O PSDB enfrentará o maior desafio de seus 13 anos nas próximas eleições presidenciais. Este desafio começa com a escolha do candidato que consolidará a obra de transformação do país, iniciada com os anos de governo Fernando Henrique. A certeza de que cabe ao partido a principal responsabilidade neste processo o obrigará a não abrir mão de candidato próprio.
A posição do PSDB em relação à sucessão deve ser melhor explicada, em especial no que diz respeito à idéia de continuar a encabeçar chapa de eventual aliança. É natural que um partido aliado, como o PFL, considere o lançamento de uma candidatura que hoje lidera pesquisas de opinião. Roseana Sarney é uma mulher inteligente, competente, séria, honesta, enfim, dispõe de todos os requisitos ao cargo máximo da República. Por todos os motivos, é uma honra para o PSDB ter o PFL como aliado. Um aliado do qual não pode nem vai abrir mão.
Pesquisas de opinião, entretanto, têm hoje pouquíssimo significado no que revelam de instantâneo, de flagrante de um momento. Alguém se recorda dos índices de intenção de voto de Fernando Henrique cinco meses antes do pleito de 1994? No início de maio daquele ano, Lula contabilizava 42% de intenções de voto, contra 16% do presidente.
São infinitas as variáveis capazes de influenciar o humor da opinião pública até que se cruze a estreita fronteira que separa especulação de realidade. Sondagens devem ser levadas a sério, mas não podem servir de base para composição de chapa de presidente e vice. Não quando ainda faltam dez meses para as eleições. E há confiança no PSDB de que os índices de pesquisa refletirão, gradualmente, o que observadores atentos já perceberam. Os tais ¥fundamentos¥ da economia nacional são mesmo sólidos, porque se fez o que devia ser feito. Há conquistas imensas na área social. Politicamente, o Brasil é hoje uma democracia madura. Tudo isso levará a uma associação com os anos de governo Fernando Henrique.
Por isso o presidente desempenhará papel decisivo no processo sucessório. Mesmo com a certeza de que saberá manter a eqüidistância e a imparcialidade que o cargo exige, sua imagem, suas ações e suas palavras, ainda que involuntariamente, serão respaldadas por um ambiente interno e externo bem mais desanuviado, e isso contará a favor do candidato do PSDB.
Atualmente, o candidato do partido melhor posicionado nas pesquisas é José Serra, com índices em torno de 7%. Mas o ministro é um candidato que ainda não é candidato. Apenas pode vir a ser. Seu nome é arrolado, ainda assim, em pesquisas de opinião que não correm em paralelo a uma mudança de percepção mais drástica dos feitos do governo. E este melhor humor, fundado em análise menos emocional e mais racional às vésperas do pleito, pesará na balança. Mas pesará provavelmente a partir de junho ou julho. Até lá, pesquisas devem ser encaradas com seriedade, mas também com certa reserva.
Quando se fala em pensar com a razão, é porque o que não faltam são motivos para aprovar o que se realizou nesse sete anos. A maior conquista da História recente do Brasil foi a estabilidade econômica. Graças a ela, 13 milhões de brasileiros abandonaram a linha de pobreza entre 1990 e 1998. Os avanços foram extraordinários também em saúde e educação. Na área de saúde, a mortalidade infantil declinou quase 30% entre 1989 e 1998. A adoção de medicamentos genéricos foi das maiores conquistas sociais do país. O programa de combate à Aids é hoje reconhecido internacionalmente. A reforma agrária assentou mais de 400 mil famílias em território duas vezes maior que o da Bélgica.
É claro que o Brasil não é uma ilha da fantasia. Ainda há muito a avançar. Foram 13 milhões os que abandonaram a linha de pobreza, mas restam 50 milhões abaixo dela. O analfabetismo tem de recuar até a erradicação. Todos têm direito a contar com atendimento médico-hospitalar decente, com financiamento para acabar com o déficit habitacional e com políticas efetivas de segurança.
O PSDB está atento a esses desafios, e vai enfrentá-los. Mais do que isso, vai ajudar o país a vencê-los. Eles representarão a consolidação da obra de um governo e de um partido. Por isso o PSDB não pode abrir mão de candidato próprio a presidente da República.
MARCIO FORTES é secretário-geral do PSDB.