Sérgio Guerra cobra do partido reformulação no discurso se quiser vencer em 2014

RIO – O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, cobrou uma presença maior do senador Aécio Neves nos debates que antecipam a sucessão presidencial para 2014. Na opinião do tucano, o político mineiro deve assumir papel mais relevante nas discussões de interesses nacionais e consolidar a liderança que se espera dele para construir uma candidatura competitiva, assim como o partido deve ‘recalibrar’ o discurso se quiser vencer.
O senhor acha que o senador Aécio Neves tem sido tímido para quem se apresenta como pré-candidato nas eleições de 2014?
Acho sim, precisa mostrar mais a cara. E tenho dito isso a ele diariamente. Mas também estou seguro de que quando começar a fazer isso vai progressivamente assumir o seu papel na disputa. O partido e o Brasil precisam que isso aconteça. Precisamos ter um candidato que represente uma opção de poder.
Essa mudança de comportamento se estende ao partido, ao discurso da legenda?
O partido precisa recalibrar o discurso e apontar para uma alternativa em que prevaleça o desejo da sociedade e de novos setores que vêm crescendo e querem se expressar.
E, nesse momento, falta algo para o PSDB consolidar um projeto político?
Precisamos ter um discurso coerente, nacional, que unifique os seus líderes. Falar ao imaginário do povo brasileiro e, principalmente, trabalhar por objetivos construtivos.
Concorda que a oposição está em crise?
Acho que a crise principal que prevalece aí, e que estava nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado, é a crise da base do governo. É um erro tentar identificar isso na oposição. Do ponto de vista parlamentar, a oposição tem tido uma atitude segura, isso pode ser visto em centenas e centenas de votações. Mas com certeza nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais há muita debilidade. A oposição está pequena no Parlamento. Isso não quer dizer que ela esteja no eleitorado. O partido (PSDB) elegeu 700 prefeitos e cresceu nas cidades médias e maiores.
Acredita que o governador Eduardo Campos (PSB-PE) possa vir a assumir esse contraponto ao governo federal?
O governador de Pernambuco diz que apoia Dilma. Não acredito que ela saia candidato, a princípio, apesar de ver nele todas as condições de disputar uma eleição. Hoje ele é uma das poucas lideranças brasileiras e tem tido uma conduta de qualidade também em seu estado. Assim como ele foi um dos líderes mais ativos de seu partido, Aécio foi do PSDB.
Assim como Aécio, o senhor acha que o PSDB tomou a posição correta ao apoiar Pedro Taques (PDT-MT) contra Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidência do Senado? Houve alguma orientação?
Não teve orientação nenhuma. A bancada decidiu pela proporcionalidade e todos nós acatamos. Não conheço bem ele (Pedro Taques), mas não é essa a questão. A advertência (de Aécio) tem fundamento quando se fala em eleger um presidente que represente o Congresso, não uma facção do Congresso. Não importasse quantos votos ele tivesse. Eu não posso discutir o voto secreto. O PSDB não elege e nem derrota candidatos à presidente da Câmara, é a base do governo. É a presidente Dilma
Alguns integrantes de seu partido ficaram incomodados com seus elogios à candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG)…
Não fiz nenhum elogio ao PSB, mas sim ao discurso do Júlio Delgado que foi de muito boa qualidade. No geral eu gostei muito do discurso. Acho que tudo que aponte na direção da recuperação da afirmação do Congresso é positivo. Não apenas do Congresso, mas também do Judiciário, de tudo que aponte na direção da eliminação desse quadro de decadência das instituições, eu sou entusiasmado e vou sempre apoiar.
E para eleição à presidência da Câmara, houve consenso?
A candidatura do Henrique Eduardo Alves fez o discurso adequado e assumiu os compromissos adequados. Não se pode definir o padrão Henrique Eduardo Alves apenas por esse voto de agora, por essa eleição de agora. Tem que ver o que vai acontecer no tempo.
Mas não era importante o PSDB marcar um posição?
O PSDB reflete, como todos os partidos, as suas bancadas. Na Câmara Federal a gente teve o ponto de vista que foi respeitar a proporcionalidade. O que é explicável, afinal somos muito poucos comparado a outros partidos governistas. Eleições parlamentares têm uma natureza muito especial. A questão da proporcionalidade não é compreendida de uma maneira geral. Quem conhece o processo democrático sabe que ela é relevante. Mas a opinião pública não está muito ligado nisso, não. A opinião pública tem é muita desconfiança do Congresso.
A credibilidade do Parlamento está afetada?
O Parlamento está muito diminuído, a falta de respeito pelo Congresso é absoluta, do Poder Executivo de uma maneira especial. Já a sociedade tem uma confiança muito baixa no Congresso. A Câmara que produziu a CPI do Cachoeira não está à altura do Brasil. O Parlamento está diminuído em face do Executivo, na sua relação com o Judiciário, e diminuído na avaliação que a população tem dele. A gente não pode dizer que o desgaste do parlamento se dá por eleger o Henrique Eduardo Alves e o Renan Calheiros. Para mim, ter feito a CPMI do Cachoeira é mais comprometedor. Realizar aquele projeto foi uma fraude.
* Entrevista publicada no O Globo e divulgada pela Agência Globo