A vida imita a arte, ou a arte imita a vida? Ainda matutando sobre a ausência — pelo segundo ano consecutivo — da indicação de negros pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para o Oscar de 2016, confesso que minhas reflexões para essa questão são desanimadoras.
É um episódio que também merece a reflexão da comunidade negra brasileira, já que se trata da mais influente indústria cinematográfica do mundo, poderosa pelo seu capital simbólico, pela forma como reconstrói ou constrói a realidade, ratifica ou revela valores, universalmente, sem distinção de nacionalidades, credos ou raças.
É sintomático de um racismo velado, em maior ou menor nível de consciência, que a Academia não reconheça em nenhum de todos os atores e diretores negros, mérito ou excelência em seus trabalhos. E não faltaram atores negros em trabalhos memoráveis. Will Smith, por exemplo, em sua atuação em “Um Homem Entre Gigantes”. O inglês Idris Elba, em seu trabalho em “Beasts of No Nation”. Michael B. Jordan ou Tessa Thompson, ambos por suas performances em “Creed”, ou Jason Mitchell, em “Straight Outta Compton”.
Mas nós estamos falando dos Estados Unidos…
Quando estreou um novo trailer de “Star Wars — O despertar da força”, chegou às redes sociais uma tentativa de boicote ao sétimo episódio da saga, dado o protagonismo de um personagem interpretado por um negro, o ator John Boyega. Frases como “Se Star Wars não quer brancos nos seus filmes, não terá nosso dinheiro“, ou “Star Wars terá agora propaganda contra brancos” e “Cada vez mais ativismo anti-brancos nas telas do mundo“, foram publicadas, ranqueadas pela hashtag “#BoycottStarWarsVII”, (em tradução livre, Boicote Star Wars). É, o preconceito por lá não tem “cerimônias”.
Entre os favoritos ao Oscar de 2016, segundo a crítica especializada, os filmes “Spolight”, “O Regresso”, e “Mad Max: Estrada da Fúria”, salta aos olhos a infeliz coincidência de que nenhum deles têm atores negros entre os atores principais. Talvez essa “casualidade” deveria encerrar a nossa angustia, como ponto final — mas afirmativo — do preconceito contra os negros no cinema. Nesse caso, não pela ofensa deferida diretamente contra os afro-americanos, mas na anulação pela invisibilidade e o não reconhecimento aos seus méritos valorativos.
A classe artística afro-americana marcou sua indignação, destacadamente o diretor Spike Lee. Ele seria um dos homenageados da festa, mas já anunciou que não irá a premiação em protesto a falta de diversidade da premiação. O ator Will Smith e sua esposa, Pinkett Smith, também aderiram ao boicote.
Certa vez o escritor inglês, Oscar Wilde, afirmou que “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida…”. É verdade, mas e é aí que mora o grande problema.