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“A Cuba que conheci”, por Alberto Goldman

Artigo do vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman (SP)

Brasília – Raul Castro, irmão de Fidel, com 81 anos de idade, foi reeleito presidente de Cuba, com Miguel Diaz, provável sucessor, como vice presidente. A eleição é indireta, feita pela Assembléia Nacional, constituida por 612 membros, eleitos pelos distritos, nos quais os candidatos são apresentados pelo partido único, o PCC, Partido Comunista Cubano. Após um processo de discussão no distrito eles são escolhidos e eleitos. A margem de dissensão, se existe, é muito pequena.

Estive em Cuba em 1980, durante o meu primeiro mandato de deputado federal. Eu e diversos deputados ( Roberto Freire, Audálio Dantas, Ralph Biasi, Fernando Morais além de outros ) rompemos, pela primeira vez desde a instituição da ditadura militar no Brasil, a proibição imposta pelos militares, inclusive com o impedimento inscrito no próprio passaporte, aonde se lia: proibido para Cuba e os países socialistas. Viajamos mesmo com essa limitação, passando pelo Peru e voltando via México. Foi um ato de rebeldia vitorioso pois não houve qualquer repressão ou consequência do nosso ato.

Lá conhecemos o sistema de saúde e o sistema educacional. Ficamos vivamente impressionados pela atenção aos doentes e aos jovens estudantes. Os sistemas nos pareceram de alta qualidade, um respeito excepcional às necessidades do povo. O apoio popular era muito grande, os ministros passeavam conosco pela rua, mãos dadas com seus filhos, sem qualquer preocupação. Fomos inclusive incentivados a caminhar durante a noite, tranquilamente. Segurança absoluta.

No entanto eram visíveis as dificuldades econômicas do país que, na época, recebia um grande apoio da União Soviética, através da compra do açucar cubano produzido em grande escala. Viam-se também as lojas de produtos de melhor qualidade que só podiam servir aos turistas, já que só se podia comprar com dólares. O país era pobre e não poderia fornecer todos os produtos a todos cubanos.

Outra coisa que a mim, particularmente, impressionou muito mal foi, além da forma da escolha dos representantes para a Assembléia Nacional, o fato de Congresso, tão limitado, se reunir apenas no início do ano, durante apenas um pequeno período. Na verdade as grandes decisões políticas e administrativas eram tomadas pela direção do Partido único. A Assembléia Nacional tinha papel secundário, quando muito para referendar decisões já tomadas.

Ou seja, faltava, e ainda falta, o que nós aqui chamamos de Democracia, da qual não abrimos mão por nada, nem em troca de algumas enganosas vantagens de ordem econômica que podem atrair alguns, não a nós que sofremos o período da ditadura em nosso país.

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