Meu caro Governador e amigo Geraldo Alckmin,
Senhores Ministros de Estado,
Senhores Senadores,
Senhores Parlamentares,
Prefeito de Cubatão, Clermont Vieira Castor,
Beto Mansur, que é o Prefeito de Santos,
Demais Prefeitos, numerosos, aqui presentes,
Senhor Aldo Narciso, que é o Presidente do Conselho de Administração da Cosipa,
Senhor Reinaldo Campos Soares, seu Presidente,
Senhor Omar Silva Júnior,
E, sobretudo, funcionários da Cosipa,
Senhoras e Senhores,
Nada mais gratificante para alguém como eu, que preside o Brasil há já longos anos, do que estar, hoje, aqui, e ver as transformações pelas quais o país passou.
Esta década passada, a década de 90, não foi perdida. É uma década de construção.
A Cosipa sofreu seu processo de privatização em 93. De lá para cá, houve uma transformação profunda que mostra o quanto há de potencial no nosso país, à condição de que tenhamos a capacidade de fazer parcerias. E a Cosipa as fez. Primeiro, com a Usiminas, que se lançou nesse processo de privatização e deu as mãos, juntando São Paulo a Minas, o que é um eixo extraordinário de progresso e prosperidade. Depois, houve a compreensão de que, no mundo de hoje, é preciso um espírito de empreendimento e de ousadia. Mas a ousadia não fará nada se não for embasada tecnicamente.
A cooperação japonesa foi essencial para a modernização da siderurgia brasileira. Mais ainda: houve a compreensão de que lançamos um audacioso processo privatização no Brasil, que, na década de 90, no seu início, parecia ser demasiado arriscado. Quando houve a privatização da CSN e da Cosipa, um mar de dúvidas surgiu, mas houve também a compreensão de que privatizar não quer dizer distanciamento do Governo. Não quer dizer, sobretudo, o distanciamento de um projeto nacional embasado na vontade do povo deste país.
Todas as transformações da siderurgia brasileira foram feitas com o forte apoio do BNDES, que permitiu que houvesse condições financeiras para que a cooperação entre o setor privado, nacional e internacional, e o Governo levasse a essa transformação a que estamos assistindo.
Hoje, aqui na Cosipa, vê-se o exemplo muito vivo disso. Mas todo o setor siderúrgico brasileiro passou por esse processo. O resultado já foi aqui mencionado.
O que é mais interessante, e que foi dito pelo Dr. Reinaldo, é que não estamos de braços cruzados, nem cantando loas do que já foi feito. Estamos preocupados com o muito que falta por fazer e preparados para novos passos.
Se, num primeiro momento, com o processo de privatização se podia ter a impressão de que o Estado se ausenta da ação empresarial, num segundo momento, vê-se que é um outro Estado, mais competente, mais aberto à sociedade, mais vigiado pela opinião pública, que vai, sim, apoiar aquela ação empresarial que tiver demonstrado capacidade técnica, competência gerencial, audácia e, portanto, que merece o apoio da sociedade, através do Estado. E o Estado volta a ter um papel importante, dessa outra forma. E, agora, neste momento em que precisamos, como já foi dito pelo Dr. Reinaldo, não só de pessoas, não só do espírito de sistema mas também da abertura de mercado, para apoiar fortemente as exportações brasileiras. E é a isso que o BNDES se destinará, com muita força, sob a condução do Ministro Sérgio Amaral.
Há, portanto, uma renovação do Brasil. O Governador Geraldo Alckmin disse que aqui, em Cubatão, havia uma marca daquilo que era entristecedor, que era a desatenção às pessoas e ao meio ambiente.
Recordo-me dos esforços feitos pelo saudoso Governador Franco Montoro para se recuperar o meio ambiente na Serra do Mar e em Cubatão. Quantas vezes andei pela Vila Parisi e vi crianças deformadas e vi condições extremamente precárias da população que aí vivia? Era impossível sonhar, então, com ISO-9000, ISO-14000, projetos de meio ambiente, Cosipa solidária com meio ambiente, a Cetesb ajudando, o Governo do Estado ajudando, o compromissos de todos. É um outro Brasil, completamente diferente.
Poderia até dizer da minha experiência pessoal. Quantas vezes andei, aqui, por estas regiões. Alguns aqui presentes até me acompanharam, em alguns momentos. Nunca havia entrado na Cosipa. Havia estado à sua porta, distribuindo panfletos, protestando contra a falta de liberdade no Brasil, ajudando o sindicato. Recordo-me do Arnaldo Gonçalves, então líder sindical. Quantas vezes andei por essas esquinas da Cosipa e podia sentir o quanto havia de falta de preocupação, então, com o que, hoje, é o fundamental: com as pessoas. Hoje, é um outro Brasil. Minha maior alegria é a de ter podido contribuir, nesses anos, para a construção deste outro Brasil.
E um outro Brasil que não se esquece do seu passado, no que teve de negativo mas, também, no que teve de positivo. Parece-me muito significativo, também, que a Usina, agora, celebre o nome de José Bonifácio de Andrada e Silva, filho de Santos. Homem que, quando se lê seus livros, ainda hoje – notadamente o livro chamado ¥Um Projeto para o Brasil¥ – vê-se sua modernidade. Homem que conhecemos, nos livros escolares, como o Patriarca da Independência, na verdade, foi um lutador tenaz e se opôs, muitas vezes, todas as vezes que o Imperador passou a ser arbitrário. Foi para o exílio, voltou para o Brasil, foi tutor do filho do Imperador, mas estava o tempo todo preocupado com questões que, na época, eram muito pouco cogitadas: a escravidão e o analfabetismo. Vivia pregando uma sociedade mais livre, uma sociedade mais ilustrada. Quem lê, hoje, o que José Bonifácio escreveu no começo do século XIX vai ver por que aqui, nesta região, hoje, se tem tanto progresso. É porque, há séculos, já havia aqui quem lutasse para as transformações das coisas. A Cosipa é um fruto dessa transformação, é um exemplo vivo de um Brasil que tem fé, que se modifica, que recupera e que avança.
Já foram mostrados, aqui, os dados suficientes para ver que temos ainda muito a fazer. Temos excelentes oportunidades, sem dúvida alguma, no setor siderúrgico. Mas temos um tremendo desafio: a concentração, hoje, das siderurgias, no plano mundial, é muito forte. Algumas delas, sozinhas, são capazes de produzir mais que o conjunto das siderúrgicas brasileiras. Vamos ter que dar passos mais fortes. Vamos ter que dar passos mais fortes, não só como está sendo feito aqui, na modernização, na exportação, mas vamos ter que dar passos mais audaciosos porque a nossa capacidade de expansão tem que ser medida pela nossa capacidade de investir. E vamos precisar investir mais.
Temos condições extraordinárias. O Maranhão, especialmente. Condições extraordinárias para grandes projetos. Precisamos internacionalizar mais as nossas empresas. Internacionalizar não vai querer dizer perder o controle dos capitais. Vai querer dizer ter uma presença ativa das empresas sediadas no Brasil pelo mundo afora. Este processo já está em marcha, ainda tímido. É preciso mais audácia, porque o mundo do futuro é o mundo global. E, neste mundo global, se não tivermos capacidade de antever o que vai acontecer, se não tivermos a força política de reivindicar uma participação maior dos mercados, se não formos capazes de entender o que é uma negociação, se não formos capazes, nos momentos necessários, de sermos firmes, se não formos, também, realistas para saber o passo que pode ser dado, não teremos estado a altura do desafio do tempo. Mas vamos ser capazes.
Vimos, agora, recentemente, na reunião havida em Doha, no Catar, a posição do Brasil, chefiada pelo Ministro Celso Lafer, com o Ministro Sérgio Amaral e o Ministro Pratini de Moraes presentes. Vimos a energia com a qual o Brasil conseguiu transformar posições, há muito, enquistadas nas negociações do comércio internacional. E definições que permitem o começo de uma luta. Luta que vai ser árdua, como se viu, agora, pelas restrições que o C
ongresso americano está impondo ao Presidente dos E
stados Unidos na sua capacidade de fazer acordos.
Mas isso não deve nos desanimar. Temos confiança em nós próprios e sabemos que só faremos os acordos que forem interessantes para nós. Defini com muita clareza, com muita franqueza, em Quebec, as condições a partir das quais aceitaríamos o acordo da Alca, ou seja, da integração comercial hemisférica. Negociações comerciais não podem ser confundidas com negociações de soberania. Soberania não se negocia. Soberania se exerce.
Com essa convicção, serena mas firme, continuaremos buscando a ampliação do acesso aos mercados internacionais.
Temos, sim, essa vocação, como aqui já foi referido, para uma siderurgia forte e vamos prosseguir nesse caminho. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas um dos pontos essenciais, aqui já mencionados como requisito para isso, é uma mudança sistêmica no Brasil.
Hoje, condições de competitividade estão ligadas à modernização do Estado, mas estão ligadas, sobretudo, às transformações da sociedade, a partir, principalmente, de um acesso amplo à educação e de uma transformação profunda nos processos dos quais, nos últimos séculos, as populações brasileiras estiveram marginalizadas.
Tivemos, sempre, núcleos de excelência. O nosso desafio, hoje, não é mais o de manter núcleos de excelência. Nós os temos. A Cosipa é um desses núcleos. Nosso desafio, hoje, é a generalização da excelência. E a generalização só pode se dar com maior igualdade, maior acesso à educação, melhores condições para o aperfeiçoamento das pessoas, que requerem, por sua vez, melhor nutrição, melhores condições de saúde, mais emprego e, sobretudo, a continuidade de uma convivência democrática de um país que vê na liberdade o caminho do desenvolvimento.
Estamos imbuídos desses valores. Tenho tido a possibilidade de andar por este Brasil todo. São inúmeras, são centenas as ocasiões nas quais se sente essa mesma força que, hoje, sentimos aqui, na Cosipa. Sente-se essa mesma força em muitas áreas de atividade neste nosso país.
Os pessimistas, os chorões, os que ficam sempre imaginando que o Brasil é um país que não avança, é uma terra onde se desperdiça o tempo, é uma terra onde o privilégio se mantém, vão ficar isolados, porque, progressivamente, a sociedade brasileira, ao invés de chorar, atua e atua em vários níveis.
Nesses últimos 10 anos, as transformações foram muito profundas. A transformação industrial é gritante. Hoje, temos desenvolvimento tecnológico em muitas áreas importantes.
Quem diria que iríamos exportar aviões? Participei ativamente dos momentos em que a Embraer estava em extrema dificuldade e havia dúvida sobre o que fazer com ela. Defendi, com o Ministro da Aeronáutica da época – eu era Ministro da Fazenda – a necessidade da privatização. A mesma incompreensão desabou naquele momento sobre nós.
Hoje, é só ir a São José dos Campos, é só visitar, daqui a algum tempo, Gavião Peixoto, é só ver as pistas de treinamento, é só olhar as estatísticas de exportação, é só ver os computadores que permitem aos nossos engenheiros, como vi, ao lado de Tony Blair – que levei para que visse esse novo Brasil – é só ver, ao lado desses nossos engenheiros com seus computadores, a capacidade técnica que já alcançamos para perceber que houve, aí também, uma grande revolução.
E a Petrobrás? Quem imaginaria que, depois de uma decisão difícil, que foi a de abrir o petróleo à competição, a Petrobrás fosse se situar, como se situa hoje, entre as 7 maiores empresas de petróleo do mundo, sendo que é a detentora da melhor tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas e, hoje, se transforma em uma empresa de energia e não apenas de petróleo?
São apenas alguns exemplos do que foi possível fazer nesses 10 anos. Mas, em quase todos os setores, a produção industrial mudou de patamar.
Aqueles que se cansaram, se esfalfaram de fazer discursos retóricos nos Congressos, de escrever na imprensa que a nossa indústria estava sendo sucateada deviam olhar as estatísticas de exportação. E vão ver que 52% dos produtos exportados pelo Brasil são manufaturados. Como seria possível uma indústria sucateada exportar, em nível global, num mercado cada vez mais exigente? Seria impossível.
Isso não quer dizer que a exportação tenha primado sobre o mercado interno, porque o Brasil continua sendo uma das economias mais fechadas do mundo, em termos da relação entre o que exporta e o que produz. Exportamos 10%, mais ou menos, do Produto Interno Bruto, ou seja, 90% do que aqui se produz é consumido localmente. E vai continuar sendo, porque, dadas as proporções do Brasil, as características de um país continental, a população do Brasil, muito dificilmente, essas características serão transformadas radicalmente.
Somos como a China, a Índia, os Estados Unidos, países que têm um mercado interno que não pode ser posto à margem. Quando se exporta, não é para não se produzir para o consumo doméstico. É porque se sabe que, hoje, ou se exporta e se importa e, portanto, ou se criam padrões de consumo exigentes ou então – aí, sim – se sucateia a indústria. E nós não sucateamos a indústria. Nós recuperamos a indústria, renovamos a indústria e vamos avançar mais nessa indústria. E em vários setores. Citei apenas alguns.
Nesses últimos 10 anos, pudemos transformar também a nossa agricultura. Em 1991, o Brasil produzia 56 milhões de toneladas de grãos. A primeira previsão de safra para o ano próximo foi de mais de 101 milhões de toneladas de grãos. Quando eu era jovem, se dizia que o dia em que o Brasil pudesse chegar a 100 milhões de toneladas de grãos seria formidável. Chegamos. Talvez nem tenhamos percebido que chegamos, mas chegamos. Já no ano em curso, serão 98, 99 milhões de toneladas de grãos, que não computam o conjunto. Se computassem o conjunto, já seriam 100 milhões. No ano que vem, certamente, serão 100 milhões de toneladas de grãos.
Os pessimistas de sempre dizem: ¥Ah, mas a extensão da produção não aumentou.¥ Não percebem que, ao dizer isso, o que estão dizendo é outra coisa: é que a produtividade cresceu muito. Assim como cresceu aqui, no aço, cresceu também na produção agrícola. E, ainda melhor: para o ano que vem, não apenas houve um aumento na produtividade e uma expansão da quantidade física de grãos como aumentamos 4,8% a área plantada. E 4,8% da área plantada, no Brasil, são milhões de hectares. Houve, portanto, até isso: incorporação de novas áreas à produção.
É um outro Brasil. É um Brasil mais confiante em si. É um Brasil que sabe que tem força para crescer, que acredita nos seus empresários, nos seus trabalhadores, mas que sabe também que isso não dispensa a existência de um planejamento indutivo, como temos hoje, aprovado pelo Congresso. É um conjunto de planos, em um Orçamento que, hoje, no Brasil é todo gerenciado. Cada um dos programas aprovados pelo Congresso não apenas está encadeado com o Plano Plurianual, mas disponível a qualquer brasileiro, através da Internet ou, diretamente, pelas publicações. Além disso, cada um dos programas aprovados no Orçamento dispõe de um gerente, que pode ser cobrado pelo Governo ou pelo setor privado, pelos mesmos mecanismos pelos quais tenho acesso ao que vai acontecendo com cada um desses programas.
Há, portanto, um rumo. Um rumo que, dentro da democracia e da liberdade, assinala quais são as metas fundamentais para que este país continue avançando. E é dentro desse aspecto global, de uma Nação que se está formando com muita força para poder participar ativamente dos desafios do século XXI, que o setor siderúrgico tem um papel central. Tem um papel central porque reafirma essa nossa vocação para a industrialização.
O Governador Geraldo Alckmin já mostrou aqui, referindo-se a Ipanema, que já, há séculos, tínhamos essa preocupação. Nunca deixamos de tê-la. E a siderurgia é si
mbólica de um país que tem essa vocaç
ão industrial, essa vocação exportadora e que, tendo recursos naturais, como os temos, não ficamos de braços cruzados, senão que tratamos de explorá-los, da maneira mais racional, buscando parcerias nacionais e estrangeiras, buscando tecnologia, capacitando pessoas, criando condições de exportação, criando uma mentalidade nova. A siderurgia tem sido um exemplo vivo para o conjunto da produção brasileira do que é possível fazer. Os 10 bilhões de dólares investidos significam muita coisa, mas, talvez, signifiquem ainda pouco para aquilo que vamos precisar investir.
Vim, hoje, com muita satisfação, aqui, à Cosipa. Vejo, aqui, essa energia paulista, essa energia, hoje, vivificada por Minas – essa energia que é uma energia brasileira. Vejo isso funcionando, aqui, simbolicamente, na Cosipa. Apesar das dificuldades – que foram tantas, têm sido tantas, neste mundo atribulado por vagas de incertezas financeiras, têm sido tantas, até mesmo por imprevisões – volto para Brasília com a confiança tranqüila de que o Brasil não é que vai dar certo, já deu certo. Não podemos deixar de acreditar é no caminho.
Muito obrigado a vocês e parabéns à Cosipa.