretas. Enquanto isto, o cidadão médio comum cuida da sua vida; trabalha, estuda, cuida da casa e da família, aguardando que o quadro político amadureça seus contornos definitivos, suprimindo blefes, bravatas ou objetivos implícitos. Afinal, o eleitor brasileiro está cada vez mais maduro mas, apesar de se interessar pelas eleições, não tem a paixão e o espírito militante cotidiano de nós políticos, articulistas, comentaristas, intelectuais.
Hoje, o que ocorre são múltiplos monólogos paralelos que ainda não interagem plenamente diante dos olhos do eleitor. Nada é sólido, nada é definitivo, e o que parece sólido poderá desmanchar rapidamente no ar.
O jogo pra valer começa depois de junho, com a campanha na rua. Aí sim, a sociedade começará crescentemente a se posicionar a partir do contraste e da interação entre as candidaturas efetivas, dos apoios recebidos, da consistência das propostas, da reflexão coletiva instalada, da capacidade das candidaturas de estabelecer identidade com o sentimento da população. A população avaliará o passado do país, mas principalmente projetará o Brasil que deseja para as gerações futuras.
O PSDB entrou no jogo. O Partido tem passado, tem história, tem consistência programática, tem referências sólidas. Fez um governo transformador, assegurando a estabilidade econômica, consolidando a democracia política e iniciando o urgente ataque às desigualdades. E agora tem um candidato que personalizará o projeto e a visão do partido.
Uma candidatura deve ter pré-requisitos: história; conhecimento da realidade; criatividade e consistência na formulação programática; experiência e capacidade na ação transformadora.
Lançamos um ex-presidente da UNE, secretário de planejamento do histórico governo Montoro em São Paulo, deputado, senador, ministro do Planejamento e o melhor ministro da saúde de todos os tempos. Economista, autor de textos marcantes como ¥Além da estagnação¥ e ¥Ciclos e mudanças estruturais na economia brasileira do após guerra¥, uma pessoa com visão clara de quais devem ser as marcas de nosso projeto nacional para alcançarmos os horizontes desejados neste início de século XXI. O PSDB tem história, tem idéias e tem capacidade transformadora. Agora tem José Serra candidato à presidência. A trajetória do partido e de seu candidato ao longo dos anos atesta bem que queremos muito mais que um mero fenômeno de mídia e de marketing: queremos aquilo que efetivamente interessa à população brasileira, um presidente e um projeto nacional capazes de conduzir um país cheio de protencialidades e desafios em um mundo complexo e em veloz transformação.
MÁRCIO FORTES é secretário-geral do PSDB.