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A cidade mapeada

O único programa da prefeita Tereza Jucá, de Boa Vista, capital de Roraima, que não teve experiência-piloto antes de ser implantado foi o censo populacional, que começou a ser feito na primeira semana de seu mandato, em janeiro de 2001. O censo é a chave do sistema de gestão participativa prometido em campanha. O software da empresa Diagonal, de São Paulo, tem 27 variáveis.

Cada uma das residências da cidade foi visitada, contados os seus 208.583 habitantes e anotadas as suas condições de vida. Como Boa Vista é uma cidade nova, planejada, cada quadra tem um número e, nela, os lotes também numerados. Assim, é possível se saber com precisão onde cada habitante vive e, depois que respondeu ao questionário do censo, qual a faixa de renda da família, de quantas pessoas é ela composta, se vive mais de uma família em cada residência, quantas pessoas por cômodo, de que material é a casa, se de madeira, plástico ou alvenaria, se tem ou não banheiro e atendimento sanitário, o que faz do lixo doméstico, quantos são os analfabetos, quantas crianças estão fora da escola, quantos são os jovens entre 15 e 24 anos que não têm emprego nem estudam.

O censo levou três meses e foi feito em parceira com os alunos do Cefet do estado, supervisionados pelos 80 funcionários da Secretaria de Gestão Participativa, o núcleo estratégico de coordenação do governo. Cada casa visitada recebia um dos três selos em que o formulário de visita era dividido. Outra parte era pregada na entrada e a terceira recolhida à secretaria, como comprovante. O cruzamento dos dados recolhidos permitiu quantificar os problemas e, portanto, dimensionar as ações destinadas a enfrentá-los. Por exemplo: verificou-se que o número de adolescentes desocupados era de 1.490. A maioria estava organizada em galeras nos seus bairros, que mantinham inimizades com as galeras dos outros bairros, provocando brigas e até mortes cada vez que se encontravam nos espaços públicos, como os do carnaval. Os adolescentes sentiam-se estimulados a integrar a galera de seus bairros para poderem sair de casa sem perigo de serem agredidos. Por outro lado, ficavam como prisioneiros do bairro, de vez que só em grupos podiam atravessar bairros dominados por galeras rivais. Essas constatações levaram a prefeitura a criar o seu primeiro programa piloto: o Crescer, com inicialmente cinco oficinas para adolescentes: marcenaria, serralheria, fabricação de pães, artesanato e teatro. A oficina de teatro fica num bairro central, o Beiral, tradicional ponto de prostituição e de venda de drogas. Além dos trabalhos ligados ao teatro, como a confecção de cenários e roupas, a oficina tem, como as demais atividades destinadas aos jovens, uma pequena escola de informática, cuja freqüência é aberta como prêmio aos melhores alunos. Todos os alunos têm direito a um lanche e a vales-transporte, que a maioria economiza porque, sendo a cidade plana, o principal meio de transporte vicinal é a bicicleta.

– Essa meninada tem uma fome visceral e hereditária. O que se puser na mesa eles devoram – diz o encarregado do projeto Crescer, Moacir Collini, preparador físico nascido no interior de São Paulo e, como os demais participantes da equipe da prefeitura, um apaixonado por Roraima e pelo trabalho que faz.

O projeto Crescer tem atualmente 11 oficinas e recebeu recentemente, num concurso nacional de projetos de boa gestão pública, a parceria da Petrobras. Diz a prefeita Tereza Jucá:

– Temos de ter parcerias porque o que fazemos com os R$ 6 milhões ou R$ 7 milhões de nosso orçamento mensal é quase um milagre. É que, desse dinheiro, apenas 16% são recursos próprios. O resto vem do Fundo de Participação de Estados e Municípios, de repasses do estado e das parcerias. Temos uma com o Unicef, outra com o governo do Japão, uma terceira com a Infraero, mais uma, muito importante, com o Ministério da Saúde, que nos permitiu passar o número das equipes de saúde da família de cinco para 76, cobrindo 75% da população e reduzindo à metade a incidência da malária e em 93% a de dengue. Foi uma parceria com o Ministério da Cultura que nos permitiu comprar os instrumentos de sopro da nossa orquestra infanto-juvenil, que tem metade de seus membros da venezuelana Ciudad Bolívar e um convênio com a cidade italiana Latina. Já pensou a emoção que tivermos, num concerto, com os meninos do Lácio tocando com os nossos, aqui, na porta da Amazônia? Um dia os nossos tocarão lá também.

Deve ser emocionante mesmo. Sábado fiquei emocionado ouvindo o coro infantil, regido pelo maestro Efraim Franco Reyes, cantar as “Bachianas brasileiras” de Villa-Lobos. Jéssica, de 13 anos, é a atrevida soprano que, com todo o brio, cantou o solo com voz poderosa.

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