A sucessão só vai começar quando o PSDB lançar seu candidato e ele não sairá sozinho. A convicção é do presidente nacional do partido, deputado José Aníbal (SP), que não acredita na candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). ¥Não sei que projeto encarna a Roseana. Até agora, não vi nada, nenhum projeto embasador dessa candidatura¥, disse ao Estado. ¥Ela tem idéias genéricas que todos têm.¥
A despeito da subida de Roseana nas pesquisas e das declarações de pefelistas e peemedebistas pela candidatura própria, Aníbal diz ter certeza de que o duelo será o mesmo de 1994 e 1998. ¥O verdadeiro embate do ano que vem será entre o partido do presidente e o oposicionista melhor colocado¥, aposta. ¥Ninguém encarna melhor o projeto do governo que o PSDB. Quando tivermos nosso candidato, ele vai polarizar com a oposição. Que ninguém se iluda: teremos candidato e não sairemos sozinhos.¥
Para ele, haverá uma reviravolta a partir de março, quando o presidenciável tucano estiver definido. ¥Estamos só na preliminar¥, avisa. Por enquanto, diz o deputado, ainda há muito jogo de cena nos movimentos do PMDB e do PFL. ¥Mas quando todos caírem na real, tudo muda.¥
Estado – Parece que a aliança governista não vai sobreviver à eleição…
José Aníbal – Num processo eleitoral como o nosso, tudo é possível. Nesse momento, parece que cada partido terá a sua candidatura. Mas isso é uma fotografia do momento e muda muito, porque candidatura não é só ato de vontade, tem de ter uma base objetiva e consistente. O PSDB encarna um projeto para o País. Construímos uma candidatura, em 1994, quando PSDB, PMDB e PFL não tinham perspectiva de vitória. O que temos hoje? Na oposição, a candidatura de Lula, que já havia em 1989, 1994 e 1998, sem nenhuma variação e com os mesmos índices. Isso revela que a candidatura não consegue agregar nem mesmo no universo de oposição. Quanto a nós, temos de construir uma candidatura nova capaz de agregar as mesmas forças.
Estado – Por que o PSDB tem de estar na cabeça da chapa governista
Aníbal – O PSDB encarna esse projeto como ninguém. O PSDB não trata esse projeto como algo adjacente à sua ação política. Esse projeto está no cerne da nossa ação política. Por isso, nós teremos candidato à Presidência. Veja bem, não estamos sozinhos, mas estamos no cerne desse projeto. Esse projeto tem um tempo, ainda não foi concluído e precisa avançar. Por exemplo: o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) levou 14 anos para mudar a Espanha e concluir toda uma fase de reformas que permitiu ao País dar um salto extraordinário. Nós estamos na iminência de dar esse salto. Já temos fundamentos econômicos enraizados, uma ação de combate à desigualdade, sete anos de estabilidade econômica e de estabilidade política e institucional. Não só nós, mas fomos uma força decisiva para a criação desse ambiente de estabilidade e racionalidade no processo político.
Estado – Por que outro partido governista não poderia encabeçar a chapa?
Aníbal – Primeiro, porque a figura que encarna esse projeto é a de Fernando Henrique. E aí, tiramos a primeira conclusão. Esse embate do ano que vem será entre o presidente e o seu partido contra a oposição. Não se iluda quanto a isso. Do ponto de vista de opinião pública (e você pode ver pelo destino das chamadas terceiras vias, aliás muito mal construídas), será esse o verdadeiro embate. A sociedade nos critica, questiona, mas o fato é que criamos uma referência de mudança, de reforma, ousadia, capacidade de renovar, que não transige na questão ética e moral.
Estado – Ou seja, a polarização será mesmo entre o candidato do PSDB e Lula.
Aníbal – Não tenho a menor dúvida. Na hora em que tivermos nosso candidato, ele vai polarizar com a oposição. Não é um impulso, ato de vontade, manifestação de fé que nos motiva a ter um candidato. O que nos motiva são todas essas razões, é a consciência que o partido tem daquilo que conseguimos realizar. E aí, quero insistir, com a participação de outras forças políticas. Não se governa o Brasil sem maioria. Mas, quando a nossa candidatura estiver colocada como do PSDB, do presidente da República e desse projeto, não tenho a menor dúvida que ele polariza.
Estado – Serão menores as chances de um candidato fabricado?
Aníbal – Sem dúvida. Os marqueteiros terão menos importância do que se imagina. A sociedade está mais informada, mais questionadora. Os envelopes, os invólucros não suportarão todo o tempo esse embate político de idéias, de posições. O próprio PT procurou um marqueteiro sem compromisso com nada, só com o invólucro, tentar ganhar a qualquer preço, de qualquer modo. E o que isso resultou para o Lula? Nada. O Lula continua com seus 30%. Não tem jeito.
Estado – Na sua opinião, a presença do Duda Mendonça pode atrapalhar a campanha de Lula?
Aníbal – O PT está prenhe de contradições e elas vão se agravar, porque não houve ampliação ou filtragem, não há novas forças políticas e sociais agregadas ao projeto Lula. Portanto, eles vão continuar ali dentro de um círculo de giz. Não há ampliação sobre o que a candidatura significa para a sociedade. Por isso que, quando caem dois ou três candidatos de oposição, quem sobe é a Roseana. O Lula não consegue entrar no espaço deles.
Estado – O invólucro serve também para a Roseana?
Aníbal – A Roseana tem um marketing bem-feito, é novidade por ser mulher e tem um trabalho concentrado na mídia nacional com relativa constância. Não sei que consistência isso vai ter, nem acho que seja uma questão para a gente trabalhar imediatamente. Temos que trabalhar na construção da nossa candidatura.
Estado – Não poderia aparecer uma terceira via?
Aníbal – O que são essas terceiras vias colocadas por aí? Rotas de fuga? Só se for isso, porque ainda não temos ninguém propondo novos temas para a governança.
Estado – Não é o caso do governador (Anthony) Garotinho ou do ex-ministro Ciro Gomes?
Aníbal – Imagina. O Garotinho, então, nem se fala. Ele não representa rigorosamente nada, a não ser uma esquete. O Ciro tem mais qualidades, mas também é muito impulsivo, um político que tem muita dificuldade de agradar, não agrega.
Estado – O que faltaria a Roseana para ser a candidata do governo?
Aníbal – Ela é do partido da base, mas, a meu ver, com identidades políticas e ideológicas dela, do partido ao qual pertence, e que não são as mesmas do PSDB. Não temos como, até do ponto de vista da sociedade, assumir a candidatura de outro partido. A nossa candidatura encarna um projeto. Não sei o que projeto encarna a Roseana. Até agora, não vi nada, nenhum projeto embasador dessa candidatura. Ela tem idéias genéricas que todos têm. O PFL nos tem apoiado em quase tudo, mas naquilo que nós não avançamos não sei como seria ou será a postura do PFL nem do PMDB.
Estado – Além do apoio do presidente, quais outros trunfos do PSDB na campanha?
Aníbal – O PSDB é um partido nacionalmente bem-organizado e preparado para as eleições, com possibilidade de fazer até 12 governadores no próximo ano. Teremos um bom palanque. Além do apoio decisivo do presidente, temos hoje bases estaduais muito mais consolidadas. Mais do que isso, temos uma ação reformadora, um programa com início, meio e fim.
Estado – Ainda assim, o PFL e PMDB parecem dispostos a ter candidatos próprios.
Aníbal – É claro que podem ter candidatos próprios. Estamos numa democracia, onde o objetivo dos partidos é o poder. E uma das formas de chegar ao poder é ter candidato próprio. Mas eu vou continuar trabalhando para formar uma aliança já no primeiro turno. Tem muita cena nesse jogo. Tem gente que não pode falar outra coisa porque está jogando com sua sobrevivência política. Pode haver movimentos astuciosos até fevereiro ou março, mas quando o jogo da verdade começar, as coisas mudam. Quando todos caírem na real, tudo muda.
Estado – Todas as pesquisas fazem parte dessa cena?
Aníbal – Não, as pesquisas refletem a situação do momento e não se briga com fatos. Mas também achamos que esse quadro está incompleto, porque você não tem o candidato do PSDB.
Estado – Pois é, quem é o candidato do PSDB? Serra, Tasso ou Aécio?
Aníbal – Não sei, todos têm condições – uns mais outros menos – de assumir a candidatura. Será candidato aquele que encarnar melhor esse projeto de que falei. Vamos ver quem será capaz de mobilizar mais, assumir o governo, as mudanças feitas e os novos focos da ação.
Estado – Quando se poderá dizer que o PSDB tem candidato?
Aníbal – Quando o partido todo estiver apoiando uma candidatura. Todo o PSDB apoiando muda fortemente, mas muda também o fato de que o presidente vai assumir essa candidatura. O presidente Fernando Henrique vai governar até o último dia. No primeiro semestre, a oposição achou que tinha ¥emparedado¥ o governo, que já estávamos no clima de fim de feira. Quebraram a cara, porque o governo continua no comando. Como numa corrida de revezamento, o bastão continua com o presidente. E ele vai repassá-lo ao sucessor.
Estado – Por que, então, tantas brigas e intrigas entre os pré-candidatos tucanos?
Aníbal – No mundo político há uma certa excitação natural, porque esse mundo se alimenta muito disso. Agora, nós temos racionalidade e compromisso. Em 1994, começamos a campanha em maio, com 7%, e ganhamos no primeiro turno.
Estado – Então, o jogo ainda não começou?
Aníbal – Estamos só na preliminar. Campanha prá valer só a partir de julho. Vão falar que estamos dizendo isso porque não estamos bem nas pesquisas. Oito anos atrás, dezembro de 1993, nós nem tínhamos projeto de candidatura. Nosso candidato sairá muito forte porque não tem do que se envergonhar, não tem o que esconder.