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Ex-ministro da Justiça admite que setores do PT pediram que ele atuasse ‘de forma diferente’ com a Polícia Federal

Reprodução Folha de S. Paulo
Reprodução Folha de S. Paulo

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo admitiu que sua saída foi por “desgaste pessoal e político e que setores do PT pediram que ele atuasse “de forma diferente” com a Polícia Federal.

“O ministro da Justiça é acusado, especialmente em períodos de investigação daPolícia Federal, por investigar aliados — e aí não tenho o controle da PFque acham que eu deveria ter. As pessoas sempre acham que, por força da PF estar vinculada ao Ministério da Justiça, tudo é uma ação política, quando não é”, revelou em sua primeira entrevista após a demissão do ministério.

A entrevista foi concedida a repórter Marina Dias. Acompanhe a íntegra abaixo:

Folha- O sr. ensaia há meses deixar o cargo. Por que agora?

José Eduardo Cardozo –  Sou o ministro mais longevo do período democrático. O tipo de atribuição que o Ministério da Justiça tem implica em uma série de desgastes, seja pessoal ou político, que recomenda renovação de ministros. Quando falei com a presidente Dilma, fiz ponderações sobre isso e acho que existe uma fadiga numa permanência tão alongada. Era a hora certa da substituição.

No seu caso foi desgaste pessoal ou político?

Os dois. O ministro da Justiça é acusado, especialmente em períodos de investigação da Polícia Federal, por investigar aliados — e aí não tenho o controle da PF que acham que eu deveria ter. Quando os investigados são adversários, sou acusado de perseguição. Vivi as duas situações.

Está cedendo à pressão do ex-presidente Lula e do PT, que dizem que o senhor “não controla a Polícia Federal”?

Desconheço pressão do ex-presidente Lula.E le nunca fez nenhuma pressão direta a mim. Claro que li na imprensa muitas coisas, recebi críticas de setores do meu partido, mas acho que são críticas normais. O Brasil está pouco ambientado com a dimensão de uma atuação institucional republicana. As pessoas sempre acham que, por força da PF estar vinculada ao Ministério da Justiça, tudo é uma ação política, quando não é.

Lula nunca falou com o senhor, mas já disse à presidente Dilma que não estava satisfeito com sua atuação.

É fato que muitos rumores foram publicados, mas também é fato que conversei inúmeras vezes com o ex-presidente, e elet em liberdade para fazer as críticas — eu iria ouvi-las. Mas não posso comentar “diz que me disse”.

Nenhuma vez houve um pedido direto deLula ou de outro petista para que o senhor agisse de determinada maneira?

Falo em relação ao ex-presidente Lula. Muitas vezes, militantes ou parlamentares petistas me fizeram críticas e sugestões em relação a melhorar a atuação da PF, evitar abusos e ilegalidades.

A presidente Dilma já pediu que o senhor atuasse em alguma operação ou investigação?

A presidente nunca me dirigiu qualquer orientação para que tentasse obstar, criar dificuldades ou embaraços em qualquer investigação.

O senhor sofreu críticas por não saber com antecedência de operações que atingiriam quadros importantes do governo e do PT. Como vê isso?

O ministro da Justiça sabe de uma operação no momento de sua deflagração. Apenas verifica se os pressupostos jurídicos estão dados. As pessoas não entendem isso, talvez acostumadas a outro período da história brasileira.

Com o novo ministro, pode have rmudança na Lava Jato?

Não. Há compromisso do governo com o Estado Democrático de Direito.

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