Com a consciência da responsabilidade de minha decisão, venho hoje declarar que sou candidato a presidente da República.
Trago um compromisso com a esperança e a determinação de trabalhar por um Brasil no qual o progresso seja de todos.
O progresso ou é de todos ou não é duradouro.
Se o progresso for só para alguns, logo não será de ninguém.
A esperança move as pessoas e reclama delas não apenas a fé obstinada, mas também a vontade política e a ação realizadora.
A vontade política, ao mesmo tempo em que cumpre os anseios da esperança, acrescenta-lhe novos e mais sedutores horizontes.
A ação realizadora, competente e perseverante, é o que leva o país ao encontro desses horizontes ampliados.
A estabilidade da nossa moeda, um objetivo difícil, caro e precioso, tornou possível melhorar a vida dos brasileiros, combater a pobreza e aumentar as oportunidades de progresso.
Agora, temos de ir mais longe, temos de avançar e, para isso, precisamos de esperança, de vontade política e de ação realizadora.
O Brasil tem seguido um rumo claro desde o Plano Real, sob as duas administrações do presidente Fernando Henrique. Eu quero manter as coisas certas e fazer aquilo que não foi possível fazer. Tudo isso para trazer mais progresso. E progresso para todos.
Resumindo em uma frase, com o voto e o apoio dos brasileiros, o lema do nosso governo será: nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade. Tudo a favor do progresso para todos!
Não é um sonho impossível, uma esperança irrealizável. O Brasil já atingiu capacidade produtiva e nível de renda bem superiores aos que tinham as nações asiáticas, no início do processo que lhes permitiu reduzir a pobreza absoluta de mais de 60 por cento a menos de 10 por cento da população, no espaço de uma só geração.
Na verdade, o Brasil moderno foi construído sob a liderança de homens que juntaram a esperança, a vontade e a competência.
Esse foi o caso de Getúlio Vargas, que sonhou com um Brasil industrializado. Sua obstinação e sua competência fizeram de Volta Redonda o símbolo de uma nova era. Quando ele negociava a construção da primeira usina siderúrgica brasileira, era criticado por querer mudar o que diziam ser uma vocação ¥essencialmente agrícola¥ de nossa gente.
A esperança, a teimosia e a competência de Juscelino Kubitschek criaram a indústria automobilística brasileira. JK trouxe os investimentos estrangeiros puxando-os pela gola. Havia brasileiros que duvidavam da capacidade dos nossos trabalhadores e estrangeiros que asseguravam ser impossível fabricar carros no Brasil. Diziam que era uma utopia, até porque o nosso clima tropical estragaria os pistões dos automóveis, cobrindo-os de fungos…
Com esperança, obstinação e competência, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e tantos outros combateram a ditadura, recuperando a democracia, depois dos anos de chumbo. Atravessaram uma noite de 21 anos e conduziram o país a uma nova alvorada.
Podemos dizer que foram muitos os brasileiros que tiveram a esperança de acabar com a inflação. Durante quinze anos, sofremos oito planos de estabilização e conhecemos quatro moedas diferentes. Mas Fernando Henrique Cardoso, levado ao ministério da Fazenda por Itamar Franco, conseguiu derrubar a superinflação, porque juntou, à esperança, uma grande equipe técnica, obstinação e capacidade de liderança.
Os grandes exemplos fazem parte da vida de nosso grande povo. Como ministro da Saúde, recebi comoventes lições de generosidade e competência. Orgulho-me de mencionar duas.
Primeiro, a de uma mulher extraordinária: a médica Zilda Arns. Acreditando na grandeza dos seres humanos, movida pela fé cristã e conhecedora do espírito de solidariedade de nosso povo, ela simboliza o trabalho da Pastoral da Criança. São 150 mil voluntários espalhados por 3 mil e 400 municípios. Atuam nas regiões mais pobres do país. E, onde trabalham, a mortalidade infantil caiu à metade dos níveis nacionais.
Também foi no Ministério da Saúde que conheci um homem extraordinário. O professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva. Tem 73 anos, está aposentado e foi morar em Porto Velho – Rondônia. Ele foi professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A ditadura o expulsou. Exilou-se na França e tornou-se um pesquisador de grande prestígio, do Instituto Pasteur, em Paris. Tentou voltar ao Brasil, mas não o deixaram ficar e o obrigaram a novo exílio. Só pôde retornar depois da anistia. E o que faz hoje o professor Luiz Hildebrando? Está em Rondônia, continuando as suas batalhas, pesquisando a malária, a hepatite e atendendo os doentes sem recursos das populações ribeirinhas.
Zilda Arns e Luiz Hildebrando são exemplos de pessoas que vivem para impulsionar o progresso, e para levar este progresso a todos os brasileiros e brasileiras.
Este sonho está a nosso alcance. Já vencemos várias batalhas. Hoje a palavra ¥genérico¥ se incorporou ao vocabulário nacional. Significa remédios de boa qualidade e mais baratos. Eles não foram invenção minha, nem do atual governo. Existem no mundo há mais de quarenta anos. Sempre houve quem os defendesse no Brasil. Havia a proposta e nada ocorria.
Ninguém se dizia contra os genéricos, mas seus adversários insinuavam sempre que a medida ¥ficasse para depois¥. ¥Depois,¥ por isso e por aquilo. Mas sempre ¥depois¢. Esse episódio nos ensina: ¥depois¥ é o disfarce do nunca, a arma predileta do ¥deixa-como-está¥.
Obstinação e competência fizeram com que se passasse apenas um ano até a chegada da primeira caixa de remédio genérico às farmácias. Devo reconhecer, aliás, que a bancada oposicionista no Congresso também apoiou essa medida, bem como todas as outras sobre a saúde que enviamos ao Congresso.
Ao ¥fica para depois¥ junta-se a objeção do ¥é impossível¥. Foi a preferida no caso da decisão do governo brasileiro de propor e defender, em circunstâncias justificadas, a quebra de patentes de remédios essenciais, com o fim de reduzir seus preços.
Seria ¥impossível¥, diziam, porque o governo americano não permitiria. Seria impossível porque, em um mundo globalizado, a Organização Mundial do Comércio derrubaria a iniciativa.
Pois foi possível sim, com o apoio da opinião pública internacional e de centenas de organizações não-governamentais, com a ajuda dos 150 países da Organização Mundial do Comércio e com o entendimento do governo do presidente George Bush. Foi possível porque à esperança se juntaram a nossa obstinação e nossa competência negociadora. Conquistamos uma grande vitória internacional, com repercussão sobre a vida de todas as nações em desenvolvimento.
Nunca houve e nunca haverá civilizações fechadas na xenofobia, na desconfiança do estrangeiro. O Brasil não pode perder tempo discutindo se deve ou não participar do processo de globalização. Esse debate é falso. O problema real é outro: quais são nossas verdades e certezas, quais são nossos interesses como Nação?
Junto com a globalidade deve-se pensar, sempre, também na ¥localidade¥. O mundo continua sendo feito de nações soberanas, com suas diferenças, e seus interesses. Países que seguiram, ou foram obrigados a seguir, as certezas dos outros, pagaram caro pelas más escolhas. É o caso da Argentina. Uma certeza, talvez uma conveniência, dos outros (de que o peso valia um dólar), levou nosso país irmão às dificuldades que atravessa e das quais espero sinceramente que logo se liberte.
O que aconteceu na Argentina é um exemplo do que não devemos fazer. A principal lição que podemos tirar do sofrimento argentino é a do risco que representa para os destinos de uma grande nação ser conduzida com fraq
ueza de vontade política e com incompetência.
Na vida pública, é preciso evitar tanto o radicalism
o populista quanto a fraqueza de vontade, a inépcia, o receio das pressões, a acomodação, patrimônio tanto de setores que se consideram de esquerda como também das forças do atraso, coniventes com a permanência de uma sociedade injusta.
No mundo da globalização, o Brasil precisa produzir mais, exportar mais e gerar grandes excedentes comerciais com o exterior. Isto reduzirá nossa dependência de financiamentos externos a proporções mais modestas e, com a estabilidade da moeda, permitirá reduzir os juros, estimular os investimentos produtivos, fortalecer as empresas brasileiras, das grandes às pequenas, e acelerar o crescimento da produção e do emprego. Mas só a obstinação e a competência permitirão montar uma política que estimule as exportações, a substituição de importações, sem criar cartórios, privilégios e sem fazer favores a empresários incapazes.
Progresso não deve ser carro de luxo para alguns, nem tecnologia para privilegiados.
A bandeira do Brasil nunca significou que podemos ter o progresso para alguns e a ordem para outros. Se o progresso não for para todos, não haverá ordem para ninguém.
Progresso para todos significa um crescimento econômico no qual as pessoas vivam sem o medo de perder seus empregos e possam confiar que seus filhos, depois de educados, terão oportunidades para trabalhar, construir suas famílias e buscar a felicidade.
O progresso será de todos os brasileiros quando as desigualdades regionais deixarem de ser consideradas um produto do destino. A esperança, a força de vontade e a competência dos migrantes nordestinos contribuíram muito para erguer o parque industrial de São Paulo.
A esperança, a vontade e a competência farão com que os desníveis regionais existentes hoje no Brasil sejam combatidos com a necessária prioridade, como, aliás, já tem sido feito nas áreas da educação e da saúde.
A mesma atenção merecem os desníveis urbanos. Muitas das grandes cidades, hoje, são abomináveis focos de desigualdades. A isto se acrescenta o desperdício de recursos e a violência, com sua carga de terror e de lágrimas, de angústia e de luto. Uma situação especialmente injustificável em um país ainda subpovoado e com tantas áreas potencialmente ricas para ocupar e desenvolver.
Meus companheiros e companheiras.
Tudo o que aprendi até hoje devo a duas escolas que freqüentei: a escola pública e a escola da vida pública.
Devo muito à escola pública. Sem ela, não teria podido estudar e chegar até onde cheguei.
Na escola da vida pública, ingressei como líder estudantil, há quase quarenta anos, quando apenas saía da adolescência.
Minha atuação foi interrompida bruscamente pelo golpe de 1964, pela repressão e pelo exílio, que durou 14 anos.
No exterior e aqui dentro participei da luta pela redemocratização.
Tive o orgulho de ocupar a secretaria de Economia e Planejamento de São Paulo, no governo de Franco Montoro, quando saneamos as finanças e recolocamos o estado no rumo do desenvolvimento econômico e social.
Participei ativamente da candidatura vitoriosa de Tancredo Neves, e fui coordenador do seu plano de governo.
Fui eleito duas vezes deputado e, depois, senador. Na Assembléia Constituinte, relatei dois dos capítulos mais difíceis: a construção da moldura dos orçamentos públicos, e o capítulo dos tributos e da repartição de receitas e responsabilidades dentro da Federação.
Orgulho-me de ter sido um dos fundadores de meu partido, o PSDB, ao lado de companheiros como o inesquecível Mário Covas, e de ter sido coordenador do primeiro programa de governo do PSDB.
Como deputado, contribuí para fortalecimento dos direitos sociais, tornando possível o seguro-desemprego e criando o Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Como ministro do Planejamento, ajudei na consolidação do Plano Real, na recuperação dos investimentos e concorri para expandir, tornar mais eficiente e descentralizar setores da indústria brasileira, como o de automóveis, ameaçados por decisões anteriores imprudentes e mal pensadas.
Fui o primeiro não médico a assumir o Ministério da Saúde, graças à iniciativa do presidente Fernando Henrique Cardoso. No Ministério trabalhei muito para abrir o atendimento à saúde de todos. Ainda falta muito a fazer , mas ouso afirmar com segurança: hoje, a saúde está melhor do que ontem e amanhã vai estar melhor do que hoje.
Apresento esta lista dos trabalhos que fiz porque me orgulho deles e porque penso que me deram condições para disputar a presidência da nação. Falo sobre estas passagens da minha vida pública porque dirigir um país, neste momento delicado do mundo, é muito difícil. Exige, mais do que no passado, esperança, força de vontade, ação competente. Exige amor à verdade e à razão.
Faço este relato para que me conheçam exatamente como sou. Sempre fui objetivo e direto. Em toda a campanha será assim.
Sou obstinado pelas teses que defendo, pondo o interesse público acima de tudo, em todos os momentos. Sou apaixonado pelo trabalho. Valorizo sempre os diagnósticos objetivos das situações e dos problemas. Sou otimista na ação. E não compartilho a tese fácil, cômoda, de que a política é apenas ¥a arte do possível¥. Para mim, política é a arte de ampliar os limites do possível. Ampliá-los ao máximo, até o limite de nosso engenho e de nossa tenacidade.
Ao longo de toda a minha vida pública acumulei sucessos e alegrias. Conheci vitórias e derrotas eleitorais. Passei também angústias e sofrimentos. Orgulho-me disso também, inclusive de ter sido perseguido pelas ditaduras, no Brasil e no Chile. Hoje, quero ser presidente porque acredito que posso unir a esperança com a experiência, o conhecimento com a ousadia.
Vou lutar ombro a ombro com a militância tucana, os militantes de base do PSDB, com nossos dirigentes, parlamentares, prefeitos e governadores. Não hesitaremos em buscar o diálogo com outros partidos, movimentos sociais e personalidades públicas. Tenho consciência de que uma ampla convergência de vontades políticas é importante para a vitória e essencial para a vida democrática e o êxito da ação governamental.
Em todos os momentos de minha trajetória política, sempre trabalhei pela democracia e para servir ao povo brasileiro. É a este povo que vou pedir o voto e o apoio, para fazermos desta grande nação uma terra de todos.