O petrolão – esquema de corrupção que se instalou na Petrobras – espalha prejuízos e desilusões pelo país e em Pernambuco não é diferente. Reportagem destaque do caderno de Economia do jornal O Estado de S. Paulo deste domingo (24) mostra, em relatos de empresários pernambucanos e de estados vizinhos, o tombo das denúncias que a Operação Lava Jato revelou.
Leia trecho da reportagem:
A refinaria Abreu e Lima foi arrastada por denúncias de corrupção e sobrepreço.O Atlântico Sul, por sua vez, sem receber, rompeu um contrato bilionário com a Sete Brasil, empresa criada pela Petrobrás para gerenciar compras de sondas. O efeito dominó foi inevitável.
“Quando a Lava Jato parou a Petrobrás, o impacto sobrenossaspequenasemédiasempresas foimuito forte”,dizosecretá- rio de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Tiago Norões. “Ao menos, a Abreu Lima foi construída, o que não vai ocorrer com as demais refinarias:entremortose feridos, só saímos feridos.”
Os ferimentos, porém, foram profundos. As empresas locais eram terceirizadas e até quarteirizadas da Petrobrás. Firmaram contratos com os consórcios formados por grandes construtoras, as mesmas investigadas por corrupção. Alusa, Engevix,Jaraguá são exemplos de empresas que tiveram e causaram problemas em Pernambuco.
Sem receber das construtoras, as locais penaram. Locadoras de automóveis, de aluguéis de guincho, de material de segurança e de limpeza, empresas de alojamento, d eguindastes, de alimentação, pousadas que hospedavam funcionários – tudo o que gravitava nas obras com a bandeira Petrobrás sentiu o tranco.
Como os negócios são pequenos e pulverizados, ninguém conseguiu calcular o rombo. Quem participa de reuniões para desatar o nó criado, porém, estima que o estrago seja grande.
“Não sabemos o total do prejuízo porque nós não conseguimos nos unir para chorar as mágoas juntos, mas se você olhar uma lista com participantes de uma reunião vai ver mais de 200 empresas –há todo um leque de terceirizados e quarteirizados sem receber”, diz Joselito Pereira da Silva, diretor executivo na TBS, empresa de fretamento de ônibus com sede na Paraíba que ainda tenta receber os R$ 5,5 milhões que lhe devem.
“Por tudo que tenho ouvido nesses encontros, a conta deve passar de R$ 500 milhões.” Pereira lamenta que a crise que se vê na Petrobrás tenha arranhado qualidades da empresa antes inquestionáveis, como a gestão: “Enquanto todas as empresas de petróleo do mundo ganhavam dinheiro, a nossa conseguiu perder – o que é isso se não um problema sério de gestão?”, questiona.
No setor de fretamento, além das dí- vidas, as empresas não sabem o que fazer com os ônibus comprados. Uma das maiores, a My Bus, tem cerca deR$ 12 milhões a receber e está com 120 carros parados no pátio por falta de contrato. “Em 10 anos de empresa, nunca vi uma coisa tão triste”, diz Samuel Sebastião da Silva, encarregado de manutenção da My Bus. Todos os dias, eleliga os ônibus e dá umas voltas para o motor não estragar.
Sem garantia – O mais traumático no processo foi ver a potência verde e amarela perder credibilidade. “Produzir para a Petrobrás não é mais garantia de recebimento: essa foi agrande mudança que ninguém esperava. O contrato hoje não vale: o consórcio não recebe dela, não nos paga, nós não pagamos alguém e esse alguém deixa de produzir, demite ou até fecha”, diz Glaidson Camacho coordenador da MKS.
Pesa também o fato de a falta de credibilidade ter abalado também a relação com quem tem o dinheiro: os bancos. “Se você diz que é Petrobrás, coisas muitos simples, como o desconto de fatura, fica difícil”, diz Paulo Rebouças, um dos sócios da MKS.
“Hoje a gente vê fornecedores nossos, de alimentação, gente pequenininha, que têm problemas para conseguir até capital giro.” A MKS, com sede na Bahia, produz sistema de tubulações com ligas sofisticadas. A unidade em Pernambuco atenderia a nova fase de expansão anunciada pela Petrobrás. O planejamento de longo prazo, porém foi para espaço. A MKS não recebeu tudo que lhe deviam e teve R$ 2 milhões de prejuízo no ano passado. Para evitar perdas maiores, aceitou até escambo.